21.1.09

Marcas pra Irará


Adesivo que virou marca do Irará

Corria o ano de 1998. Numa dada noite, Marcílio chegou à minha casa decido a colocar em prática uma idéia, sobre a qual já havíamos discutido algumas vezes.

Irará precisava de uma marca; um símbolo; um adesivo de carro. Qualquer coisa destas, que fosse exclusiva e representante da cidade.

Há algum tempo atrás, o Banco do Brasil havia produzido adesivos com a frase “amo irará”. A letra “o” do “amo” era o logo do Banco.

Tratava-se de uma campanha publicitária daquela Instituição Financeira e, portanto, não exclusiva para mostrar amor a Irará, já que toda a cidade tinha o seu ”amo... “.

Topei o desafio. Sentamos em frente ao computador e começamos. Na época, eu fazia curso de corel draw em Feira de Santana e Marcílio andava meio preocupado.

Ele estava um pouco temeroso acerca de um possível futuro sombrio para as pessoas que, como ele, sabia desenhar no lápis e papel. Imaginou que com ferramentas como o Corel, todos – até mesmo os mais leigos do tipo eu – seriam capazes de começar a trabalhar com design gráfico.

Lembro-me de ter-lhe contestado. O computador e os seus softwares eram apenas ferramentas. Se serviam a quem não tinha o talento na área, imagine a quem já tinha...

O tempo me deu razão. Hoje, enquanto Marcilio manda ver em vários programas gráficos, muitos deles mais avançados do que o Corel, eu se quer tenho praticado ou lembro direito daquele bê-a-ba do curso de Feira.

Mas voltemos ao caso da marca. Tinha de nascer uma marca para Irará. Algo que a pessoas usassem como símbolo iraraense.

Marcilio lembrou-se da marca da gestão de Antônio Imbassahy na Prefeitura de Salvador. Era a torre de uma Igreja, edificação marcante na capital baiana. Começamos a lembrar de prédios do Irará.

Foi então decidido colocar marcos como o Obelisco, o Coreto, o Mercado, o Sobrado dos Nogueira, entre outros. Discutimos mais. “Irará - nascido da luz do sol”. “A Serra de Irará”. Entre idas e vindas, a imagem foi saindo.


Sugerir jogar um efeito “powerclip” e lá estava. Era a Serra, com sol nascente atrás, por dentro das letras do nome “Irará”. Na base do desenho, os monumentos iraraenses.

Como sempre flertando com a verossimilhança das coisas, recordo-me de ter lembrado que o sol poderia até se pôr, atrás da Serra, mas nunca nascer lá.

Marcilio, valendo-se da licença poética, típica dos artistas, mencionou que não haveria problema. Aquele poderia ser também um sol nascente.

Desenho ficando pronto, ainda faltava um slogan. Pensamos, sugerimos, discutimos. De repente, lasquei um: “Irará lugar melhor não há”. Pronto. Estava encaixado a frase.

Depois de um tempo, percebi que a dita cuja, já era uma frase usada no “Faroeste Caboclo” de Renato Russo, quando diz que o boiadeiro está “indo pra Brasília, neste país ‘lugar melhor não há’”.

Como diz a lei da física: “nada se cria, tudo se transforma”. Se cópia ou se adapta, a depender da ocasião e do gosto do freguês.

Imagem pronta, nós precisávamos conseguir um meio para a confecção dos adesivos, já que não tínhamos o dinheiro (situação que não é muito diferente hoje).




Rascunho do desenho "Irará lugar melhor não há"



Mecenas e campanha de arrecadação

Trocamos idéias com Zé Nogueira. Na época, Zé estava à frente da ACAAPI – Associação de Artesanato e Arte Popular de Irará. Associação ganhara apoio da Prefeitura e do Instituto Mauá para criar a Casa do Artesão, montada no antigo Quartel da cidade.

Como é sina em quase todas as instituições culturais, ainda com apoio da Prefeitura, a entidade carecia de recursos. Daí surgiu a idéia de unirmos o útil ao agradável. Deveríamos produzir os adesivos, vendê-los a um custo convidativo e repassar a renda para a ACAAPI.

