29.9.15

Água em Marte? O que nós temos com isto?

Esta galinha "surtou" e resolveu saltar do quintal para o telhado... 
Será que um dia elas chegarão a Marte?

Dois baianos me fazem refletir sobre a pirotecnia e a empolgação com essa tal descoberta da NASA

Primeiro Raul, quando, para também reclamar, já nos lembrava: "gelo em Marte, diz a viking, mas, no entanto, não há galinha em meu quintal". 

Depois Gilberto Gil , quando diz que "queremos saber, o que vão fazer com as novas invenções". 

É Raul, por aqui, vejo muitos quintais de cinza. Por aqui, quintais cimentados, como sepulturas, enquanto celebram um indício de vida em Marte. 

É Gil... Eu também quero notícia mais séria... Isto servirá para emancipação do homem? Acabará a fome na terra? 

Pergunto também se isto fará o homem se reencontrar consigo próprio?... 

Então, me lembro de um mineiro notável, Carlos Drummond de Andrade, no seu clássico "O homem e as viagens"... 

Ah, o ser humano... Ah, os donos do dinheiro, querendo mais dinheiro... E suas cabeças de galinhas surtadas...






14.9.15

Reverência às referências do Cordel Baiano

Começo por Kitute Coelho
Um valoroso conterrâneo
Nele se inspira esse título
Seu cordel é espontâneo
Tem humor, realidade e ficção
Polêmicas, protestos, louvação...
É exemplo contemporâneo

Agora falo da forte lenda
Que o dito Cuíca se tornou
“Ele o tal de Santo Amaro”
Aos poderosos incomodou
E virou história de cinema 
Josias Pires trás o dilema
E documenta o trovador 

Histórico na Bahia também 
Rodolfo Coelho Cavalcante
Escrevia versos de cordel
E publicava aos montes 
Pesquisado na universidade
Conhecido em toda a cidade
É outro nome importante 

A grafia pela pronúncia no “X” 
Franklin Maxado Nordestino 
Levou o cordel pra São Paulo 
Barba branca, alma de menino  
Advogado na sua formação
Ex-diretor, “Casa do Sertão”
E fez do cordel o seu destino

Bule Bule grande mago
Dos versos de cordel
Vende ideias para agências 
É esplendoroso menestrel
Conhecido até no estrangeiro 
Um mestre popular brasileiro
Canta embolada, faz escarcéu 

Antônio Vieira, bate saudade  
É só deste vate se lembrar
Ele fez a peleja da ciência
Com a sabedoria popular
A verve do cordel remoçado
Virou show, CD bem gravado 
Bela história pra se contar 

Asa Filho é o prefeito
Da “Cidade da Cultura”
Lá o “Augustinho de Ziza”
Segue firme sua ventura
De quem vive pela crença
Que o saber é recompensa
Seu Espaço é beleza pura

Agora falo do mestre
Jotacê Freitas, o professor
Pelos macetes de sua oficina 
Muitos tomaram este labor 
Já no IL- UFBA* dava a pista 
E se firmou, grande cordelista
Pela estatura e pelo humor

Assinatura com nome cumprido 
Estatura mediana, que nem eu                           
Antônio Carlos de Oliveira Barreto
Cordeliza assim que o fato se deu 
Olho ligado no acontecimento 
Faz da educação o seu intento 
E tem no cordel, um orgulho seu

Conterrânea de Barreto 
É a lutadora Maria José
Vi poucos escritos por ela 
Mas aqui valorizo a mulher
Todas que escrevem cordel
A quem tiro meu chapéu 
Boas vindas a quem vier 

E o CRIA** fez escola
Fronte do saudoso Zeca              
Magalhães falou da rima
Segurou firme a peteca
Gutembergue, Bahialista
Gente esperta e artista 
Juventude ligada no ECA**

Lembremos de Jurivaldo
Com sua banca de cordel
Seja no Mercado de Arte
Na Feira-livre, sob o céu
Ensinou pra sua filha 
É exemplo pra família 
Essa luta merece troféu 

O A Tarde certa feita
Deu bandeira a esse mastro 
Narrou a Mudança do Garcia
Tendo o cordel como lastro
E para uma tarefa certeira 
Um jornalista de primeira
O faconiano Zezão Castro

Não falei de todos os baianos
Foquei só nos que conheço 
Amigos, colegas, inspirações
Gente de arte e de apreço 
Tem muitos outros por aí
Não daria pra citar aqui
Desde o fim até o começo

Resisto o momento da despedida 
Ora aqui preciso ainda contar 
Boa origem dessa gente baiana
E tem de Salvador, Sta Barbara, Irará
Rumo de Bomfim a Antônio Cardoso
Tem Santo Amaro e o povo valoroso
Originários de longe, de outro lugar 

Muito valor a essa turma 
Arretada na lida e na alegria 
Rima, verso e repente 
Tradição, respeito, harmonia
Interesse pela arte popular 
Nessa luta, vou proclamar: 
Salve os cordelistas da Bahia!

Roberto Martins
Salvador, Setembro/2015

* IL-UFBA : Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia
** CRIA: Centro de Referência para a Infância e Adolescência
*** ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente