25.7.08

Bráulio Pinto

Convidei a dupla de repentistas Antônio Queiroz e Bráulio Pinto para gravar um comercial de rádio. Eles toparam. Na viagem até Feira de Santana, falei com o Bráulio que soube, através de Ricardo Reira, da vontade de um jornalista de Salvador em fazer uma entrevista com ele.
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- Parece que ele (o jornalista) achou o seu nome e sobrenome interessantes.
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Após fazer esse comentário à Bráulio, Queiroz emendou: “É assim, duas vezes que é pra reforçar”.
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Entre risos e conversas, anotei o telefone do Bráulio e passei para Iuri Rubim.
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Clique no titulo abaixo e confira o resultado.
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14.7.08

Triste escolha

A moça chegou ao frigorífico. Diante do balcão, estava pronta para fazer seu pedido, quando percebeu um aparelho de TV ligado ao fundo. Na tela, um destes programas sobre namoro.

Tratava-se de uma espécie de revival do Namoro na TV. O formato parecia mesmo inspirado naquele programa do Silvio Santos, muito exibido na década de oitenta. Do seu programa de namoro, Silvio parece ter consolidado a celebre dúvida: “namoro ou amizade?”. Como se um, só pudesse acontecer independente do outro.

Tolice! Amizade pode até existir sem namoro, mas o contrário... Acho difícil. Daí levando à lona, a desculpa mais esfarrapada e antiga da paróquia. “Não rola, porque a gente é amigo...” Argh !!! Fala sério. E conta outra.

O apresentador então seguia entrevistando as meninas.

- Que tipo de rapaz você quer encontrar? - Questionava o moço da TV.

- Ah! Que ele seja carinhoso, gentil, atencioso, engraçado, amoroso, sensível, inteligente... bla, bla, bla; bla, bla, bla...

Vieram outras pretendentes e a resposta era, a cada vez, repetida. O perfil do rapaz, carinhoso, gentil, atencioso... etc, etc, era repetido exaustivamente.

Parada de frente ao balcão, a cliente do açougue refletia a escolha das moças da TV. Daí ela lembrava que conhecia algumas pessoas, tanto moças quanto rapazes, cheia daquelas características ali procuradas na TV, como se fosse ouro em pó. Não achava difícil encontrar pessoas naquele perfil. Seria necessário ir à TV procurar isso? Seria falsa pretensão?

Refletiu então sobre a sociedade midiatica e a necessidade que muitos têm dos seus 15 segundo de fama. “Será que era isso?”. “Será que todas aquelas moças foram à TV em busca de uma famosidade instantânea?”.

Continuou pensando. “Talvez”. É, realmente, nunca se sabe. A velha e famosa frase já diz: “Sem tesão não há solução”.

E o que dá motivação a esse “T”?

Formas, corpos. Quem sabe qualquer padrão Apolo ou Vênus ditado pela mídia, pela moda ou por qualquer outro imperialismo cultural. Se não, pode ser questão de “gosto”. E aí, se discute. Vale experiências, convivências, ou até, muitos e muitos tratados filosóficos, para, à luz de Montesquieu, descobrir que há um “não sei que” por traz de toda essa motivação.

A moça diante do balcão perdida em seus pensamentos é interrompida.

- Senhorita, senhorita, senhorita! – O açougueiro chama a atenção da cliente – O que a senhora deseja mesmo?

- Músculos! – responde ela sem pestanejar – de preferência peito e coxa – emenda (talvez também estivesse querendo dizer: bíceps).

- Ah! Isso aqui é fácil – responde o açougueiro em tom de comodidade – eu só não tenho o que essas meninas aí da televisão tão querendo. São coisas que nem dá pra vender.

Talvez o açougueiro tivesse razão. E o triste é que, mesmo que encontrado em alguma medida, parece que as qualidades apontadas nunca pesam na balança.

A moça manteve seu pedido: “Músculos”. Deve ser por isso que as “academias” andam super lotadas.