Zé olhou o desenho e sugeriu que acrescentássemos o Prédio do Quartel entre os monumentos que apareciam no desenho. Acatamos a sugestão, afinal ali era a Casa do Artesão, gerida pela entidade para a qual faríamos a campanha.

Curioso foi perceber, tempos depois, que era justamente este prédio o marco que a maioria das pessoas não reconhecia do que se tratava.

Desenhos e metas definidas era preciso ter um mecenas para investir na idéia. Nem Zé, nem Marcílio e nem eu, tínhamos um “puto” no bolso.

Daí então Zé Nogueira buscou apoio. Ele fez o pedido junto à Professora Miriam, então presidente da Câmara de Vereadores e também admiradora da cultura do município.

O apoio foi dado. A Professora Miriam emprestaria um cheque para custear a confecção dos adesivos. Após a arrecadação da campanha pagaríamos o valor à Professora.

Assim foi feito. Adesivos prontos, campanha na rua. Mostrávamos os adesivos às pessoas. Todos admiravam o desenho e a idéia.

Alguns se empolgavam: “eu quero um, dois... ou melhor, outro e mais outro para levar pra fulano e sicrano”.

Só que quando falávamos que se tratava de uma campanha e que a pessoa ganharia um adesivo se contribuísse com R$ 1,00 (um real) para a ACCAPI, poucos levavam o “Irará lugar melhor não há” para casa.

Usei da palavra durante um “voz e violão” na Caverna – Bar Montado pelo Bloco Evolução em Frente ao Banco do Brasil. Expliquei a campanha, tá tá tá... e quase ninguém contribuiu. Quer dizer, acho que ninguém.

Mudamos de tática. Se no varejo não dava certo, pensamos no atacado. Deveríamos então sugerir que um comerciante ajudasse com um valor maior à ACAAPI e ficassem com um bom número de adesivos para presentear seus clientes.

Marcilio e Zé Nogueira foram à campo. Teve comerciante que comprou dois. Outro adquiriu quatro ou cinco. A mesma proposta foi feita a um gerente de Banco. Este ficou apenas com um e colou na vidraça da Agência Bancária.

No frigir dos ovos, a campanha não deslanchou. Nem sequer conseguimos cobrir o cheque da professora Miriam, que junto com suas filhas também atuavam na campanha.

Assim, os adesivos que sobraram foram sendo distribuídos, aos poucos, a um ou outro amigo ia pedindo, até que acabaram.

Sobre esta falta de “disposição” das pessoas em ajudar a ACAAPI, acabei escrevendo um texto, publicado na edição de número 2 do Evolução Zine (Panfleto informativo do Bloco tendo a redação e edição sob minha responsabilidade, enquanto Marcílio fazia cuidava da diagramação).

Com o título “Cultura de Irará é rica, mas vive pedindo esmolas”, abordei a questão de que todos falam que Irará é rico culturalmente, etc e tal, mas essa cultura vive sempre na penúria. No texto, argumentei a campanha da ACAAPI e seu fracasso.

Marcas do trabalho de uma dupla

Em contraste com o insucesso da campanha financeira, o adesivo pegou no Irará. A frase foi dita e repetida em palanques de festa.

Pessoas começaram a copiar o desenho para sites de internet e outros trabalhos. A imagem do adesivo inspirou painéis escolares. A Prefeitura fez dela ilustração para a camisa na época da Lavagem.

As pessoas pediam muito para ter nos seus carros. O adesivo virou identificador para aqueles que queriam viajar em transporte alternativo e não tinham certeza sobre a naturalidade iraraense do motorista.

Virou mesmo marca do Irará e até hoje, vez por outra, se ver algum por aí.

Muitos destinaram a autoria do trabalho ao Mestre Zé Nogueira. Afinal, Zé que é o artista e o mais conhecido entre nós. Marcilio e eu, não tínhamos maiores experiências no cenário cultural do Irará.

Dali em diante é que começamos a aparecer mais. Fizemos trabalhos como R&MP (Roberto e Marcilio Publicidade). Elaboramos o projeto gráfico para o CD da Banda Evolução, entre outros.

