22.11.11

Em resposta a um comentário no texto anterior

COMENTÁRIO 


olá. 
falar assim é fácil, mas sou músico também e acho injusto essa colocação. cada um tem buscar o seu melhor. pergunto a você se você trabalharia de forma voluntaria sem ganhar nada? porque querer que os músicos não var ganhar a vida em bandas que pagam pelo bom trabalho executado por eles é meio injusto. quem é que iria pagar o cachê deles se montassem um grupo de jazz em irará? como iam se sustentar? quem pagaria um cachê a Gigi, compatível ao que Ivete paga? você? acredito que não se candidataria... acredito que musica pra eles é profissão e não hobby, diversão. quem trabalha de graça é relógio!! 


MINHA REPOSTA: 


Olá! 

“Fácil” é a covardia de falar por trás do anonimato. Porque é “injusto” que eu me exponha, mostre a minha cara para dizer minhas opiniões, enquanto você fica escondido. 

Por tanto, diante da sua falta de “coragem” para assinar um simples comentário em um blog, dá para perceber que “falar” através de um texto opinativo como fiz não é nada “fácil”.    

Ainda mais difícil, e nem um pouquinho indicado, é responder a um anônimo. 

No entanto, diante das questões levantadas, vou viver esta situação esdrúxula de “conversar” com um fantasma. Isto apenas, pelo fato de acreditar na necessidade de fazer algumas ponderações. Assim tentarei minimizar dúvidas ainda possíveis de pairar sobre o texto do post anterior. 

Na minha avaliação o que houve foi incompreensão da leitura de sua parte. 

Em momento algum pontuei no texto que os músicos não deveriam ganhar a vida com a música. Muito menos disse em qualquer citação que deveriam abandonar as bandas de axé ou qualquer outra de música fácil, onde ganham seu sustento. Nem tão pouco disse que eles só deveriam tocar jazz ou qualquer outro gênero de menor apelo mercadológico.   

Quanto às questões, seguem as respostas: 

“pergunto a você se você trabalharia de forma voluntaria sem ganhar nada?”

“Trabalharia” não. O verbo está no tempo errado. Já trabalhei e trabalho. Quer exemplo? Para não me alongar muito, vou citar dois de muitos outros movimentos aos quais já participei. 

Na Casa da Cultura de Irará (CCI) pude, junto com outros companheiros, desenvolver um trabalho na área de Produção Cultural no município. Foi no período entre 2003 e 2009. 

Ainda hoje vemos alguns frutos daquele trabalho reverberar. E foi um trabalho totalmente voluntário, ou melhor, muitas vezes botávamos grana do nosso bolso para pagar algumas contas. 

Há mais de um ano estou mantendo em atividade o Portal Iraraense, um site de cultura e notícias de Irará e região. De acordo depoimentos de vários usuários, o site vem prestando um serviço relevante para a população iraraense. E, se quer saber, como não tenho patrocinador, não ganho um centavo sequer para manter este veículo em funcionamento. Muito pelo contrário, gasto. 

Tenho a proposta de começar a trabalhar o site profissionalmente para poder oferecer um serviço ainda melhor à comunidade iraraense. Mas isto é outra história.  

E como fiz e faço estes trabalhos voluntários? Nas horas vagas é claro. Acredito que em algum momento da vida, todo mundo tem ou deveria ter tido um tempinho para o social. E também não acredito que as pessoas vivam 100% do seu tempo só com atividade remuneradas.   

Como exemplo, na época em que fui presidente da Casa da Cultura de Irará eu trabalhava e estudava em Salvador e isto não foi empecilho para que pudéssemos executar aquele trabalho. Pode perguntar para quem acompanhou.

E observe: Todos os dois trabalhos citados foram desenvolvidos nas áreas as quais tenho formação acadêmica/profissional. Produção Cultural e Jornalismo. 

Eu poderia alegar que, como profissional da área, só faria os trabalhos em questão se recebesse “cachê” para os mesmos. No entanto, apesar de não receber remuneração alguma desenvolvi as atividades citadas, entre outras.  

"Quem é que iria pagar o cachê deles se montassem um grupo de jazz em irará? como iam se sustentar?"

Talvez, se o grupo depois de montado conseguisse agradar, poderia aparecer alguém. Talvez o próprio poder público, caso fosse implementada uma política cultural voltada para a formação de platéia em música, poderia custear as apresentações. E as apresentações possivelmente poderiam criar público e formar mercado. 

Ou, para se aproximar mais da realidade, talvez ninguém pagaria mesmo o cachê deles. 

