18.4.06

O Vinhos e Versos da Semana Santa em 15 estações.


1º Estação - A Condenação

Naquela noite de quinta passada, 13 de abril, véspera da Sexta-feira da Paixão, estávamos mesmos condenados a recitar vinhos e beber versos noite a dentro. A ansiedade por recitais traia qualquer receio e, ainda que estivéssemos passíveis de julgamento, nos motivava a começar o recital.



Conversa descontraida em meio a poesia

2 º Estação - Carregando a Cruz.

Esta foi a oitava edição do recital Vinhos e Versos sob a organização da Casa da Cultura de Irará (CCI). O evento vem acontecendo desde julho de 2003, quando o grupo iraraense tomou posse da CCI. Em 2005 foi iniciado um novo mandato, tendo na presidência o cordelista Kitute de Licinho. Diante da falta de participação e/ou motivação das pessoas convidadas por ele para participar da diretoria, Kitute praticamente organizou todo o recital e a exposição sozinho. “Jogou nas onze”, como ele próprio diz.


Público acompanha o Vinhos e Versos
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3º Estação - Primeira queda.
O costumeiro atraso no começo do recital faz cair o número de espectadores. Há quem chegue e não agüente esperar e também a ida e vinda de pessoas, somente interessadas em beber vinhos que nem se quer olham as obras expostas, arranham o sentido do evento. Nesta edição, em específico, aconteceu o evento do sarigüê , uma cena nada poética. Mas, mesmo diante de todos os imprevistos, há sempre a vontade de continuar, em nome da poesia.


Exposição apresentou obras de Juveraldo
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4º Estação - O recital re-encontra alguns dos seus.
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A sétima edição do Vinhos e Versos foi marcado como a do recital, no qual não se recitou. O evento acontecido em novembro de 2005, não contou com a participação de muitos dos seus tradicionais freqüentadores e recitadores. Este último pôde novamente contar com as presenças de Juci Freitas, Sérgio Ramos¸ Fábio Calixto, e Roberto Martins, entre outros.



Fábio Calixto (esq de azul) foi socorrido em seus versos
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5 º Estação - Roberto ajuda Fábio Calixto a recitar.
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Logo no inicio, o Vinhos e Versos parecia não engrenar. Havia uma terrível lacuna entre a declamação de uma poesia e outra. Roberto então sugeriu a Kitute que ele recitasse um poema de Castro Alves já seu costumeiro no Vinhos e Versos. Em contra partida, logo na seqüência, Roberto recitaria “Versos Íntimos” de Augusto do Anjos, habitual em seu repertório e Fábio Calixto entraria com a repetidissíma “E agora José” de Drummond. Por incrível que pareça, Calixto esqueceu os versos do poema Drummondiano e logo foi socorrido por Roberto num breve improviso. A rima de-repente a qual lembrava que o tempo acabou e Fábio esqueceu, arrancou risos no público presente.


Juci Freitas, a voz feminina da noite
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6 º Estação - A fala de uma “Verônica” faz do vinho o verso.
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Juci Freitas foi a única mulher a recitar naquela noite. Seria pouco dizer que ela “faz versos como quem morre”. Recitando poemas de sua autoria, de outros autores e também, a pedidos, de Cecília Meireles, Juci incorpora a poesia, surpreende a quem ainda não a conhece e deixa sua marca, assim como o rosto de Jesus ficou gravado no pano cedido por Verônica.
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7º Sétima Estação - É preciso superar as quedas.
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A qualquer intervalo que já pareça longo Roberto provoca os presentes a recitarem. Alguns não aceitam o convite e outros resolvem dá a sua contribuição antes mesmo de serem convocados. Joel Gomes então não se faz de rogado e vai ao centro do salão, onde recita um poema de Shakespare. É preciso continuar, seguir a “via crucis”, superando as quedas.



