7.12.15

Seja "Feira da Mandioca", seja "Festival de Beijú", vale a afirmação das pessoas e da produção local


Cartaz de Divulgação do Festival do Beijú - 
a acontecer nos dias 12 e 13 de Dezembro


Irará ficou órfão da Feira da Mandioca. Agora anuncia-se o Festival Itinerante do Beiju. 

Não sei dizer se esta itinerância pretende passear por outros municípios ou pelas diversas comunidades rurais iraraenses. 

De antemão, sei que Irará precisa deste tipo de evento. E é bom que ele fique por lá. Que mantenha periodicidade. Seja semestral, anual ou bi-anual. O importante é ganhar solidez e não deixar de ser realizado. 

O município precisa ter em seu calendário sociocultural um evento para celebrar, reafirmar e divulgar os produtos e a produção agrícola familiar de suas localidades. 

Eventos como Feira da Mandioca, Festival de Galinha Caipira e Festival do Beijú são bons para isto. Eles costumam dar visibilidade aos produtos, aos produtores e ainda podem gerar boas perspectivas de negócios e autoestima. 

Segundo fui informado por uma renomada beijuzeira do Irará, numa das Feiras da Mandioca, um pesquisador conheceu o “beiju colorido”, incrementou seus estudos no produto e depois o difundiu pelo Brasil a fora. 

Ainda de acordo com aquela beijuzeira, quando questionado sobre a origem, o pesquisador apenas dizia: “vi numa Feira”. “Sequer se dava ao trabalho de dizer onde foi a Feira”, me disse a senhora, indignada.

Talvez, se o “beijú colorido do Irará” estivesse patenteado, o pesquisador não teria como “esquecer” o nome da cidade. 

Profissionalizados, organizados e feito em parecerias solidas, sejam Feiras ou Festivais, este tipo de evento direcionado à agricultura familiar tem tudo para crescer em solo iraraense.

Desta maneira, é simbólica a homenagem a ser feita ao saudoso Jarinho da EBDA neste Festival do Beijú. Tomara que a vontade e o trabalho dele pela evolução dos movimentos sociais agrícolas de Irará sirvam de inspiração.

E que estes momentos de celebração sirvam, de fato, para celebrar as colheitas, as produções, as manifestações da cultura rural e a prosperidade do município. Para afirmar as pessoas e a produção agrícola das famílias iraraenses.

9.11.15

Arte de rua, mídia e mendicância




Lembro Machado de Assis: 

“Ela era bonita, mas era coxa. Por que coxa, se bonita? Por que bonita, se coxa?” 

Pulo das lembranças do celebre Memórias Póstumas de Brás Cubas para a página A7 do A TARDE de sexta, 30/10/2015. 

A notícia “Jovem toca sax na rua para pagar a faculdade” apresenta uma aspa atribuída ao administrador Gustavo Correia, 44 anos. 

“É curioso, porque a gente, que reside aqui de Salvador, não está habituado a conviver com pessoas se apresentando nos espaços públicos. O rapaz é, de fato, corajoso. Ele está de parabéns”.

É totalmente possível ao administrador, “residente em” ou “residindo de”, falar de uma Salvador diferente da vista por mim. Ao contrário dele, na soterópolis por onde trânsito, vejo pessoas “se apresentando nos espaços públicos”. 

Malabaristas nos sinais; músicos, atores, palhaços e poetas nos ônibus; estátuas vivas nas praças... Muitos que talvez nunca tenham merecido sequer uma nota, quanto mais ter foto estampada na capa do jornal, como o rapaz do sax. 

Lembro-me agora de um senhor. Cabelos alorados, sotaque arrastado num tipo meio confuso de portunhol. Ele já entrou algumas vezes em ônibus nos quais eu era passageiro. 

Com um sax meio desbotado, certamente pela ação do tempo, toca músicas internacionais conhecidas e manda o seu recado.  Certa feita, o vi se apresentando na Cantina da Lua, de Clarindo Silva, lá no Pelô. Nunca o vi na capa do jornal. E, quem sabe, talvez nunca tenha sido citado por qualquer um diário...  



De cara, penso que A Tarde perdeu uma oportunidade de contextualizar sobre arte de rua em Salvador. E, ainda por cima, pareceu se resumir e assumir para si o discurso de uma única fonte. 

Diante do quadro fiquei a me perguntar se, ao produzir esta notícia, o jornal não se valeu do critério “mendigata” ou “mendigato” de noticiabilidade. 

