15.10.14

Até parece o "café com leite"

Nos primeiros anos do Brasil republicano, paulistas  e mineiros alternaram-se no poder.  

Era a chamada “República do Café com Leite”. A nação tinha um comando rotativo. Um presidente paulista (Café), depois um mineiro (Leite). E assim sucessivamente. Isto era a República Velha.

O gaúcho Vargas quebrou esse ciclo. De lá até os militares (1964) tivemos um mineiro na presidência, Juscelino Kubistchek.  

No entanto, após o período militar (1964-1985), ao que parece, voltamos a tomar café com leite. 

O primeiro presidente civil eleito após a ditadura militar, ainda que de forma indireta, foi Tancredo Neves (mineiro). 

Morto antes da posse, Tancredo deixou a vaga ao vice Sarney. 

A eleição de 1989 elegeu o carioca, com base em Alagoas, Fernando Collor. 

Sofrido o impeachment, Collor saiu da presidência pra dá lugar a Itamar Franco (mineiro). 

Em 1994 e 1998, FHC foi eleito e reeleito. Ele é carioca de nascimento, mas oriundo da base política de São Paulo. 

No anos 2002 e 2006, o eleito e reeleito foi Lula da Silva. O ex-sindicalista, de origem pernambucana, também construiu sua vida política em São Paulo.

2010 foi o ano da primeira eleição de Dilma Roussef. Embora tenha feito carreira pública no Rio Grande do Sul, Dilma é mineira de nascença. Em Minhas Gerais, onde foi presa e torturada pela ditadura, a presidente iniciou sua militância política. 

Dilma volta a disputar a presidência agora em 2014. O seu oponente no segundo turno é o mineiro Aécio Neves (Neto do Trancredo). 

Dois candidatos mineiros, Dilma e Aécio, com dois paulistas como vices. Michel Temer e Aloysio Nunes, respectivamente. 

Se levarmos em consideração a base política ou local de nascimento dos presidentes pós golpe, teríamos o seguinte resumo. 

1985 - Trancredo Neves (Minas) 
1985 - Sarney (Maranhão) 
1989 - Collor de Mello (Rio de Janeiro/Alagoas) 
1992 - Itamar Franco (Minas) 
1994 - Fernando Henrique (Rio de Janeiro/São Paulo) 
1998 - Fernando Henrique (Rio de Janeiro/São Paulo) 
2002 - Lula da Silva (Pernambuco/São Paulo) 
2006 - Lula da Silva (Pernambuco/São Paulo) 
2010 - Dilma Roussef (Minas/Rio Grande do Sul). 

Um pouco parecido com o "café com leite", não é? 

7.10.14

SETARO King! Herói dos quadrinhos. E da Facom

Setaro King  
Reprodução do Zine Facoman 03


Primeira metade da primeira década do século XXI.  Tempos de produção efervescente de zines na Facom. Alguns memoráveis como o “Bundalelê”, o “Terno de Branco” e o “Muriçoca”, entre outros.  

Neste contexto foi criado o “Facoman”. Um Zine/HQ de tanto sucesso, no ambiente faconiano, que até ultrapassou as páginas impressas e ganhou uma versão em vídeo.

A criação foi de Lucas Mascarenhas, Thiago Alban e Lucas Esteves. A inspiração é nitidamente nas séries de TV com grupos de super-heróis japoneses, como “Changeman” e “Flahsman”, e o cotidiano da faculdade, vivenciado pelos autores, então estudantes. 

Os Facomans (ou Facomen?) foram alunos selecionados pelo “MasterCat” para se tornarem super-heróis. A grande missão deles era salvar a Facom, e o mundo, do “Império Boçalis”. Esta “organização maligna”, liderada pelo grande “Satan Gomes”, tinha a missão de transformar todos em “intelectuais boçais”. 

Na terceira HQ da série foi anunciado desde a capa, ainda improvisada como as duas anteriores, “a triunfal aparição de Setaro King”. 

