19.2.11

“BIANO TÁ VIVO”

Texto e Fotos de Emerson Nogueira Pinho - Mercinho



Seu Biano, 96 anos, afirma ter feito parte
da Coluna que matou Lampião


Quando recebi a agradável incumbência, não imaginava o tamanho da emoção, embora guardasse alguma experiência adquirida na Construção, senti algo diferente, era mais uma missão.

Ao abrir o Portal Iraraense vi a notícia da morte do ultimo integrante da Volante que participou de uma das emboscadas mais marcantes do século XX. Aquela que deu fim a vida de Virgulino Ferreira, o Lampião. Instintivamente reagi, “Biano tá vivo”. E assim passei uma mensagem para o amigo Ró, dando nota a esta menção. Alguns minutos passaram-se e veio a resposta: “Vlw mercinho, agora é v s tem como fazer entrevista. Abs”. No momento fiquei tenso, mas respondi: “valeu”. Em casa Maínha observou-me um pouco inquieto. Comecei a matutar os pensamentos, pedi inspiração, queria logo pegar o rastro do Virgulino.

Uma virose adiou por alguns dias o encontro, mas domingo 13 de fevereiro de 2011, partir logo cedo a pé, não era perto lá de casa, mas, com aquela ansiedade, pouco importava a distância. Já conhecia o velho, há cerca de um cinco anos estive lá junto com meu avô, porém a experiência era nova, não sabia como estava o velho Biano.

Seu Biano sentado em frente a sua morada

Assim que me aproximei da casa avistei de longe alguém sentado. Era ele. Quanta alegria, não sabia se ligava logo o gravador ou se tirava foto. Comecei a fotografar e fui chegando. De longe o velho me mirava e observava tal aproximação. Cheguei no portão e gritei:

-Bom dia Sr. Biano, posso chegar?

- Entra, pode deixar aberto.

Entrei já atirando, queimava sem parar, quando o velho disse:

- Essa fato é pra matar rato, rss

Logo percebi que a irreverência continuava a ser a marca registrada do ilustre personagem Bibiano Ferreira Dias, 96 anos, nascido na Fazenda Sitio Kariri na cidade de Uauá em 02 de dezembro de 1914, filho do Sr. Deloterio Jose Ferreira e da Srª Domingas Maria Dias, teve dezesseis irmãos. Dez eram do casal.

Cresceu no sertão de sol ardente. De família humilde, sentiu já na infância o ardor da seca que castigava o Nordeste. Ainda criança brincava de cavalinho de pau fazendo pareia, gostava de caçar preá com algo chamado por ele de “bespa”. Tinha muitos primos, um dos tios tinha 16 filhos, a meninada era vasta na família.

Sábado, novembro de 1934, a família de Biano é acordada às quatro horas da manha. Era Lampião e seu bando, o mesmo estava bravo queria saber como chegar à serra do Jerônimo, seu tio e padrinho Gino foi apontado para mostrar o local. Biano conta que Lampião estava com seu cachorro e o fez morder o braço do seu tio, que durante a caminhada parou e falou que o velho Norbertão da Cabeceira sabia bem sobre toda região. De volta, ensangüentado e surrado, o tio de Biano foi parar no hospital e morreu messes depois.

Foi naquele momento que Biano, aos 19 anos de idade, tomaria uma decisão que mudaria a historia de sua vida. Revoltado com as agressões sofridas pelo seu tio, partiu na segunda-feira, 29 de novembro de 1934, para a “Bahia” (Salvador), estava determinando a entrar na polícia. Disse à sua mãe: “só volto pra casa no dia que pisar na barriga de Lampião”.

Em 1935, já era cabra da peste e mandava vê no gatilho. Começou a jornada e logo no inicio foi escalado para lutar na guerra de Olinda. Embarcou junto com 70 saldados em um navio para Pernambuco, onde combateram nos conflitos da região, foi guerra sangrenta. De volta passou seis messes em treinamento no Quartel dos Aflitos. Começou a trabalhar duro, cortar trecho, portava um fuzil. Biano conta que até a morte de Lampião houve muita “rusga”, “Lampião não era brinquedo”, lembra.