Seria este rapaz do sax, estudante universitário, com formação em filarmônica, tocando música clássica e boa aparência, “um artista”, enquanto os outros seriam apenas “pedintes”? 

"E porque ele se apresenta na rua, se bem afeiçoado? Porque bem afeiçoado, se apresenta na rua?" 

De repente é o que se perguntam os passantes daquela avenida em frente à sede do jornal. Transeuntes e prováveis fonte única de opinião a ser considerada pelo periódico. 

PS 1 - Emissoras de rádio reproduziram a notícia da mesma forma deslumbrada e descontextualizada do jornal.

PS 2 – Já escrevi aqui nesse blog sobre um sanfoneiro que se apresenta no ônibus e vendia seus CDs – Artista de Atitude no Buzu


5.10.15

Política provinciana

A pouco mais de um ano das eleições de 2016, a movimentação já é intensa. Tanto do lado governista, quanto do lado oposicionista. Todos armam, articulam e planejam seus movimentos. 

O tema das eleições ganha a pauta em todo canto. No noticiário e nas rodas de conversa. 

Do lado da situação a procura é por um novo candidato. O atual mandatário já foi reeleito e, como não pode mais se candidatar, deseja passar o bastão a um dos seus. 

Dizem que o vice, velho parceiro político do executivo atual, naturalmente seria um candidato. Ele foi escolhido para ser vice pelo próprio titular e tem fama de ser um cara com bom trânsito junto à oposição. No entanto, não sei se o partido terá preferência por ele. 

O nome dos sonhos da maioria no partido é aquela mulher. Ela seria candidata em 2008, quando o atual executivo foi eleito. Preterida na época, apoiou o atual chefe e logrou cargos de destaque nos dois mandatos dele. No cenário atual, ela possui maior peso político do que o seu marido. 

Enquanto isto, no lado oposicionista as definições estão ainda mais incertas. Já são dois mandatos fora do poder. A sede pela volta é grande. Os correligionários têm saudades da gestão daquele que, seguindo os passos do pai, também se tornou o governante. 

Coisas de política de província. Vejam que o pai foi governante, um filho também foi governante e agora outro filho está interessado. A democracia também cria oligarquias. 

Dizem que, naquela província, ganha eleição quem tem dinheiro. E a política de província é bem assim. No entanto, existem mecanismos para barrar a possibilidade algum “aventureiro”, com muito dinheiro no bolso, chegar ao poder pelas graças do povo. 

Lá, o poder sempre é disputado pela polarização entre duas forças. Azuis de um lado, vermelhos do outro, alternando-se no poder.

Em política, tudo pode ser o seu contrário. E, às vezes, pelas características, chamamos de “província” a maior potência política do planeta. Os Estados Unidos da América. 

Barack Obama, o atual mandatário, já foi reeleito. Hillary Clinton, preterida em 2008, ocupou funções de destaque no governo Obama e agora tenta uma candidatura. Ela é a que tem maior chance no partido Democrata. E hoje é mais representativa politicamente do que o marido, Bill Clinton.  

O vice de Obama, Joe Biden, foi colega dele de senado. No Governo Democrata, Joe se destacou por sua habilidade para negociar com congressistas Republicanos. 

A oposição tem muitos nomes como prováveis candidatos. Um deles é Jeb Bush. Jeb é filho de Jorge Bush e irmão de Jorge W. Bush. Os dois últimos já foram presidentes dos Estados Unidos. 

Nas eleições estadunidenses, pode até aparecer um milionário, como candidato independente, com intenções de investir para chegar à Casa Branca, mas a disputa sempre estará polarizada entre Democratas e Republicanos. 

A política é assim. Ela tem ares provincianos. Seja numa cidadezinha de interior ou no maior centro de poder do planeta.

3.10.15

Tentativas

Aqui começo um simples soneto, 
Nem sei mesmo se acerto ou consigo
Vou seguir, bem assim, destemido
Fina flor é meu prêmio, por direito 

Este, de certo, será (seria) o primeiro
E talvez nem haja, por ventura, um segundo
Pois, por desventura, no mundo vagabundo
Só tem vez o que é apressado e ligeiro 

Não espere métrica, pois não me preocupo medir
Vou na sorte e no rumo; firme na trilha do por vir 
Eis a rota do poema, do seu nascente à conclusão. 

E de tanto projeto sem destino certo 
Até sinto-me clamando no deserto
Mudo estratégias. Desistir? Posso não.  