Entretanto, isto aponta para outra questão a qual eu deixei implícita no texto. Eles só tocariam jazz ou qual outra tipo de música de qualidade se fosse pelo cachê? Será que eles não teriam nenhum tempo livre para tal? Será que na relação deles com a música não tem qualquer “pedacinho” de amor à boa música? Seriam mercenários do tipo “só toco quando tem cachê”? Acredito que não. 

Para ilustrar as questões acima vou falar de uma situação. Há algum tempo atrás era possível vê em praças de Irará jovens cantando, acompanhado de algum músico, fosse ele profissional ou não, com um violão em mãos. Hoje em dia não percebo mais isso. Cadê este gosto pela música? Será que só vai ter alguém tocando um instrumento na praça pública se tiver alguém para pagar cachê? 

E no mais. Este hipotético grupo de jazz, sugerido pelo texto, poderia ser um projeto paralelo. Projeto este cujas apresentações funcionariam como diversão e aprendizado dos próprios músicos. Afinal, acredito que eles se divertiriam tocando boa música, quando não estivesse trabalhando nas bandas de música massiva. 

Muitos músicos profissionais, como por exemplo alguns membros de bandas como Titãs e Barão Vermelho, desenvolvem projetos paralelos. Você, como músico já deve ter ouvido falar disso. 

Naqueles projetos, nos quais devem atuar nas “horas vagas”, eles se sentem mais livres para experimentalismos musicais, diante da ausência de maiores preocupações com o retorno mercadológico. Em minha opinião, eles montam estes grupos por paixão pela música que gostam e não se sentem confortáveis para tocar em suas bandas de origem, tão cheias de compromissos profissionais. 

Portanto, a provocação feita pelo texto está longe de ser uma sugestão ou indicação para os músicos da 25 abandonarem seus trabalhos e ficarem sem sustento, mas apenas sinaliza para que eles também tenham os seus “projetos paralelos”. 

"quem pagaria um cachê a Gigi, compatível ao que Ivete paga? você? acredito que não se candidataria..."

Não sei quanto Ivete paga a Gigi. E também não me interessa saber porque é um acordo profissional deles. No entanto, como Ivete Sangalo é uma artista consagrada, com carreira consolidada no circuito mainstream nacional, imagino ser um montante satisfatório para o músico. 

Então, realmente, como não tenho condições de pagar o que Ivete deve pagar, não posso me candidatar para tal. Mas, fique certo, se eu tivesse meios faria uma proposta para o filho do nosso saudoso Alfredo da Luz para integrá-lo a outro projeto musical.   

“acredito que musica pra eles é profissão e não hobby, diversão. quem trabalha de graça é relógio!!”

Para mim, os melhores profissionais são sempre aqueles os que conseguem trabalhar fazendo o que gostam. Aqueles que podem trabalhar por prazer. Aqueles têm como fazer do seu oficio a sua diversão. Infelizmente, aos que não conseguem unir o útil ao agradável sobram as horas vagas. 

Há tempos circula pela internet um texto atribuído ao publicitário Nizan Guanaes. Entre outras passagens, há uma na qual Guanaes conta uma situação vivida por uma freira. 

O publicitário narra que a freira estava cuidando de leprosos, quando um homem rico disse para ela: 

- Nossa! Madre!! Eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo. 

E a Madre então respondeu: 

- Eu também não. 

É mais ou menos por aí o espírito da coisa. Quando se gosta daquilo que se faz, profissão e diversão andam juntas. As horas passam e você nem sente que está trabalhando. 

Daí, a provocação do texto em momento algum foi para que os músicos trabalhem de graça como relógio (se é que você acha que relógio trabalhe de graça). Muito pelo contrário. 

A provocação foi pra incitar o debate. Se os músicos gostam e conhecem a “boa música” que façam uso dela. E que de vez em quando possam brindar nossos ouvidos, tão carentes de qualidade musical no cenário de Irará. E quem sabe montar algum projeto no sentido de ir na contra-mão da tríade mencionada por Roger do Ultrage A Rigor em “Nada a Declarar”: “Baixaria, dor-de-corno e bunda pra todo lado”. 

No mais, peço desculpas se eu estiver enganado e os nossos músicos se sintam realizados em tocar em bandas com o repertório repleto de canções para as quais, repito, “imagino, não é necessário tanto estudo ou dedicação”. Estudo e dedicação estes, que para mim é necessário ter para integrar o corpo musical da gloriosa Filarmônica de Irará. 

PS: Por favor, não poste mais comentários anônimos. Da próxima vez, não responderei. 

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