Roberto em leitura dramática de "Triste Partida"
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8 º Oitava Estação - O consolo.
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Nem sempre a poesia serve de consolo, mas poemas que retratam realidades transmitem sentimentos de compaixão e reflexão. De livro na mão, Roberto Martins faz uma leitura do poema “Triste partida”, escrito por Patativa do Assaré e musicado por Luiz Gonzaga. Os versos retratam a dor do retirante nordestino nos difíceis tempos de longas estiagens. É solicitada a participação de todos e como se chorassem por nós e por nossos filhos e irmãos nordestinos, o público vai no refrão: “meu Deus, meu Deus!”, “aí, aí, aí, aí,”.
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9 º Estação - Nova queda, na tentação por reprises.
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Sérgio Ramos traz a figura do caipira ao recitar versos de Wilson Aragão, no qual constata que “morre muitha menas gente se a guerra for de facão”. Ao ver Sérgio representando o tabareu, Kitute não resiste e pede para que seja revivida a parceria de Sérgio e Roberto para recitar o matuto no futebol. Os dois então caíram na tentação e reviveram a parceria já conhecida de outros Vinhos e Versos.
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10 º Estação - “Rasgam-se as vestes” de um visitante, revela-se um poeta.
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Ricardo Castelar estava quieto observando tudo. Derrepente, vai ao meio do salão e recita um poema. Mas esta não é a sua única participação. Ele sabe que “dois e dois... são quatro”. Então Ricardo volta algumas vezes e surpreende o público até mesmo com versos de Olavo Bilac, o príncipe do parnasianismo.
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Tone, Joel e Tarcísio, frequentando o recital

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11º Estação - Pregados no Vinhos e Versos.
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Alguns dos freqüentadores que estão sempre presentes ao recital, acompanham com atenção e alguns deles até recitam. Os casais, Tone e Taise; Tarcísio e Gilda, marcaram presença mais uma vez. Nanuse não perdeu mais uma oportunidade de ver “seu kitutinho recitando”. Edma acompanhava seu esposo, Sérgio. E Rejane se fez presente mais uma vez. Entre os “pregadores” do V & V, Tone foi quem foi ao centro e, com livro na mão, recitou versos de Jotacê.
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Mauricio que depois atacaria de "Romeu e Julieta"
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12 º Estação - Acaba o vinho, mas o recital não morre.
Por volta de meia noite e meia ou uma da manhã os sete garrafões (35 litros) de vinho secaram. Enganou-se quem pensou que o recital acabaria com o fim do vinho. Fosse a base de coca-cola, ou de bico seco mesmo, a rapaziada continuou a recitar. Algumas pessoas já tinham ido embora, outras estavam apenas chegando. Sabão integrou a recitação de um rap de Gabriel O Pensador (Retrato de um Playboy) e Maurício Pereira, até subiu na caixa de som para dramatizar versos do romance Romeu e Julieta de Shakespeare..
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13 º Estação - O recital “desce” da cena.
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Com o avançar da noite, o número de presentes já era pequeno e o recital terminou. Final do Versos, volta o som ambiente. No aparelho, toca o mesmo CD que se repetiu exaustivamente antes do recital começar. Entretanto agora, a voz de Nei Matogrosso parecia narrar a proximidade do horário: “são duas horas da madrugada/ assim/ assim...”. E assim, assado todos se despediam do Vinhos e Versos.
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14º Estação - A luta contra o sepulcro.
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A cada Vinhos e Versos o recital se renova. É como se fosse uma luta constante contra a morte de prática e espaços para a poesia na cidade. Uma prova disto é que a cada edição o recital atrai novas pessoas, que por um motivo ou por outro, ainda não o conhecia. Importante frisar que o Vinhos e Versos e toda a sua conjuntura incentivaram algumas pessoas desenterrar suas idéias e talentos. Prova disto é o próprio Kitute de Licinho que graças ao movimente empreendido despertou seu talento de cordelista, virou editorialista em cordel, e pôde criar obras memoráveis como “O Namoro da Biba na Festa de Fevereiro”. Livreto que, quando recitado no Vinhos e Versos prende a atenção do público que fica num silêncio sepulcral ouvindo cada lance da estoria.
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Dra Surama (esq) e Gina motivadas com o V & V
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15 º Estação - A ressurreição.
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Dra. Surama Vilas Boas ficou empolgada com o V & V. Na ausência da Diretora de Cultura do Município, a Chefe de Gabinete falava como se fosse a titular da pasta. Fazia planos e dava idéias para melhorar a estrutura dos recitais. Ao tempo em que planejava, ressuscitava lembranças do seu tempo de juventude “transviada” em Irará. Aqueles deviam ser jovens que “acreditavam nas flores vencendo o canhão”. Infelizmente, hoje o pensamento critico parece não mais habitar as cabeças dos iraraenses juvenis. Idéias libertárias que poderiam começar a ser ressuscitadas caso houvesse uma política séria para a área da cultura. Como diria Raul Seixas: “Espero em Deus, por que ele é brasileiro, pra trazer o progresso que eu não vejo aqui!”.
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*Fotos por Kitute de Licinho (jogou nas 12).
**Cartaz de Marcílio Cerqueira.

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