Roberto Martins – Jul/2015
*Publicado no Facebook em 08/07/2015

29.9.15

Água em Marte? O que nós temos com isto?

Esta galinha "surtou" e resolveu saltar do quintal para o telhado... 
Será que um dia elas chegarão a Marte?

Dois baianos me fazem refletir sobre a pirotecnia e a empolgação com essa tal descoberta da NASA

Primeiro Raul, quando, para também reclamar, já nos lembrava: "gelo em Marte, diz a viking, mas, no entanto, não há galinha em meu quintal". 

Depois Gilberto Gil , quando diz que "queremos saber, o que vão fazer com as novas invenções". 

É Raul, por aqui, vejo muitos quintais de cinza. Por aqui, quintais cimentados, como sepulturas, enquanto celebram um indício de vida em Marte. 

É Gil... Eu também quero notícia mais séria... Isto servirá para emancipação do homem? Acabará a fome na terra? 

Pergunto também se isto fará o homem se reencontrar consigo próprio?... 

Então, me lembro de um mineiro notável, Carlos Drummond de Andrade, no seu clássico "O homem e as viagens"... 

Ah, o ser humano... Ah, os donos do dinheiro, querendo mais dinheiro... E suas cabeças de galinhas surtadas...






14.9.15

Reverência às referências do Cordel Baiano

Começo por Kitute Coelho
Um valoroso conterrâneo
Nele se inspira esse título
Seu cordel é espontâneo
Tem humor, realidade e ficção
Polêmicas, protestos, louvação...
É exemplo contemporâneo

Agora falo da forte lenda
Que o dito Cuíca se tornou
“Ele o tal de Santo Amaro”
Aos poderosos incomodou
E virou história de cinema 
Josias Pires trás o dilema
E documenta o trovador 

Histórico na Bahia também 
Rodolfo Coelho Cavalcante
Escrevia versos de cordel
E publicava aos montes 
Pesquisado na universidade
Conhecido em toda a cidade
É outro nome importante 

A grafia pela pronúncia no “X” 
Franklin Maxado Nordestino 
Levou o cordel pra São Paulo 
Barba branca, alma de menino  
Advogado na sua formação
Ex-diretor, “Casa do Sertão”
E fez do cordel o seu destino

Bule Bule grande mago
Dos versos de cordel
Vende ideias para agências 
É esplendoroso menestrel
Conhecido até no estrangeiro 
Um mestre popular brasileiro
Canta embolada, faz escarcéu 

Antônio Vieira, bate saudade  
É só deste vate se lembrar
Ele fez a peleja da ciência
Com a sabedoria popular
A verve do cordel remoçado
Virou show, CD bem gravado 
Bela história pra se contar 

Asa Filho é o prefeito
Da “Cidade da Cultura”
Lá o “Augustinho de Ziza”
Segue firme sua ventura
De quem vive pela crença
Que o saber é recompensa
Seu Espaço é beleza pura

Agora falo do mestre
Jotacê Freitas, o professor
Pelos macetes de sua oficina 
Muitos tomaram este labor 
Já no IL- UFBA* dava a pista 
E se firmou, grande cordelista
Pela estatura e pelo humor

Assinatura com nome cumprido 
Estatura mediana, que nem eu                           
Antônio Carlos de Oliveira Barreto
Cordeliza assim que o fato se deu 
Olho ligado no acontecimento 
Faz da educação o seu intento 
E tem no cordel, um orgulho seu

Conterrânea de Barreto 
É a lutadora Maria José
Vi poucos escritos por ela 
Mas aqui valorizo a mulher
Todas que escrevem cordel
A quem tiro meu chapéu 
Boas vindas a quem vier 

E o CRIA** fez escola
Fronte do saudoso Zeca              
Magalhães falou da rima
Segurou firme a peteca
Gutembergue, Bahialista
Gente esperta e artista 
Juventude ligada no ECA**

Lembremos de Jurivaldo
Com sua banca de cordel
Seja no Mercado de Arte
Na Feira-livre, sob o céu
Ensinou pra sua filha 
É exemplo pra família 
Essa luta merece troféu 

O A Tarde certa feita
Deu bandeira a esse mastro 
Narrou a Mudança do Garcia
Tendo o cordel como lastro
E para uma tarefa certeira 
Um jornalista de primeira
O faconiano Zezão Castro

Não falei de todos os baianos
Foquei só nos que conheço 
Amigos, colegas, inspirações
Gente de arte e de apreço 
Tem muitos outros por aí
Não daria pra citar aqui
Desde o fim até o começo

Resisto o momento da despedida 
Ora aqui preciso ainda contar 
Boa origem dessa gente baiana
E tem de Salvador, Sta Barbara, Irará
Rumo de Bomfim a Antônio Cardoso
Tem Santo Amaro e o povo valoroso
Originários de longe, de outro lugar 

Muito valor a essa turma 
Arretada na lida e na alegria 
Rima, verso e repente 
Tradição, respeito, harmonia
Interesse pela arte popular 
Nessa luta, vou proclamar: 
Salve os cordelistas da Bahia!