12.7.08

“Nova” dúvida - Adendo ao texto anterior

Rapaz! No texto anterior havia muitas dúvidas. De tal modo, naquele ínterim, acabei esquecendo uma. Esta já figurava em minha mente, quando da auto-sugestão da pauta acerca do “novo mercado”. Por incrível que pareça (e não foi por uso de queijo ou de outras coisas), fugiu da memória no decorrer da redação.

A questão é a seguinte:

Diante do contexto apresentado no texto anterior, da variação dada pela publicidade governista para a palavra “novo” e dos significados apresentados pelo amigo Aurélio, temos uma certeza:

Em 2009 Irará terá um NOVO prefeito.

A dúvida é:

Será um prefeito “novo”, inédito, alguém que nunca foi prefeito. Ou será um prefeito “novo”, alguém que já foi ou é prefeito, mas estará com “novos” métodos, estando assim, digamos... “totalmente reformado”?

- E se reforma gente meu tio?

Essas crianças... Sei não viu!

- Depende, meu filho. Depende.

10.7.08

Mercado novo de novo

O carro de som passou anunciando. A chamada pública era para a cerimônia de “inauguração do novo Mercado Municipal”. Nossa! Surpresa. Perdi-me em indagações.

Talvez, nos últimos tempos e diante de tantos problemas, eu tenha andado tão afastado da vida pública de Irará, que nem se quer me dei conta da construção de um “novo Mercado Municipal”. Porém, se havia um novo mercado na cidade, era preciso conhecer essa recente edificação. Daí sai à procura.

Indaguei dois ou três populares. Perguntei-lhes se eles sabiam onde foi construída a obra. Nenhum deles soube me dizer. Não era possível. Será que eu tinha ouvido direito?

O carro de propaganda da Prefeitura passou outra vez e tirou a minha dúvida. “Inauguração do novo Mercado Municipal”, dizia o anúncio.

Voltei a procurar. Quando de passagem pela Praça da Purificação, um feliz transeunte me apontou: “o Mercado é aquele ali”. Aí quase entro em parafuso. Como novo mercado? Aquele não é o velho Mercado Municipal de Irará?

Então eu olhei. Olhei novamente. Tentava ver outra vez. E só enxergava á minha frente aquela mesma construção iniciada por Elpidio Nogueira, continuada por Oscar Santana e concluída por Elísio Santana, entre as décadas de 20 e 30 do século XX.

Resolvi chegar mais perto. Na frente do prédio do Mercado Municipal percebi um letreiro escrito em pedra de mármore. A placa inaugurativa confirmava a minha suspeita. Aquele era mesmo o mercado idealizado pelo velho Sr. Elpidio, pai de Aristeu Nogueira.

Eu estava então diante de uma obra, que neste ano de 2008, completa setenta e seis anos de inaugurada. E porque estavam falando em novo mercado? Por que anunciavam como inauguração? Não seria mais correto e prudente falar em reforma e re-inauguração?

Reforma total inédita

No livro “A Construção – Histórias de Mestre Januário”, Emerson Nogueira Pinho (Mersinho), nos conta um pouco da história do septuagenário mercado. De acordo com Emerson, a construção do imponente centro comercial, referência da economia iraraense, se deu ao longo de 11 anos, com algumas dificuldades.

A obra foi iniciada em 1921. Já em 1924, a sua primeira cobertura, montada sobre dois pilares, veio abaixo. O projeto foi refeito. Reconstruíram o teto novamente, agora sustentado com quatro pilares (Pinho: 2008).

Para garantir a água necessária à obra, foi cavado um poço artesiano dentro do mercado. Em 1932, Irará esteve em festa com a inauguração do Mercado (idem).

Ao longo dos anos, o Mercado foi tendo mudanças de cores e alterações em seu estado de conservação. Às vezes, quase destruído. Às vezes, um pouco mais preservado.

Na década de 1980 as paredes do velho Mercado Municipal eram alvos dos políticos em tempos de eleições, através das porcas práticas de sujar a cidade colando cartazes em toda parte. Banheiros sujos e estrutura precária, refletida no estado das velhas barracas de madeiras que lá dentro existia, completavam a cena.

