15.1.13

O passeio de Tom Zé em Irará


Publicação original em 04/12/2009 site da Lupa Digital 

Feira da Mandioca de Irará teve show de Tom Zé

Como diz a citação de Tolstoi, Tom Zé “tornou-se universal cantando a sua aldeia”. Ele não se cansa de mencionar as suas origens e, assim, tornou-se o principal garoto propaganda de sua terra natal, Irará.

A maioria da população iraraense, por sua vez, não conhece a obra de Tom Zé. Ainda há os que o criticam devido certo distanciamento presencial de Tom com a terra. Esta relação de Tom Zé com sua “aldeia” já chegou até ser discutida em artigo acadêmico. 

No sábado, dia 14 de novembro, esta dicotomia foi colocada à prova. Naquela data, Tom Zé fez uma apresentação inédita numa praça pública da cidade. E, também pela primeira vez, os conterrâneos viram um show de Tom Zé acompanhado da sua banda. A apresentação aconteceu dentro da programação cultural da Feira da Mandioca de Irará.

O show causava apreensão no próprio Tom. Quase um mês antes, o tropicalista postou no seu blog um pouco da expectativa descrita como “véspera de natal e coração assustado”. Na hora da passagem de som a sua preocupação era visível.

Passagem de som

Tom parecia tenso. Queixou-se à produção da Feira. “Eu to com um disco sofisticado (referia-se ao Estudando a Bossa), como é que vocês querem que faça uma apresentação aqui? Tem muita barraca de bebida, vai ter gente bebendo… não vão prestar atenção na música”.

Com certeza, o ambiente não era o mesmo do concerto da noite anterior acontecido na sede da Filarmônica 25 de Dezembro.

A ansiedade aparente de Tom contrastava com a tranqüilidade do VT de divulgação da Feira da Mandioca. O vídeo foi veiculado pela TVE – Bahia e o próprio Tom Zé era o anunciante. “Estou levando para Irará o mesmo show que levo para França, pra Suíça…”

O alivio, contudo, voltou tão logo foi evoluindo a passagem de som. Aos poucos juntaram-se curiosos e fãs. Eram admiradores iraraenses e de outras cidades que já haviam chegado para o show.

Ao final da passagem de som, Tom Zé já se apresentava mais calmo. Era visível uma sintonia entre a banda e a técnica da sonorização. O tropicalista agradeceu ao pequeno público que se postava em frente ao palco. “Obrigado pela participação de vocês, mais tarde a gente volta e vai dá tudo certo”.

Show

Repertório precisou ir além do Estudando a Bossa

Quando voltou para o show, Tom Zé já demonstrava bastante tranqüilidade. Retrucou a apresentação feita pela organização do evento, tecendo loas á sua carreira. Suas primeiras palavras foram: “Com vocês, Tom Zé, o vagabundo de Irará. Agora sim, sei que estou devidamente apresentado”.

Sabendo que tocava para um público bastante heterogêneo, num local onde minutos antes do show, imperava em alto volume nos carros e barracas os sucessos de arrocha e do forró eletrônico, Tom Zé não concentrou o show no repertório do Estudando a Bossa.

O set list, definido minutos antes do show, mesclou a apresentação com antigos sucessos e, claro, músicas que mencionam Irará, como o “Abacaxi de Irará” e a “Lavagem da Igreja de Irará”. Esta, espécie de hino da Lavagem da Cidade, é quase a única música conhecida por grande parte da população.

Também fizeram parte do show Nave Maria (primeira da noite); Augusta, Angélica e Consolação; Jimi Renda-se; Ogodo Ano 2000; entre outras conhecidas de quem acompanha a carreira de Tom, como 2001. “Dona Rita Lee mandou um abraço para vocês”, disse Tom Zé antes de cantar a música fruto da parceria entre ele e a rainha do rock brasileiro.

Considerações



Kitute de Licinho escreveu cordel para o idolo

Na platéia, envolvendo cerca de 6 mil pessoas, a demarcação do Território era nítida. Da House Mix para frente, o público que curtiu o show e pediu bis. Para trás, as pessoas que se queixavam “isso não vai acabar não?”.

Para o jovem Produtor de Eventos e colunista de site de forró, Antônio Ricardo (o Kaká D’Irará), “o show de Tom Zé é algo para um teatro”. Ele complementa dizendo que ouviu os comentários na rua de que a organização do evento teria trazido a atração que “eles gostam não que o povo gosta”.

Próximo de um dos stands da feira, uma jovem da zona rural avaliava a apresentação como “um maluco, uma banda maluca, todo mundo com cara de maluco”. Já outra, mais próxima ao palco, ria muito, dançava e até tentava aprender as canções na hora do show.

A estudante Janete Bispo, que sempre disse não gostar da música do conterrâneo tropicalista, no dia seguinte confessou: “Mudei meu conceito sobre Tom Zé”.

Já o cordelista Kitute de Licinho disse sem arremedo. “Eu sou fã”. A admiração de Kitute rendeu edição especial em homenagem ao ilustre iraraense. “Tom Zé: Brilho – Anonimato – Ostracismo – Estrelado”.