Em março de 1936 Biano foi para Jeremoabo caçar cangaceiros. A volante não levou Soldados de Salvador, “eles queriam cabras do sertão, que sabiam andar no mato”. Alguns rastejavam feito cobra. Eram de varias regiões, entre eles: Chico Sales, que em uma das caçadas ficou três dias no mato, não agüentou e bebeu o próprio mijo; Joazinho de Felix; Silvino Dantas; João de Estevam; Estevão Gomes; Joaquim Bandinha; Zé Peba; Matias; Zé Pretinho; entre muitos outros. Eram de diversas cidades e regiões do sertão nordestino como: Chorrocho, Uauá, Formosa, Curaça, Sítio do Kariri, karataca, Canudos entro outras.

Os pés de Bibiano andaram muito pelo Sertão

Lampião já carregava nas costas muitas desgraças. Entre elas, assassinou o prefeito de Uauá, conhecido como Herculano Borges. Esticaram o corpo do prefeito com cordas e lascaram de fora a fora.
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Em outra oportunidade, na fazenda Catarina arrancou um anel de uma senhora. A mesma gritou: “vai o anel fica os dedos”. Lampião então disse: “Ah! Então agora vão os dedos”. Assim colocou a mão da velha no sepo e a decepou. A filha da senhora gritou raivosamente, enquanto segurava o seu bebê de um mês. Eles pegaram a criança e jogaram pra cima. O bebê desceu direto no punhal do cangaceiro, morrendo. Em seguida, atiraram na mãe, matando-a.

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Já em Cumbi, hoje cidade de Euclides da Cunha, pregaram o pênis de Zé da Pedra num balcão, e saíram avisando se ele ainda estivesse no local na volta morria. Zé da Pedra arrancou o que sobrou e correu. Biano re-encontrou o Zé anos atrás em Euclides da Cunha e junto relembraram o fato.
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O velho relatou-me que Lampião tinha apoio de gente grande, inclusive do Governo de Sergipe, através do Dr. Eroldino. “Enquanto agente tinha bala do ano de 37, o bando de Lampião já tinha a do ano de 38”, afirmou Biano. Numa das batalhas, na Serra da Massaranduba, houve grande baixa de soldados. O pau tava quebrando, nesse dia dezesseis homens foram atingidos, inclusive Biano, dez morreram. Perguntei quantos cangaceiros morreram e o velho respondeu: “Nenhum. Eles estavam em cima da serra entrincheirados, tinham a visão de tudo”.

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O pior estava por vim. O mato tava alto e seco, Lampião tocou fogo na serra e foi embora. Tudo bem planejado. Alguns soldados foram queimados, Biano e outros sobreviventes foram atendidos em Simão Dias. Perguntei a ele onde foi o tiro, o velho arribou a calça e tava lá a marca que ele carregará por toda vida. Tratou-se e continuou na busca, tinha uma promessa a cumprir.

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Biano mostra cicatriz na perna.
"Herança" de um tiro recebido

A prosa tava boa, em meio ao canto de pássaros e cigarras continuei a apertar o velho. Com o recurso que portava ainda fiz filme, fiquei com medo de a munição acabar, o que viria acontecer após alguns cliques. Agora, só com o gravador ligado, o que me restava era registrar a voz. Assim continuei no cangaço, tava protegido, tava com o “saldado Biano”.

“Pegaram o rastro pelo Rio São Francisco, próximos a região da Serra de Pão de Açúcar, lá um dono de uma venda soprou para os saldados que o velho Zé é quem carregava mercadoria para o bando”, seguiu contando Biano. A Volante tava forte, perguntei como era a farda, respondeu-me: “que farda nada, agente ficava era paisana, farda vestia em Salvador”. Foram chegando, até que a peça chave entregou o local exato do acampamento.

Lampião deixava três burros no beira do Rio e um senhor conhecido como Velho Zé era quem tomava conta e levava os mantimentos. Apertaram o sujeito, ou dizia ou morria. Biano era comandado pelo Tenente Fernandes, ele era de Curaçá, na outra ponta tava o Sargento Bezerra e sua gente, ele era de Alagoas. Biano conta que Tenente Fernandes era bravo, miserável.

Na madrugada de 24 de outubro de 1938, Biano acompanhava o agrupamento que subiu a serra na fazenda Angicos, o velho Zé mostrou o local exato. A Volante parecia que não pisava no capim e sim em algodão. Armados até os dentes foram lentamente até o ponto em que os cachorros do bando não percebessem tal aproximação. O sargento Fernandes posicionou uma metralhadora e foram cercando o acampamento. Num piscar de olhos o fogo começou. Foram mais de 20 minutos de bala, ate que tudo foi se acalmando, quando chegaram e olharam a miséria tava feita.