Na década seguinte, no governo do ex-prefeito Antônio Campos, foi anunciado uma reforma para o Mercado. O evento de re-inauguração, com direito a placa e todo o cerimonial, contou até com a presença do ex-governador Paulo Souto.

Pompas para uma reforma nada grandiosa. A obra praticamente se limitou a uma nova pintura (naquele tom azul forte – então conhecido como “azul Tonho Campo”), ajustes no telhado e construção de boxes, para substituir as antigas barracas.

Em 2005, já no governo do atual Prefeito Juscelino Souza, carente de uma reforma pra valer, o velho mercado não resistiu e viu parte do seu velho telhado desabar, diante das chuvas do inverno que se aproxima.

Era um momento difícil para a gestão Juscelino. Como se já não bastasse o rompimento com aliados políticos da sua eleição (2004), ainda vinha abaixo o telhado do Mercado Municipal. Justamente, a edificação escolhida pelo Prefeito para figurar como marca de seu governo.

Mesmo diante das dificuldades, o Prefeito Juscelino Souza mostrou agilidade e eficiência. Conseguiu junto ao então governador Paulo Souto, seu aliado político, a garantia dos recursos para a reforma da obra.

Durante o segundo semestre de 2005 e todo o ano de 2006, a obra foi se arrastando. A condução era a “passos de tartaruga”, como diz o ditado popular.

A reviravolta política acontecida na Bahia no final de 2006, quando da vitória eleitoral do Governador Jaques Wagner (PT), provocou certa tensão acerca da reforma do Mercado. Será que o Governo Wagner garantiria apoio para uma obra a ser realizada por um Prefeito ligado ao grupo político adversário?

Numa atitude republicana, em rota completamente contrária à prática do carlismo, o novo Governo do Estado garantiu a continuidade da obra. E a reparação do Mercado de Irará teve seqüência.

Desta vez uma reforma pra valer. E pelo que me consta, uma reforma inédita, já que nunca li ou ouvir falar que o Mercado Municipal tivesse recebido uma re-estruturação completa como a efetuada agora.

Todo o telhado foi trocado. Foi construído um mezanino no interior do Mercado. Aumentou o número de boxs, tendo melhor estrutura. Novas instalações elétricas e hidráulicas. Banheiros novos. Nova pintura, para um projeto arquitetônico adequado.

Mudanças no passeio. Instalações de luminárias de época. Construção de ala com boxes no beco atrás do Mercado. E pintura de painéis, com temas da cultura e agricultura local no interior do prédio. Dentre outras possíveis inovações.

Toda esta obra de re-qualificação, certamente, garantem ter sido esta a maior reforma que o mercado já recebeu em sua história.

No entanto, mesmo de “roupa nova”, o Mercado é o mesmo e velho de sempre. A localização também. Igualmente com as paredes ao redor e algumas portas de ferro.

Diante desta realidade e da pirotécnica “inauguração”, coincidentemente ou não, às vésperas do inicio de uma campanha eleitoral, na qual o prefeito Juscelino Souza é candidato à reeleição, as dúvidas permanecem.

Poderíamos falar em “Novo Mercado”?

Seria correto afirmar que houve uma “inauguração” ao invés de um re-inauguração?


Estratégias de comunicação e duvidas semióticas

“Lavou tá novo”. Ao menos é o que diz o ditado.

Será que poderíamos considerar “novo” o Mercado que além de lavado, foi reformado, re-estruturado, etc e tal?

As indagações continuavam.

A tática de propaganda nazista, diz que uma mentira repetida várias vezes, se torna uma verdade. E eu ouvi muito que estavam “inaugurando” um “novo mercado”.

E lá veio novas indagações.

Comecei então a pensar o sentido da palavra “novo”. Será que novo necessariamente precisa ser inédito?

Pensei então em várias possibilidades de uso para a palavra “novo” e como ela poderia transitar através dos seus signos, significados, significantes e significações possíveis.

