A manhã era cinzenta
Restos madrugada sombria
Na aurora das diretas
Espera sol do novo dia.
Indireta, sem posse...
Na hora do lanche
O quase todo contente
Aperitivo pra participar
Pelo voto seria diferente.
Arroto, sabor frustração...
Vem o almoço
Com sol forte na testa
Estável expectativa de fartura
E milhões de fora da festa.
Decisão, vamos a outro lado...
É necessário compartilhar
Experimenta essa merenda
Apesar dos recheios de antes
Um pouco de igualdade e renda.
Indigestão, algo não cheira bem...
A barriga não tá cheia
Prepara, incerto jantar
Com ódio é ruim digerir
Até dificulta o pensar.
Anoitece. Receio das trevas...
23.12.16
15.12.16
Tom Zé e Tropicália em debate na Politécnica
Mesa coordenada pelo professor Nelson Pretto - Faced-UFBa
Depois do bate-papo, na quinta
(08), no Palácio das Artes, e do show, na sexta (09), na Concha Acústica do TCA
(Teatro Castro Alves), Tom Zé continuou em pauta na cidade da Bahia (Salvador).
O evento “80 anos de Tom Zé e 50
anos da Tropicália” aconteceu no auditório da Escola Politécnica da UFBA
(Universidade Federal da Bahia), na noite desta segunda (12).
A atividade integrou a disciplina
“Polêmicas Contemporâneas”, da Faculdade de Educação da UFBa), coordenada pelo professor
Nelson Pretto.
Quando cheguei, falava Tuzé de
Abreu, professor da EMUS (Escola de Música) UFBa. Perdi a fala do pesquisador
Fernando Cerqueira. Tuzé contava como acompanhava a tropicália de Salvador,
enquanto os tropicalistas estavam em São Paulo, revelando ter visto os
festivais pela TV.
Interior - O poeta e compositor tropicalista José Carlos Capinan
falou sobre a cena cultural da época. Ele, nascido em Entre Rios, destacou o
fato de Salvador ter recebido muitas contribuições dos jovens oriundos de
diversas regiões do interior do Estado.
Capinam rememorou a sua entrada
no CPC (Centro Popular de Cultura), ligado ao Partido Comunista, onde conheceu
muitos dos tropicalistas, e onde fez parceria com Tom Zé.
O professor Armando Almeida discorreu
sobre a tropicália. Destacou o fato do Brasil, naquela época, viver o final de
uma transição de rural para urbano. “O tropicalismo encarou de frente a
indústria cultural”, disse.
Ele também comentou sobre artigos
da época. Entre eles um de Caetano, no qual o santamarense abordou “a linha
evolutiva da música popular brasileira”, e outro de Rogério Duarte, quando o
designer defendia a necessidade da arte dialogar com o útil e o belo.
Tom Zé - Marle Macedo, cantora, arte educadora e conterrânea de Tom
Zé, falou sobre a sua convivência com Tom na juventude. Relatou como Tom Zé e
outros jovens de Irará iam à casa de seu pai, o músico Almiro Oliveira, para
apreciar as tocatas lá realizadas.
No seu relato, Marle comentou
sobre os reencontros e saraus daqueles jovens nas épocas dos festejos de Irará
quando, então residentes fora para estudar, regressavam à cidade.
Destacou a genialidade, o talento
e a sensibilidade estética de Tom Zé, já percebida desde jovem ainda em Irará.
Fez uma breve cronologia da carreira
do artista, do encontro dele com David Byrne e das conversas dela com Tom Zé
nesse período. Teceu comentários sobre o conceito do disco “Defeito de
Fabricação”, acerca do trabalhador terceiro mundista que ousava ir além de
condição de mão de obra barata ao qual tentava lhe impor, apresentando a música
“Valsar”.
Widner - Tuzé de Abreu comentou ainda sobre o maestro suíço Ernst
Widner, então professor na Emus – UFBa. Lembrou como o suíço falava e escrevia
bem o português e se encantava com a cultura da Bahia.
De acordo comentou Marle Mecedo,
o maestro chegava a viajar para cidades do interior do Estado só para conhecer
sons da natureza e dos movimentos urbanos daqueles ambientes.
O professor Nelson Pretto destacou
o papel então Universidade da Bahia, hoje Universidade Federal da Bahia (UFBa)
no desenvolvimento cultural do estado.
Com intervenções da plateia,
formada por estudantes, pesquisadores e entusiastas do tema da tropicália, o
evento iniciado pouco depois das 19h seguiu até as 22hs.
9.11.16
Hate is in the air
A torcida dos vitoriosos comemora
e a crítica está em suspense.
Diante de tantas incertezas
quanto ao futuro, chego a uma constatação: A província contínua sendo província.
Em 2008 vencera uma campanha
pautada na esperança.
O candidato tinha origem humilde
e os discursos defendiam melhorias a conquistar.
Os vencedores de então diziam que
podiam fazer mais, que podiam fazer melhor. Discurso de esperança com grande
potencial de resumo em um slogan: “Yes, we can!”.