Inspirado no professor André Setaro, como o próprio nome já indica, o “Setaro King” era um robô gigante. Ele apareceu na série para salvar os heróis faconianos do “Monstro Coxinha de Tia Del”. 

“Setaro é a única unanimidade da Facom”, disse alguém naquela época. Talvez por isso foi o professor escolhido para ser o herói dos super-heróis faconianos. O artefato decisivo para salvar “os Facoman” na hora do perigo.  

Para combater boçalidades nada melhor do que a irreverência, o humor fino, a contemplação preguiçosa e criativa, a informalidade e a crítica ácida e certeira, entre tantas armas setarianas para a sobrevivência em um mundo hostil. 

Muitos o consideravam “o herói da Facom”. Mirdad disse que, depois da ausência dele, a Faculdade de Comunicação da UFBA poderia até trocar de nome, porque jamais será “a Facom”. 


Acesse abaixo a integra do Facom 03 - Terceiro, mas não derradeiro
#SETRO64 – Homenagem ao professor André Setaro, em 12 de outubro, às 16h, na Sala Walter da Silveira – Biblioteca dos Barris. 

3.10.14

O chiclete da Dilma faz “ploc”, o do Aécio faz “bum”

O debate de ontem na Globo não teve muitas diferenças dos outros realizados anteriormente.

No confronto Dilma X Aécio, o que se viu foi mais do mesmo.

E esta repetição vai além dos debates anteriores. Capítulo repetido de uma novela re-make que o Brasil assiste periodicamente há cerca de 20 anos. A gincana PT x PSDB.

Um aponta que o outro privatizou quase tudo. O outro responde que o adversário privatizou estradas e aeroportos.

Então se um diz que o oponente está inundado em corrupções. Seja privatizações, votos da reeleição, metrô de SP, aeroporto do tio... A resposta? “Petrobrás!”, “Correios!”, “mensalão!”...

Quando um diz ser responsável pela criação de grandes programas sociais. Outro diz ter criado antes.

E se um sinaliza ter transformado o país numa potência econômica. Logo o outro diz ter nocauteado a inflação.

Luciana Genro, ontem no debate, em fala dirigida a Aécio Neves, disse que “é o sujo falando do mal lavado”.

Às vezes nos parece ser briga besta de menino birrento.

“O meu chiclete faz ‘ploc’, o seu chiclete faz ‘bum’”. Bum bum bundão.

Ainda com o soar de barulhos diferentes, as bolhas se mostram parecidas.

Isso pode fazer bem pra “seu” Mané do bar; mas pra nossa dentadura não.

* Inspirado na canção “O chiclete” do Ultraje a Rigor

1.10.14

Os cãesdidatos


Depois de um olhar ligeiro, a gente pode pensar que o cachorro também é candidato.

Corre o risco da rapidez na visualização pregar uma peça. 

Imagine um cão, como um político importante, dando apoio ao seu coligado. 

A cidade está infestada de placas com fotos de políticos. Outro dia vi uma com um candidato a deputado, um candidato a senador, um candidato a governador e um cachorro. 

Rapidamente, me perguntei: “O cachorro é candidato a que mesmo?”. 

Parece a moda da estação. Percebe-se um aumento no número de candidatos a pousar ao lado de fotos caninas. 

É a onda pela defesa dos animais. 

Dizem que isso dá voto. E, provavelmente, quem vota, quem pede e quem defende este tipo de voto deve relevar maior importância aos direitos animais. Os humanos e os sociais ficam em segundo plano. Se é que figuram em alguma posição... 

Sabedoria popular diz ser melhor um cachorro amigo do que um amigo cachorro. 

O cachorro é visto como símbolo de “amizade” e “fidelidade”. Já “cachorrada” remete a “falsidade” ou “safadeza”. 

Desconheço qual simbologia precede a outra. Apenas observo os usos e os frutos nas representações daquelas palavras em suas contradições.

Minha mãe me contou que, em tempos eleitorais, quando a humilde residência da família na zona rural era visitada por políticos, após a saída de cada um deles, meu avô materno alertava: “É tudo uns cachorro minhas fia, só muda a coleira”. 