Roberto Martins
Salvador, Setembro/2015

* IL-UFBA : Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia
** CRIA: Centro de Referência para a Infância e Adolescência
*** ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente


13.2.15

“Axé Músic”: Irônico, Marcelo Nova teria feito batismo

Entre as recordações da “Axé Music”, as elegias saudosas e as tantas abordagens e entrevistas em programas de rádio, surge uma versão até então desconhecida para muitos. 

O nome de batismo, para o que se comemora 30 anos neste carnaval, pode ter sido originado nas críticas e ironias de Marcelo Nova, então vocalista da banda Camisa de Vênus

A versão foi dita na quinta (12/02) no programa Band News Primeira Edição, da FM 99,1 – BN Salvador, pelo apresentador Evilásio Jr. De acordo com o jornalista, na época, o roqueiro se referia às músicas que faziam sucesso no carnaval baiano, pejorativamente e ironicamente, com o termo “axé músic”. 

Depois, publicitários e/ou locutores de rádio teriam se apropriado do nome e popularizado o batismo das músicas e danças de destaque naquele momento de tantos “fricotes” e “deboches”. 

O que era chacota, virou rótulo de sucesso... 

Em meados dos anos 1980, momento no qual surge a “Axé Music”, o Rock Brasileiro era forte nos corações e mentes da juventude no Brasil, inclusive na Bahia. 

Que cruzamentos e/ou enfrentamentos estes dois tipos de música podem ter sofrido em terras soteropolitanas naqueles tempos?

Estão aí indícios de um bom tema para pesquisa. Se é que alguém já não a tenha feito. 

A informação de Evilásio, me lembrou o vídeo abaixo. Nesta gravação, de 1988, Marcelo Nova, acompanhado de Raul Seixas, comenta sobre uma das músicas mais populares do nascedouro da “axé music”. 



Raul Seixas & Marcelo Nova 
- Sobre a AXÉ Music - Salvador BA - 1988
Publicado em 3 de mar de 2012

Do canal de Rodrigo Titatelli no Youtube

12.2.15

Por que este anúncio “confuso”? “Porque sim!”

Era o episódio intitulado “O Rei e Eu”, de A Grande Família. Agustinho Carrara (Pedro Cardoso), comodoro do Paivence (Espaço de Eventos), programou um show cover de Roberto Carlos. O artista genérico era o Tuco (Lúcio Mauro Filho), cunhado do gestor do espaço. 

Para atrair público Augustinho aprontou uma das suas. O que, para ele, se traduzia numa “estratégia de marketing”.

 "Estratégia de Marketing" de Augustinho

Carrara mandou fazer um cartaz: “Tuco canta Roberto Carlos”. 

A informação “Tuco canta” tinha letras bem pequenas; enquanto “Roberto Carlos” e os outros elementos informativos eram grafados em tipologia gigantesca. 

Como era de se imaginar, deu confusão. 

Lembrei-me desse episódio, da saudosa série de TV, ao ver o cartaz reproduzido abaixo. O anúncio divulga um evento de camarote durante o Carnaval de Salvador.  


O show é de Lenadro Sapucai, com participação de Carlinhos Brown. Pela lógica, o anfitrião faz o show - na quase totalidade do tempo - e o convidado entra em algumas músicas. No entanto, a julgar pelo cartaz, não é isso o que aparenta. 

Na peça publicitária, Carlinhos Brown é o único a ter imagem e ainda tem o nome mais destacado. Fica com a maior pinta de atração principal. Seria uma “estratégia de marketing”?

Redações e layouts assim são até engraçadinhas, quando acontecem na ficção. Mas na vida real...

Eu questionaria aos produtores e divulgadores do evento, porque eles publicizam um tipo de anúncio “confuso” como este. E eles fatalmente me responderiam: “Por que sim!”. 

PS – O anuncio ainda deveria informar, além da data, o dia do evento. Tipo: “Domingo de Carnaval”. Desta forma comunicaria melhor para o folião.