Após a vitória naquela eleição o
gestor apresentou realizações. Fez pela saúde o que não tinha sido feito antes.
Fez pelo desenvolvimento. E o seu governo se mostrou mais aberto à inclusão em
comparação ao anterior.
No plano externo ele passou a ser
respeitado. Galgou espaços em Fóruns de discussões e recebeu credibilidade dos
pares.
Em 2012 ele foi reeleito sem
grandes sobressaltos.
Na segunda gestão seguiu quase no
mesmo compasso da primeira.
Depois de sua eleição (2008), da reeleição
(2012), da aprovação do seu governo apresentada nas pesquisas, imaginava-se que
fazer sucessor ou sucessora seria uma tranquilidade.
“PERRRRRRRRRRDEU!”
A oposição veio feroz. De cara
lisa, sem receio de expor feridas abertas e ressentimentos.
Na força de um candidato midiático,
alçado à política pelo encanto das plateias nos seus shows, os opositores fizeram
reverberar o discurso único: “Tirar essa gente do poder!”.
— Mas
a economia melhorou...
— Temos de tirar essa gente do
poder, temos de mudar.
— Mas
a infraestrutura melhorou...
— Temos
de tirar essa gente do poder, temos de mudar.
— Mas
o dialogo melhorou...
— Temos
de tirar essa gente do poder, temos de mudar.
— Mas...
— Temos
de tirar essa gente do poder, temos de mudar!
Tempos temerosos.
A “mudança” vem com a volta de
grupos políticos de antes.
É como já dito em outro texto:
“A política é assim. Ela tem ares
provincianos. Seja numa cidadezinha de interior ou no maior centro de poder do
planeta”.
A vitória de Donald Trump nos
Estados Unidos da América me fez lembrar do golpe no Brasil; de alguns resultados
em eleições municipais; do Brexit no Reino Unido (ou seria desunido?); do
referendo a favor do conflito na Colômbia; do tratamento na Europa a quem foge
de guerras incentivadas pelos próprios governos europeus; do...
E, ao lembrar de tantas cenas
tristes e casos de intolerância, vi o mundo embalado por uma trilha sonora
depressiva, cujo refrão, ao inverso do dito em uma canção de sucesso, sintetizaria:
“Hate is in the air”.
14.10.16
Old Kids On The Rock
Eu me lembro. Na época eu já curtia rock há algum tempo, mas
tinha maior proximidade com o rock brazuca. Dos monstros estrangeiros eu
conhecia a fama e poucas músicas de alguns.
O Guns n’ Roses para mim aparecia como uma das novidades
daquele Rock in Rio 91.
Estávamos na oitava série. Haviam colegas que já conheciam o
som dos caras. Um deles tinha uma foto da banda como contracapa do caderno. Daquelas
típicas, estilo garotos maus, com garrafa de wisk na mão, etc.
Talvez o meu distanciamento para com a banda foi causado
pelas meninas. Não que elas me impedissem de ouvir o som. Era só ojeriza,
talvez ciúmes, diante da forte tietagem.
Elas tietavam na mesma medida Axl Rose e New Kids on The
Block.
Pouco tempo depois fui cedendo e me aproximando do som dos
caras. Daí então conheci um hard rock eletrizante e divertido de se ouvir.
Desde “Sweet Child oh Mine”, com os clássicos rifs e solo de
Slash, até todas as canção do “Appetite for Destrucion”; “Use Your Ilusion (I e II)”, e o “Lies”. Cheguei a ouvir tb o “The
Spaghetti Incidente”. Tudo em Fita K7, é claro.
O tempo passou e, embora em menor intensidade, sigo curtindo
o bom e velho rock and roll.
Boa parte das meninas e dos colegas casaram-se. Eu também. Alguns
já tem filhos. Eu ainda não.
O Rock in Rio se firmou como um dos maiores festivais de música
do planeta. O Guns, enquanto banda, acabou e recomeçou. Agora, eles estão às vésperas
de pisar em solo brasileiro novamente.
E o New Kids On The Block... Bem...
Deles eu não sei. Nem tenho muito interesse em saber. Em geral e, principalmente, quando
bate a nostalgia eu prefiro os Old Kids On The Rock.
RM
3.7.16
Versos para #MeuSãoJoãoNaTVE
O pessoal da TVE publicou os versos que enviei para eles com relação ao São João.
Infelizmente, o verso de abertura acabou suprimido na edição e, assim, a primeira estrofe ao invés de septilha virou sextilha...
Mas tudo bem! Valeu a participação, a intenção e o apoio da rapaziada da TVE. E, principalmente, pela valorizada que eles deram à Literatura de Cordel !!!
Valeu TVE !!!
Verso original abaixo:
#SaoJoao #Bahia
#LiteraturadeCordel#MeuSaoJoaoNaTVE
Um dia, disse o vidente:
“O cordel vai acabar!”