A “coleira” seriam os partidos. 

Hoje é difícil identificar a qual linhagem pertence um político profissional. Temos visto muitos deles mudando de “coleira” ou até mesmo de “canil” a todo instante. 

Neste ambiente, é raro encontrar “cães fieis” a princípios. Existem muitos “cães de guarda” ferozes. Eles defendem, com garras e dentes, os seus empregos, salários, vantagens e/ou mordomias.

Ainda que possamos separar o joio do trigo, o eleitor se perde no meio de tantos “cãesdidatos” a latir no horário político eleitoral.

“Quanto mais eu conheço os homens, mais admiro os cachorros”. 

Quem costuma repetir a famosa frase acima deve acreditar mais nos cães do que nos homens. E, certamente, ficaria feliz se os cães estivessem denotativamente na política. Porque, conotativamente, a cachorrada já faz parte do meio político há muito tempo. 

Será que um dia os cães estarão na urna eletrônica? 

Bem, nos cartazes e no horário eleitoral da TV eles já estão aparecendo de montão. “Au, au!”. 

30.7.14

Construção de Mersinho faz Jilú permanecer

Sentimos dor, quando perdemos as pessoas para a existência. 

Conforta lembrar que a memória fica. No entanto, ela é uma espécie de existência com prazo de validade. 

A memória é passível de falhas. E, qualquer dia destes, também há de ir junto conosco... 

Carrego dores. Angústias por pessoas para as quais não fiz registros. E, me sinto pequeno, para grafar memórias tardias. Medo enorme de falhar. 

Principalmente para com os meus. Assusta-me ainda a possibilidade de parecer presunçoso. Um tipo de coruja gabando o toco. Receio de criar um produto não merecedor de crença analítica por quem leia. 

Hoje diante da notícia da morte de Jilú, pensei um pouco nisto. Pensei o quanto Mersinho foi apaixonado e corajoso com o seu: “A Construção – Histórias do Mestre Januário”. 

Lembrei da época em que Mersinho labutava na construção do seu livro. Da empolgação dele de, não só contar sobre a obra e as histórias do avô, mas como também de levar pessoas até a casa se Jilú. 


Ao lado do Mestre Januário em visita à casa dele

Tive a sorte de ser um destes privilegiados visitantes. Na casa de Jilú além de histórias, como a curiosa passagem de Luis Gonzaga num circo em Irará, ainda descobrir engenhocas. 

Estava lá um complicado “quebra-cabeça” que, feito pelo próprio Jilú com alguns pedaços de gravetos, para mim, foi impossível desarmar.

Quando o livro de Merso ficou pronto, tivemos a honra de lançá-lo durante o Colóquio de Literatura Popular de 2008. Evento produzido pela Casa da Cultura, quando estávamos por lá. 

Para felicidade de todos, o velho Jilú se fez presente. Foi vestido a caráter, para a noite de autógrafos do neto, no lançamento da obra na qual ele era o personagem de centro. 

Jilú, ao centro, em noite de autógrafos de "A construção..."

Recentemente pude ler e ouvir relatos da dedicação constante de Mersinho a Jilú. Fosse para “chamar o doutor” ou para dá banhos. Mãos à obra. 

Se a canção perguntar, talvez a resposta seja rápida. Ao merecer tanto carinho daquele neto, Jilú, como mestre de obras que foi, deixou muito mais do que tijolos no muro.

No dia de ontem Jilú passou. Um dia, pode ser daqui a cem anos, Mersinho também passará. Mas em algum canto, algum dia, alguém pode encontrar um exemplar daquele livro. E quem ler saberá das histórias do Mestre Jilú, graças a seu neto dedicado e atencioso. 

Mersinho e seu livro "A Construção - Histórias de Mestre Januário"




Imagens: 
Roberto e Januário por Emerson Nogueira
Januário e convidados e Mersinho com Livro por Katiene Suzart