Ao chegar o local viram que alguns ainda agoniavam. Onze mortos. Duas mulheres e nove homens. Lá também estava o Rei do Cangaço, despachado. Muitos conseguiram escapar, pois estavam em acampamento separado. Os soldados começaram a pegar pertences, dinheiro, armas... rasparam tudo. Biano pegou um revolver parabelo e um punhal de prata. Foi sangue! Cortaram as cabeças com facão. As mesmas foram levadas e expostas para o povo.


Fotografado em Alagoinhas

Em nove de novembro de 1938 a tropa veio para Alagoinhas, onde foram recebidos e tiraram fotos. Alguns dias depois, Biano chamou o comandante e manifestou o seu desejo de ir embora, revelando que só entrou na polícia pra matar Lampião. O chefe retrucou e disse: “embora nada, você vai é para o Sul”. No dia seguinte Biano prendeu um cidadão. Quando familiares dele foram ao Quartel para soltar o rapaz, um deles apontou para Biano na saída, prometendo-o.

À noite Biano foi a um Cabaré e tomou todas... Na volta percebeu uma tocaia. Atiraram! Mas, habilidoso que era, Biano puxou o revolver e mandou bala, acertando e matando um deles. Neste mesmo dia o Sargento Antonio lhe avisou que havia ordens para prendê-lo, aconselhando-o a fugir rapidamente. Biano arrumou as coisas e na calada da noite “pinotou”.

Andando, Biano chegou à Inhambupe. De lá seguiu para Dias Davilla, onde encontrou um amigo chamado Joãozinho. Biano recebeu um bom prato de comida, além de apoio para prosseguir. Partiu então para Serrinha, passando por Araci. Lá encontrou o saldado João Mota, conterrâneo e amigo. O mesmo levou-lhe a casa de Zé Reis, onde descansou. João Mota mandou-lhe aguardar, pois, iria passar um caminhão com destino a Tucano. Biano então pegou a carona até o destino. De Tucano seguiu a pé até chegar em Euclides da Cunha. Em Euclides foi à casa de um amigo de seu pai. Este lhe arrumou um burro para ir até a sua terra natal Uauá. Bateu na casa de sua mãe, a promessa tava cumprida.

Passaram-se alguns dias, ate que sua mãe arrumou-lhe dinheiro. Partiu para Bom Jesus da Lapa, onde ficou por dois anos. Depois continuou as andanças, ate que chegou a Jacobina. Sem dinheiro e após tomar umas cachaças, resolveu vender o revolver e o punhal que foram dos cangaceiros. Não imaginava o valor que aquelas peças teriam anos depois, nos dias atuais. Em 1940 a notícia se espalha. Biano fica sabendo que o Tenente Zé Rufino derrubou Curisco em Barra do Mendes, a vida de cangaço deu seu o último suspiro.


Seu Biano e Dona Eremita


Em 15 de outubro de 1944 Biano casou-se com Eremita Maria de Macedo Dias. O casório se deu após muita insistência do apaixonado casal, pois, a família da jovem não queria conta com Biano que, na época, era temido e valente.

No dia do casamento ele tomou alguns conhaques. “Não vi Igreja, não vi Padre, não vi nada”, diz Biano, revelando que só ganhou sentido apos a cerimônia. Ali então faria uma promessa que ostenta ate hoje. Nunca mais tocou em cachaça.

Biano teve dez filhos, cinco homens e cinco mulheres. No final de 1949, chegou a Irará, através de seu irmão Zé Ferreira, um dos empreiteiros da Estrada de Ferro. Neste tempo, Biano era motorista de caminhão. Aqui sentou praça, depois de algum tempo, comprou a casa de Artur Baleiro onde vive até hoje. Perguntei ao velho:

- Sr. Biano o senhor gosta de Irará.

Respondeu-me:

- Não existe lugar melhor que Irará.

Mandou-me olhar para o lado da casa para ver a plantação. Eram pés de mandioca. Por alguns instantes percebi o velho distante, parecia estar viajando no tempo. Pensei na importância de Biano para a cultura brasileira. Sem palavras, fiquei a contemplar.

Ele levou-me ate o portão, nos despedimos, deu-me um forte aperto de mão, agradeci a Deus pela oportunidade. Seguir em frente, deixando para trás alguns inesquecíveis momentos que estarão sempre na memória do nosso velho Bibiano Ferreira Dias.