Sabe nada o inocente
A arte vai se reinventar
Do papel pro Facebook
A TVE nos dá um look
Pro cordel valorizar
Pra não virar personagem
Modere a dose do licor
Dance forró, faça viagem
Nessa #BahiaMeuAmor
Curta a festa com alegria
Pois o #SãoJoãoDaBahia
É o melhor Seu Doutor!
Se quiser uma boa dica
Posse então lhe oferecer
Em Irará a festa é rica
De tradição e de saber
Tem sanfoneiro no coreto
Milho assado no espeto
E a turma do Jeguerê...
17.4.16
14.3.16
“Zico” morreu, agora é folclore
As aspas já sinalizam. Não se trata do ídolo do Flamengo. O
Zico do qual falo é um “mendigo” (“doido”) de Irará.
Posso dizer que ele era da minha geração. Não sei se um pouco
mais novo, não sei se um pouco mais velho. Conheci o Zico quando eu era criança
e ele também era.
Nunca soube ao certo do histórico dele, mas sempre ouvi
muitas histórias (ou estórias) se contar.
Zico vivia nas ruas da cidade. Certa feita um bancário o
adotou. Andou limpinho por alguns dias, depois, não se adaptou e voltou a viver
nas ruas. É o que contam. Zico continuou sujo, maltrapilho, pedinte.
Na década de 1980, dizem, ele foi uma das crianças sequestradas
em Irará para o tráfico internacional de pessoas. Teria conseguido a fuga e o
retorno para sua terra.
Andarilho, Zico conhecia a tudo e a todos do Irará. Chamava
as pessoas pelo nome ou apelido, como quem demonstrando intimidade. Aos mais
velhos chamava com respeito ou proximidade: “Seu”, “dona”, “tia”...
Certa vez, quando foi pedir dinheiro, ouviu o interlocutor: “Não
tenho trocado, Zico”. Daí, ele de pronto mostrou a solução: “Tem problema não,
me dá o dinheiro que eu te dou o troco”.
Em outra oportunidade fez uma intimação a um noivo. “Olhe,
você enrolou a outra um tempão e não casou, não vá fazer isto com essa aí não”,
avisou ao rapaz, diante de sua noiva de alguns anos.
Zico gostava de dar conselhos. Certa feita encontrou alguém
saindo de casa apressadamente, tarde à noite, porta a fora, rua a dentro. “Não
sai de vez assim não. Olha primeiro”. Alertou.
E também indagou um conhecido se ele confiava na
namorada. “Nunca sumiu dinheiro teu não?”.
Gostava de jogo, com quem estivesse disposto a rolar dados com
ele, e de rádio. Às vezes, era um cantarolar danado pelas ruas.
Quando meu pai faleceu, Zico veio me dizer para não ficar
triste...
Quem procurar saber vai encontrar “causos” e mais “causos”.
Entre eles os passados sob distúrbios mentais. Momentos nos quais apareciam os
alertas: “Zico tá atacado!”.
Para alguns, um doido. Para outros um simples mendigo que,
apesar de ter uma “aposentadoria”, gostava de sujeira e mendicância.
Na vida, alguém que passou. E agora entrou para o folclore da
cidade. Assim como outros personagens. Sejam eles os “certos” ou os “doidos de
Irará”.
* Em meio as notícias sobre São João e Cristiano Araújo essa
pode ter passado despercebida.
Escrito originalmente
em 25 de junho de 2015 e postado no Perfil de Roberto Martins no Facebook - https://www.facebook.com/roberttomarttins
Publicado aqui no Blog com pequenas adaptações
e acréscimos em 14/03/2016
10.3.16
Eu estava na floresta, diante do rio, iluminado pelo celular dele
Um dia, em algum lugar perdido no tempo, entre 2003 e 2006, e achado na minha memória. Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Salvador Bahia.
Era um show do Cordel do Fogo Encantado. Convidaram um conhecido deles, então desconhecido meu, para fazer uma participação especial.
Aquele homem chegou à frente do palco e foi segmentando a plateia. “Aqui desse lado, aquele outro, quem tá lá em cima...” Eu, meio impaciente, pensava comigo: “Que besteira”.
Ele deu um som pra cada parte fazer. E depois saiu orquestrando a plateia. Entra o pessoal do “uuuuu”, agora o “chuaaaaa”... e seguia chamando sons, comandando o tempo de cada um deles, em cada parte da plateia, entrar.
Quando ele juntou tudo, não estávamos na Concha. Estávamos na floresta, em plena noite, diante de um rio. Era puro som de natureza. Rio, vento em árvores... Mais de 5 mil pessoas nesse frisson. Pensei sozinho: “Que de fuder!!!”
Esperava viver esta emoção estética novamente. Hoje, recebi a notícia de que não mais a vivenciarei. Ao menos sob a regência do maestro Naná Vasconcelos, não.
Ele se foi. Quem acredita, vai dizer que toda noite ele estará lá de cima, sinalizando pras bandas de cá, com o seu celular...
"O celular de Naná" - Dê o play e ouça a música de Otto
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