Tropicalista entre membros da Chegança

Chegança

O folheto de Kitute resume a trajetória de Tom Zé e, assim como um seminário realizado na cidade, na semana anterior ao show, serve de introdução rápida à carreira do tropicalista, desconhecida por grande parte da população do Irará.

A exceção fica por conta dos amigos, fã e admiradores, de ontem, de hoje e do amanhã. Alguns deles estavam concentrados na Praça da Purificação na quinta-feira, dia 12 de novembro, aguardando a chegada do ilustre conterrâneo.

O espaço era dividido com crianças de uma escolada cidade que, talvez nunca tenha ouvido uma música de Tom Zé, mas conhecem a “fama” do Filho de Sr. Everton Martins. E eles estavam lá para receber Tom, junto da Banda de Charanga e da Chegança.

A apresentação do Folguedo Popular, cujo enredo dramatiza a chegada dos marujos mouros em terras portuguesas, da qual Tom Zé desconfiava que nem mais existisse no Irará, agora funcionava como saudação a ele próprio.

Um artista aclamado no mundo e com sua obra quase que totalmente desconhecida na sua cidade natal. A alguns não incomodava desconhecer a obra. O importante naquele momento era a badalação. Fotos para Orkut, comentários, estar perto, falar da importância do evento…

Assim Tom Zé voltou a Irará. Com os “óculos e escuros”, como disfarçando a sua visão aguçada, quem sabe analisando aquele momento histórico. Com o “relógio de pulso”, contanto o tempo de sua vida, dos tempos de menino tímido e rejeitado à aclamação de agora. E o seu ”rádio de pilha”, para cantar a sua música aos quatro cantos, dando “inveja nos barbados e barbados e frisson nas mocinhas”.

É como na canção Menina Jesus, Tom Zé voltou “a passeio, no gozo do seu recreio”.

PS.

Tom Zé esteve por três dias em Irará. Gravou programa de TV, um documentário para TVE, participou do Concerto na Filarmônica, almoçou com amigos, re-encontrou parentes, passou por ruas e lugares surgidos depois que ele foi embora de Irará. O passeio rendeu lembranças e descobertas, conforme comentário dele próprio em post no seu blog.   

O passeio de Tom Zé em Irará
Categorias: Passepartout 
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7.1.13

“Ajudar-se a si próprio”


“Evite a automedicação, procure um médico”, diz o alerta em caixas de remédio. Frase de alerta ao final de campanhas publicitárias, também chamam atenção para os riscos da medicação por conta própria. 

É como já mencionei noutro texto. Existe muita preocupação com a saúde do corpo. Quase nenhuma acerca do bem estar da mente. 

As situações são diferentes. Por exemplo, nunca vi um alerta sobre os riscos de se lê livros de auto-ajuda. Não seriam eles também uma espécie de automedicação? 

Muitas publicações daquele estilo parecem apresentar a panacéia. E para todos. Trazem dicas de superação, aconselham, ensinam, incentivam, enfim... 

É como se todos os problemas fossem iguais. E todo mundo pudesse solucionar os seus utilizando-se dos mesmos métodos e tendo o mesmo sucesso do vizinho.

Uma das lições presentes em alguns destes livros é a de “nunca desistir”. Será que a persistência é sempre a medida certa ou a mais inteligente? 

Cada caso é um caso. Já diria o velho Einstein com a sua teoria da relatividade. 

A quase totalidade da literatura de auto-ajuda parece alheia ao ensinamento einsteiniano. Afinal, até mesmo ele pode ser relativo... 

Certos ou não em suas vicissitudes, muitos livros de auto-ajuda se tornam rapidamente sucesso de vendas. Costumam aparecer até em prateleiras de supermercados.  E funcionam como se fossem “psicólogos de pobre”. Afinal, não é todo mundo que pode, consegue ou tem paciência para buscar uma “ajuda profissional”. 

O termo soa até meio estranho. Alguém, com necessidade e interesse em retorno financeiro, estaria interessado em ajudar? Há controvérsias.   

Já fora do âmbito dos profissionais, uma alternativa seria a conversa com um amigo, um parente próximo ou pessoa íntima. Mas, nem sempre há confiança ou abertura para tal. 

Aí, para alguns, sobram as redes sociais. Lamentações, desabafos e confissões codificadas pipocam nestes ambientes. É como se o individuo desabafasse para todo mundo ao tempo que não confia seus mistérios a ninguém. 

Mais complexas que as dores do corpo, as dores da alma exigem muito mais que remédios, leituras fáceis e serviços profissionais. Talvez um tratamento à base de colheres de sopa de um complexo e nutritivo caldeirão sociocultural. 

Uma espécie de “Terapia” necessária para o corpo não somatizar.  “Abra seu coração, antes que um cardiologista o faça”, dizia a frase-título no MSN de um amigo. 

É mais ou menos por aí. O difícil é tentar e não se sentir vulnerável. Na dúvida, há quem recorra a “ajudar-se a si próprio”.