5.10.18

A mídia e o tempero do culto à violência



Ilustração colhida no site www.ipvi.pt  


Aparentemente vivemos em tempos de culto à violência. Digo isto pela crença, demonstrada por muitas pessoas, na própria violência para resolver o problema da violência. 

Este sentimento, imagino, não nasce de uma hora para outra. Ele vem crescendo diante de um caldo de cultura (para usar uma expressão in de agora) formado ao longo dos tempos. 

Pensei no tema deste texto depois de ouvir um parente dizer: “Fulano de tal é que tá certo, tem de matar esses vagabundos tudo”. 

"Fulano de tal" é um conhecido âncora de programa de rádio e de TV. 

Certa feita, um motorista de aplicativo disse: “Tem de acabar com esse Direitos Humanos”.

Talvez ele nem lembrasse da sua condição de humano e, portanto, detentor do direito ao qual desejava aniquilar. 

Diante dos comentários, fico me perguntando qual relação poderíamos fazer entre este “culto” de agora pela solução violenta e os programas popularescos de TV, nos quais há um bom tempo a violência quase sempre é apresentada como um thriller policial.

Perseguições, frases de efeitos, helicópteros, corpos, grita por soluções simplórias para problemas complexos... 

De repente pode ser uma boa provocação pensar o quanto muitos dos programas popularescos de rádio e TV são responsáveis pela crença das pessoas na violência para solucionar os males da violência. 

Eles já são nossos velhos conhecidos. Talvez tenham até se abrandado um pouco, mas, vale lembrar, possivelmente uma geração tenha sido criança, passado pela adolescência e chegado a adulto, tendo este tipo de programa midiático no cardápio do almoço ou jantar. 

Posso estar errado, mas não deixo de suspeitar que tamanha exposição, naturalização e simplificação da violência tenha se tornado tempero ou ingrediente deste caldo indigesto de culto à violência, presente no nosso menu social. 

Roberto Martins

05/09/18
Inverno.