16.7.13

Confere! Conferência.

Confere, Confere, Confere... Conferência! Lembra bingo. Um monte de gente acompanhando, marcando e conferindo, sob o sol, no chão da praça. De cima do palanque, alguns conduzem o evento, para apenas uns poucos ganharem os prêmios. Conferências seriam mais válidas se fossem “deliberativas”. Quando o que lá é decidido tem força de Lei. E a gestão pública é obrigada a cumprir sob a vigilância da justiça. Enquanto a Conferência for apenas “Consultiva” não é de maior valia o seu significado. É colheita de opiniões. Às quais serão executadas, ou não, a bel prazer do gestor em exercício. Há muitos exemplos. E o povão segue na praça fazendo número, marcando a pedra cantada por quem tem o microfone e a situação nas mãos. E ainda por cima, validando o sistema, balançando a cabeça e repetindo: “confere, confere, confere!”.

10.7.13

Quase sempre, quase nada muda. E o vislumbre de esperança: Mais 02 de julho e menos 07 de setembro

02 Julho de 1823. Nasce o sol, “com brilho maior que no primeiro”. Finalmente, os portugueses foram expulsos. Os bravos braços do povo baiano foram decisivos para concretizar a independência do Brasil.

A emancipação brasileira havia sido declarada no ano anterior, ao 07 de setembro, com um “único grito”. Os historiadores e suas pesquisas nos ensinam. Um arranjo. E a soberania do Brasil nascia (sic) pagando indenização ao colonizador.

Do alto de seu trono bonachão, D. João, certamente orientado por assessores, teria sentido os ares da mudança e profetizou. “Se tem de ser alguém, que sejas tu meu filho”.

De tal sorte, D. Pedro I assumiu o império brasileiro e o país continuou sendo 
governado pela mesma família real que aqui mandava durante a monarquia. Mudança pouca.

Os ventos libertários, ocorridos em outras partes do globo e percebidos pelo clã de Orleans e Bragança, tiveram como inspiração a consagrada Revolução Francesa. Lá, a história demonstra uma situação um pouco mais diferenciada. O rei caiu e cabeças rolaram.

No entanto, não demorou muito e a “revolução” pareceu se adequar ao status quo. O revolucionário Robespierre guilhotinou companheiros. Eram os reflexos de outra classe social no comando. Ao invés da realeza, a burguesia.

E assim seguiu-se a história no mesmo ritmo anterior. Dominantes e dominados. Quase “tudo como dantes, no quartel de Abrantes”.

Exemplos, não faltam na trajetória humana e brasileira. O povo pediu para crucificar Cristo e libertar Barrabás.  Foi um “Marechal” quem proclamou a República do Brasil. Trosky foi assassinado no México, a mando do companheiro Stalin. E Júlio César perguntou: “até tu Brutus?”.

No Brasil pós Regime Militar (1964-1985), o mesmo modus operandi. Ainda com a Ditadura na UTI, os arranjos políticos já sinalizavam. Evidenciou-se depois, diante da morte de Tancredo e ascensão de Sarney à presidência.

O Tancredo eleito indiretamente era o mesmo que personificou o “parlamentarismo arranjado” em 1963, para evitar a posse integral de Jango. 

Já o Sarney, hoje no PMDB (partido que desde 1985 é base de apoio ao governo federal seja ele de que lado for), assim como muitos dos seus, era recém oriundo da ARENA (Aliança Revolucionária Nacional).

A expressão “Revolucionária” da sigla testifica que aquela agremiação política, de laços tão próximos com o primeiro presidente civil pós golpe de 1964, tinha sido o partido de apoio aos governos militares. Esta era a cara da Nova República que já nascia velha.

Aqui no nosso Irará a história não é lá muito diferente. Uma geração inteira assistiu a alternância dos mesmos no poder. A ponto de uma campanha eleitoral derrotada na época usar como slogan uma espécie de desabafo: “Chega de Repeteco!”.

Enquanto isso, outros gritavam “Renova Irará!”. Parecia um desejo novo, uma vontade diferente. Ao invés de uma única família, um único grupo, sobre as ordens de um único chefe, a proposta de um governo de parceria com o povo. Experiência frustrada e a volta dos mesmos.  

No Irará de agora, os três “mosqueteiros”, que propagavam o “renovar”, junto de outros que se proclamavam diferentes dos “renovadores” e dos “conservadores”, são a linha de frente do governo da cidade.

“E o que temos pra hoje?”. Titulares de cargos de confiança daquela época, para a qual se pedia renovação, ocupam os mesmos cargos estratégicos na gestão de agora. E até mesmo “o chefe” de antes, contra o qual os “renovadores” pregavam, faz parte do governo de hoje e se diz apoio político ao executivo. É mais do mesmo.

Em um grupo no Facebook, criado para discutir política de Irará, o qual conta com mais 2,5 mil pessoas cadastradas, Danilo Pires nos lembrou o dito do final do filmeTropa de Elite 02 - O inimigo agora é outro”:

“O sistema entrega a mão pra salvar o braço. O sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai existir”.

E vem existindo há muito tempo. Na Roma antiga, na França pós-revolucionária, no Brasil Independente, em Irará, em todo lugar. “Eles têm vencido e o sinal tem ficado fechado para nós que somos jovens”.   

Ao longo da história, têm sido assim. Quase sempre, quase nada muda. O surpreendente é que, mesmo com este histórico, mesmo diante de tantas experiências, toda vez que assistimos o povo tomar as ruas, as esperanças renascem. E mesmo sendo “Cowboy Fora da Lei” vislumbramos perspectivas de que seremos mais 02 de julho e menos 07 de setembro.