17.7.17

Caminhos da roça

“Olha a chuva! Passou...”

A volta de um dia ensolarado, depois de uma semana chuvosa na capital baiana, lembrou-me o São João. A festa, tão esperada, agora está longe novamente. “Nem se despediu de mim”, chegou e saiu rapidinho.   

Demorada foi a viagem pra viver o São João. No período, quando centenas de milhares saem da capital para o interior da Bahia, o engarrafamento na BR 324 já está mais tradicional do que a fogueira.

Em meio ao “cardume”, formado pelas milhares de “sardinhas de lata”, estando eu (dentro de uma delas) a “navegar” lentamente naquele “rio negro” da Vasco Filho, a mente pescava pensamentos diversos e me fazia refletir a situação e suas causas.

Reflexões conduzindo a constatações obvias: “A Bahia só tem uma metrópole!”, comentei.

A soterópolis é a única cidade com mais de 1 milhão de habitantes do Estado. Ela já tem quase três vezes esta marca, enquanto o segundo maior município baiano (Feira de Santana) ainda não chegou a 700 mil.

E, vale destacar, 80% dos municípios da Bahia, assim como o meu torrão iraraense, não chegam aos 30 mil habitantes.

Tão desigual quanto a distribuição do povoamento é a repartição da produtividade econômica pelo território baiano. Para perceber o disparate desta, basta uma rápida olhada em um mapa disponível no sítio eletrônico da Secretária Estadual de Planejamento.


Mapa Territórios de Identidade - Reprodução

O Território Metropolitano de Salvador concentra 77,9% da arrecadação de ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias) prevista para o quadriênio 2016-2019.

O Portal do Sertão, onde quem reina é a princesa Feira de Santana, tem a segunda concentração, com distantes 4,68%. Na sequência vem o Território Litoral Norte e Agreste Baiano, onde Alagoinhas está localizada, com 4,36% da previsão de arrecadação do imposto.

Agora observem que todos os outros 24 Territórios de Identidade do Estado alternam-se em valores entre zero virgula alguma coisa (0,x) e um virgula qualquer tanto (1,y) de porcentagem da arrecadação estadual de ICMS. 

Salvador e cidades próximas são mais desenvolvidas. E as pessoas, como cantavam os Lampirônicos, são atraídas a capital para buscar o capital (e outras “cositas” mais). À procura de emprego, na caça por estudos, garimpando oportunidades, na luta pela sobrevivência...

Há muito se fala em desenvolvimento dos pequenos municípios. Fixação do homem no campo, melhorias na infraestrutura das cidades menores, surgimento de outras metrópoles no Estado, etc.

Muitos defendem a atração de indústrias para o desenvolvimento das cidades menores. Pregam a liberação de recursos e concessões diversas para seduzir empreendimentos fabris, médios ou pequenos, a instalarem unidades no interior. 

A medida já tentada em alguns lugares foi como ouro de tolo. As unidades chegaram, levaram alguns subempregos e tiraram seus lucros. Depois, por qualquer tendência econômica, fecharam as portas e deixaram um cenário de abandono e desemprego. Aí Tiriricou: “pior do que tava, ficou”.

Urge o encontro de um caminho para o desenvolvimento do interior. Um rumo guiado por estratégias lastreadas pelo potencial dos próprios municípios. Um horizonte destinado a prosperidade equitativa da Bahia. Um norte para termos geração de renda espacialmente distribuída em nosso estado.

Naquele 23 de junho, véspera do São João, a minha constante vontade de ver estes caminhos percorridos gritavam em meus pensamentos enquanto eu tomava o meu “caminho da roça”.