4.9.17

A esportiva é desconsiderada até no esporte



 Goleiro sentiu-se ofendido com editorial do Extra

Onde começa e onde termina a linha limítrofe entre crítica e ofensa?

A divisão é muito tênue. E, talvez por isso, não raro, há quem perceba em toda crítica uma ofensa grave.

Matéria do Uol aborda a repercussão e a resposta do goleiro Alex “Muralha”, do Flamengo, após editorial do jornal esportivo Extra, e apresenta a integra dos escritos.   

O trecho abaixo parece resumir o sentimento da resposta do guarda-metas:

“Isso está longe de ser uma brincadeira. A palavra é humilhação, é execração pública”.

Bateu a curiosidade e segui na leitura da matéria até chegar na reprodução do editorial do Extra.

Jornal - O editorial diz que, a partir das mais recentes atuações do goleiro, o jornal não vai mais chamá-lo pelo apelido, “Alex Muralha”, mas sim pelo nome: Alex Roberto.

(Comportamento já adotado por torcedores do Flamengo no twitter há um tempo)

Na opinião do jornal, o goleiro não merece mais a alcunha de “Muralha” pois desmoralizou o apelido “levando um frango no jogo contra o Paraná pela Primeira Liga. Além de ter errado 100% dos lados nas cobranças de pênaltis”.

O jornal alega que assim o faz “em nome da precisão jornalística” e promete rever sua decisão caso Alex Roberto faça por merecer o apelido de “Muralha” novamente.

Voltei a ler o editorial e li outra vez procurando a “humilhação” e a “execração pública”. Não encontrei. Será miopia minha?

E outra pergunta: um goleiro que toma frango e erra todos os lados em seis pênaltis merece ser chamado de... “Muralha”?

O jornal sequer inventou um apelido novo em homenagem a fase atual do goleiro, apenas comunicou que passará a chamá-lo pelo nome de batismo.

Na resposta do goleiro ao jornal há ainda um possível temor:

“O termo ‘vulgo’, que citam no texto a meu respeito, é normalmente usado para designar bandido, e isso causa constrangimento. É um fato que pode até incitar a violência...”

Para mim, o trecho acima quis forçar um pouco a barra.

No editorial do Extra, o “vulgo” não é empregado para se referir ao goleiro em sí. O termo aparece como uma espécie de sinônimo para “apelido”, quando diz que “Alex Roberto desmoralizou o vulgo”, ou seja desmoralizou o apelido de “Muralha”. 

Torcida - Claro, o temor do goleiro não é de todo despropositado. A história registra diversos exemplos de complicações nas relações entre jogadores em má fase e torcida. Alguns torcedores (se é que podem ser chamados assim) partem mesmo para a agressividade.

No entanto, os jogadores, como ídolos e personagens centrais no palco do espetáculo chamado futebol, tem um local privilegiado e deviam, a partir desta condição, dar o exemplo e desestimular comportamento raivosos.

Desta forma, ao meu ver, o posicionamento mais adequado do goleiro Alex (Roberto ou Muralha) ou de sua assessoria de comunicação seria, ao invés de tentar revidar, rebater ou acusar o jornal, levar o caso na esportiva.

Eu proporia uma resposta mais ou menos nos termos abaixo:

Olá pessoal do jornal Extra!

Confesso ter ficado triste, ao ler o editorial da edição XXX, informando que vocês (por enquanto) não vão mais me chamar de Muralha. Triste porque ganhei esse apelido em reconhecimento a um trabalho de anos. De fato, vivo uma fase ruim, mas o que é uma fase diante de uma carreira repleta de momentos gloriosos? Não dá para julgar o trabalho de um goleiro por um jogo infeliz, não acham? Até porque sei que esta fase ruim passa logo. Então eu voltarei a ser o Muralha de sempre, o goleiro querido e admirado por todos vocês. Estou treinando e me esforçando bastante para corrigir falhas, aprimorar técnica e ser um profissional cada vez melhor. Aí vocês voltarão a me chamar de Muralha. Quem sabe uma muralha tão grande quanto a da China. E assim como o paredão chinês é diferenciado, ao ponto de ser visto até do céu, também serei percebido como um goleiro de destaque incontestável. Um goleiro Extra, tal e qual o jornal de vocês.

Um grande abraço!


Uma resposta nestes termos seria um jeito de aceitar a crítica, reconhecer o momento ruim e mostrar comprometimento e fé no futuro, além de ser uma forma de “levar na esportiva”.

Infelizmente, nestes tempos sombrios a esportiva tem sido desconsiderada até mesmo no esporte. O ódio está ganhando de goleada. E o futebol corre o risco de virar campo de batalha. No gramado, na arquibancada e na mídia.

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