Passaram-se três dias e tive que voltar, precisava tirar algumas duvidas. O repertório do velho era amplo. Batemos mais uma grande prosa, desta vez, com a presença mais ativa de Dona Eremita, que disse: “ele já não tá se lembrando de tudo”.

Uma das dúvidas que mais me chamou a atenção foi sobre a data da morte de Lampião. Olhando em algumas reportagens, percebi que muitas dão a data de 28 de julho de 1938. Questionei com Biano, o mesmo repetiu-me que foi em 24 de outubro de 1938.

Continuei com o mesmo entusiasmo, prestei atenção naquele belo casal, eram décadas de convivência. Dona Eremita ofereceu-me um cafezinho, estava saboroso. Agradeci mais uma vez, aproveitei e registrei uma foto com os dois. Nos últimos comprimentos me disse que era um prazer estar recebendo uma visita: “estarei sempre aqui, é só aparecer”.

Mercinho,

Irará, 16/02/2011

Seu Biano e Mercinho

Emerson Nogueira PinhoMercinho, amante da memória e da história de Irará, é servidor público municipal e escreveu “A Construção – Histórias de Mestre Januário”, livro de memórias de seu avô, o reconhecido mestre de obras Januário.

18.2.11

Secretaria na faixa



Tive uma surpresa quando passei em frente à sede do Conselho Tutelar, no dia 02 de fevereiro. O local havia servido de ponto de apoio da Polícia Militar, durante os Festejos Populares da cidade.

Lá ainda estava pendurada uma faixa de sinalização com os seguintes dizeres:

“Prefeitura Municipal de Irará Secretaria Municipal de Cultura Esporte e Lazer PEO – O1 4º Batalhão de Polícia Militar”
Perceberam?

A surpresa é que, até onde eu saiba, o município não tem uma Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, apesar do Prefeito Dervialdo ter anunciado a criação da Secretaria em Outubro de 2009, durante o II Encontro Territorial de Cultura acontecido no município.

Fiz uma fotografia da faixa, mas havia uma dobra no “meio do caminho”, que dificultou a leitura do escrito através da foto.

Mesmo assim, para quem observar direito, acho que dá pra perceber, de alguma forma, o nome da dita Secretaria na Faixa. Pois, mesmo assim dificultosa, esta foto é maneira que tenho de provar o dito acima.

É bom a prova. Para depois não dizerem que eu me precipitei.

16.2.11

Diz que... “Em B. Simões tem um cara mostrando os documento”


Zé: CPF,Identidade... o q?


Tonho: Que CPF, nem dentidade ... Né nada disso não. É o “passarinho” cabra!

Z – Passarinho!!???

T – O negocio dele... o mijador... entendeu???

Z – Ixe! E como é isso? Mostra fora da “gaiola” ou “dentro”? Mostra dormindo ou pronto pra voar...

T – Oiê Zé... tu me deixe viu. Só sei que tá o maior arerê lá na Vila da Conceição. Disse que o cabra não pode ver uma muié que quer mostrar o negocio.

Z – Oxe home, que falta de respeito. E como é isso?
T – Diz que... ele chega de moto. Para. Mostra os negocio em ponto de ataque e fala: “Quer conhecer Eliseu??”

Z – Oxe.. Oxe.. Oxe.. E daí?

T – Daí que tá um arerê. Diz que... Já teve senhora desmaiando; teve muié que correu; teve gente que riu... E diz que... teve inté quem falou do tamanho do “documento”... parecendo que midiu com os zoio...

Z – Eta zoio de lupa da zorra!

Mas, isso é uma grande falta de respeito. Um sujeito assim. Deve de ser doente. Não arrespeita as pessoas. É preciso que arguém tome uma providencia. Imagine q o sujeito faça isso com uma irmã sua Tonho. Com tua muíe. Ou até com a sua mãe...

T – A minha não! Eu quebro ele todo. Deixe ele pensar que Bento Simões tá entregue... só porque teve uns assalto ai e o povo começou fechar o comercio mais cedo... Que é isso? Bento Simões é um lugar de gente de respeito.

Z – Tb acho Tonho. E é por isso mesmo que não dá pra acreditar nessa estória. Que argúem na Conceição faça um absurdo desse... [Zé fica pensativo por um tempo]

Mas, vem cá... É verdade mesmo que em Bento Simões tem um cara mostrando as coisas???

T - Diz que é!

PS - Tonho e Zé são personagens fictícios que conversam sobre histórias reais ou não.

Imagem: oogle Imagem.