Todavia, por hora, não necessitava de explicações para me confundir, como pretende Tom Zé. Então tentei deixar de lado qualquer tentativa de lembrança das aulas de semiótica ou leitura dos textos de Umberto Eco. Daí, resolvi, mais uma vez, recorrer ao pai dos burros, o Sr. Aurélio.

No velho dicionário de bolso, procurei pela palavra: “novo”. O livrinho informa que “novo” é um adjetivo e trás sete possibilidades do que a palavra possa dizer.

Bingo!

Parece que encontrei o modo como poderíamos esclarecer se a reforma total do Mercado lhe valeria o título de “novo Mercado”.

Era só comparar a situação do Mercado de Irará a cada uma das possibilidades apresentadas pelo dicionário para a palavra “novo”.

Então fiz assim:

“1 - Que tem pouco tempo de existência”.

Um mercado com mais de 70 anos, não tem pouco tempo de existência. Nesse caso, com certeza, não há um “novo Mercado”.

“2 – Moço, jovem”.

Fatalmente esse termo deve ser mais usado para pessoas. “Fulano é novo”. Ou seja é jovem, moço. No caso do mercado de Irará, acaso fosse uma pessoa, mesmo reformado, ele já não seria mais nenhum “adolescente”.

“3 – Que é visto pela primeira vez”.

Nana, nina, não. Eu mesmo já tinha visto aquele mercado centenas e centenas de vezes. Imagine os mais velhos?

“4 – Que acaba de ser feito ou adquirido”

Se foi construído nas décadas de 20 e 30 do século passado, pelo próprio município, não foi, de modo algum, feito ou adquirido agora.

“5 – Que tem pouco uso”.

Decididamente não. O mercado já foi e vai ser muito usado.

“6 – Original”

Uma reforma, por mais completa que seja, não tira a antiga originalidade do velho Mercado. O mercado já existia, ali mesmo. Portanto, nada de original.

“7 – Estranho, desconhecido”

Em Irará todo mundo conhece o Mercado, fica bem no centro da cidade e não há nada de estranho com ele.

Ufa! Indagações sobre o “novo” resolvidas. E, consequentemente, sobre a “inauguração” também. Porque se não é novo, não pode ser, de maneira alguma, “inaugurado”. Quando muito, re-inaugurado.

“Eié! Eié! Eié! Eié! Eié! Atenção Brasil...”

Na noite de São João, ouvi o locutor da festa de Irará, após muitas delongas e lantejoulas ao Prefeito, dizer que:

- Não é reforma não gente. É o Novo Mercado de Irará.

Na mesma hora, um amigo ao meu lado apontou para o alto do mercado, onde tem o ano de inauguração: 1932.

É difícil crer que algo datado de 1932 é novo. Mas, o locutor falou com tanta certeza, que eu não estranharia se ele tirasse do bolso uma Escritura Particular para atestar que o Mercado era uma obra nova.

Da minha parte, só me coube imaginar que todas as propagandas e falatórios faziam parte de uma estratégia de comunicação. Desta tática era proveniente a vontade incessante e programada de chamar o Mercado de “novo mercado”, assim como a quadra esportiva da Praça Raul Cruz (Popular Praça do Lazer), também totalmente reformada, de “Nova Quadra”.

Ao meu ver, uma estratégia equivocada. Uma falta de responsabilidade com a comunicação social. Uma vontade implícita de, ao invés de usar os veículos de comunicação para o esclarecimento, usá-los para uma tosca manipulação de idéias.

Será que as pessoas não vão perceber que ali não se tratava de um “Novo Mercado”?

Tudo bem. Méritos e parabéns. Pela obra, pela reforma total, pelo esforço. Repúdio as tentativas de manipulação e distorção da informação.

Não dá para desprezar a história e as pessoas do passado, chamando de “novo” algo que já existia. Não dá para falar de “Novo Mercado”. Quando muito, poder-se-ia dizer que o Mercado está com aspecto novo outra vez. Está novo de novo. Se é que isso é possível.