Atuamos no Bloco Evolução. Assumimos a Casa da Cultura. Criamos, junto com Rodrigo Martins (Capita), a Charanga Comunicação. Os desenhos de Marcilio e os meus textos também estiverem no Jeguerê e no Capita Folia. E atuamos também em campanhas eleitorais.

Outro dia, quando estava lendo “Na Toca dos Leões”, livro no qual Fernando Morais conta a história de Washington Olivetto e da W/Brasil, percebi o quanto é importante no meio publicitário o entrosamento da dupla “Diretor de Arte e Redator”. Foi legal perceber que nós, de alguma maneira, já trabalhávamos assim.

Folderes, panfletos, internet... enfim, varias mídias. Isso virou quase rotina. O que estava sendo incomum era sentarmos juntos para elaborar uma marca. Oportunidade que tivemos agora no final deste ano.

Diante do pedido do então Prefeito Eleito, Derivaldo Pinto, de criarmos um slogan e marca para o seu governo, indo no sentido do Governo Federal, “Brasil: um país de todos”, nos vimos, dez anos depois, outra vez na frente do computador para criar uma marca para Irará.

Pensamos no slogan que o Publicitário Zé Armando, a serviço da Link Propaganda, usou para a campanha de Nelson Pelegrino: “Salvador pra toda gente”. Fomos ao dicionário e confirmamos a aplicação da frase.

Aos poucos o desenho foi saindo. Idéia daqui. Idéia dali. Troca cor. Muda a localização do ícone... E lá estávamos.

O resultado final ficou satisfatório. Irará, “nascido da luz do sol”, tem o sol como ícone do seu governo. Além disso, vale a máxima popular que lembra que “o sol nasce pra todos”, sem distinção de raça, credo, cor... Ao meu ver, ilustração adequada a um governo que se pretende “pra toda gente”.

O tom colorido da marca também remete à diversidade presente na mesma. Pessoas Diversas, pensamento diversos na elaboração de uma política em prol do município. Ainda tem a mescla entre letras maiúsculas e minúsculas. Grandes e pequenos também representados.

Agora fica o pensamento, a torcida, a fé e a nossa parcela de responsabilidade para com este governo que se inicia.

Em se conseguindo ser mesmo um governo justo “pra toda gente” em todas as suas estruturas, quem sabe, não teremos sinceridade e orgulho recorrente pra dizermos: “Irará lugar melhor não há”.

Marca do novo governo municipal


4 comentários:

Bruno Adelmo Mendes disse...

Sou suspeito para falar sobre o trabalho dessa dupla, mas como sempre a marca de Irará ficou excelente!!
(bons tempos do corel, faixas e A3 do Jeguerê em Printshop 4 e PrintArtist rsrs)

Unknown disse...

Conheço de perto o trabalho desses "meninos" e sei do potencial deles. Fico feliz de saber que o Departamento de Cultura hoje, está nas mãos dessa turma. Sempre digo que, do que seria os traços "marcilianos" sem o textos "robertinianos" (rsrsrs)
Sou fã de vocês dois, meus amigos !!!!
Luciano Campos

Sérgio Cabelera disse...

Rodésio, é isso aí

Ao relembrarmos essas passagens os arquivos são vasculhados e chegamos mais a fundo...

Só pra lembrar, o adesivo da campanha do "Irará: Lugar melhor não há." guarda o registro de monumento já extinto, durante o mesmo governo em que surgiu, a CAIXA D'ÁGUA.

Um abraço.
Cabelera

Prof. César Pinheiro disse...

Esta dupla de amigos, irmãos que são e se tratam assim, merecem todo respeito por nós Iraraense ou não. A CULTURA DE IRARÁ, acaba de perder uma pessoa competente, ativa e cheio de idéias maravilhosas no Governo "Pra Toda Gente". Roberto Martins sentiremos sua falta no Departamento de Cultura com suas idéias e seus ideais para construção de uma CULTURA mais rica e sólida em nosso município. Fica com Deus e que esta dupla não se desfaça jamais.