25.12.08

De um Natal a outro: Entrevista com Jong de Cerqueira

Jong de Cerqueira "aboiando" no Deserto da Califórnia


No Irará de hoje, poucos jovens devem ter ouvido falar em Jong de Cerqueira. Talvez nem mesmo seus pais. Estes, certamente conhecem Jonga de Nôca.

Conversei com Jong na véspera do Natal de 2007. O bate-papo aconteceu na varanda do “Artesanato Oh! de Casa” e contou com participação do anfitrião, Zé de Aristides.

O cantor, compositor e produtor musical contou algumas peripécias de sua carreira. A frustração das músicas de má qualidade que fazem sucesso. Suas produções em Portugal. Como usou da inspiração de um numerólogo para trocar o nome de “Jonga” para “Jong de Cerqueira”.

Falou também do clipe gravado com cenas feitas em Irará e na California - EUA. Os projetos musicais desenvolvidos na juventude iraraense, como o Concerto Baiano e Os Playboys da Bossa. A invenção de um personagem (Ricardo Miranda). E suas influências do vaqueiro aboiador.

O traço de inspiração no vaqueiro da fazenda, tão perceptível no canto de Jong, está presente até quando está conversando. Jong fala rápido, às vezes, ao tempo em que está falando um assunto, mal conclui a sentença, e já está em outro lá frente...
.
Assista clipe da música “Sonho de um Guerreiro”
[este clipe conta com participação de pessoas de Irará e cenas no Coreto e outro lugares do municipio]

Leia abaixo alguns trechos dos 40 minutos de conversa:


Aceitação do trabalho no Brasil

São Paulo é interessante, Rio de janeiro é interessante.... Uma vez eu fui abrir o show de Zé Ramalho em Uberaba, tinha lá dez mil pessoas e tal, mas o legal foi um show que eu fiz com um bandão lá no Festival de São Cristovão em Sergipe.

Esse tinha umas doze mil pessoas (eu e o Chico César). Esse foi bom. Um som pesado, uma banda pesada e trabalhando com uma boa equipe de apóio que parecia ter trezentos anos tocando...

Cultura baiana

Eu fui dá uma entrevista na TV Cultura e disse que havia acontecido um genocídio cultural na Bahia e que tinham decepado a cabeça da cultura. E as pessoas que fizeram isso, eles não tinham idéia da miséria que eles tavam fazendo, porque foram 20 anos decepados. Não adianta que você não recupera aquilo mais. Então foi uma época que morreu pra Bahia, a cultura. Porque nós (baianos) hoje estamos sendo motivos de risos do paulista.

Você não vê nada de novo. Você ver uma cultura pré-estabelecida, manipulada e que você ver um, ver todos, como se fosse assim um carrinho... “vumbora, passa, próximo, próximo, próximo (faz som como se fosse aboiando gado).

[Jong critica a cultura do Jabá, dos produtores que controlam a situação, etc]

Influências e caracterização de sua música

Eu trago células do rock, quer dizer, a minha música eu não sei nem explicar o que ela é. Porque ela veio lá da fazenda, de lá de Água Fria, do interior, Fazenda Paudarco, que pertencia a Irará na época. Ela veio de lá.

O boiadeiro, o vaqueiro que me ensinou a aboiar veio de Água Fria (que era Miro Boiadeiro), os outros vieram da fazenda que não sabia nem ler, nem escrever e andava descalço.

E eu trouxe essa influência do Rock Progressivo Pesado no meio de tudo isso. Então o canto é latino, porque também não adianta o novo fazendo o velho, como diz o Tom Tavares da Rádio Educadora...

Disco pra descontar no Imposto de Renda

Chegou o momento que pensei: “tô cansado, vou parar”. Aí surgiu o negócio do movimento da lambada. Eu falei: “mas isso eu já fazia há dez anos!”. Lembra? Jonga e Damasceno? [pergunta para Zé Nogueira que rir e faz sinal afirmativo]. Aquela história de “... birô/birô- birô/birô / eu quero ir às galáxias...” [cantarola].

Aí eu Falei: “vou fazer um disco desse, porque eu tô duro e vou pegar um dinheiro”. Não era pra valer nada mesmo, era para descontar no imposto de renda. Mas não é que eu fiz o disco e o cara da Gravadora Continental lá disse assim: “isso é pra descontar no imposto de renda”. Eu olhei pra cara do cara...

Mas fazer o que né? Comemorar lá embaixo, porque eu também não tava ligando, porque o disco era uma merda. Mas não é que chegaram os franceses levaram dois fonogramas, botaram o disco no álbum e “boom!”, minha música estourou em Paris.

Aí fui fazer o trabalho de lambada, quando chegava lá na Europa, por exemplo, morei na Alemanha dois anos, fui pra Portugal, fui produtor de discos, lá na Som Livre, na Globo e tal, trabalhei tudo que é canto...


Nasce “Ricardo Miranda”

Eu fui pra Portugal. Aí em Portugal, mais revoltado ainda porque ninguém bancava e quando eu mostrava ninguém queria ouvir, eu falei: “Vou criar um personagem mais brega do que Waldick”.

Já produzi a Rosa Neir, já produzi a Eva Campos fazendo música brega, ela ganhou o disco de prata. Ai falei: “O povo daqui só quer isso”. Foi em 82, eu pensei: “O povo daqui tá mais atrasado do que no Brasil nos anos quarenta”.

Eu digo: “Ah é!?”. Aí fiquei puto. Peguei uma rosa botei aqui [faz gesto como se fosse a lapela de um paletó], botei um chapéu e disse: “Vou fazer uma música brega”. Peguei uma música de não sei quem e fiz.

Não é que estorou? Aí eu digo: “Que azar!”. [Muitos risos de Roberto e Zé Nogueira] “De novo cara!”. Estorou bicho e eu ganhava dinheiro como água. Aí eu tomava meia garrafa de wisk, puto - quer dizer frustrado, bêbado no fundo do palco cantando: “encosta a tua cabecinha...” E o povo “Ahh!” [ faz gestos de fã em aprovação com os braços]

Ricardo Miranda era um personagem da novela da Globo. Um cara que parece que tem o meu biótipo. Era um cara cheio de mulheres. E eu peguei o personagem...

Aí quando eu chegava numa rádio o povo: “Ricardo Miranda! Ricardo Miranda taí! Ricardo Miranda!”. Ai a mãe dele [aponta pro filho Gabriel] dava risada. “Jonga que porra é essa? O Pessoal tá desesperado”. A música estourou em dois meses. Foi dois meses assim.

Eu digo: “Meu Deus! Não é possível. Eu to fudido”.

Aí eu pegava rosa, jogava rosa pro povo, bêbado. Beijava a rosa. Aquelas veias dizendo: “Ricardo Miranda” [imita voz de banguela]. Bicho! Era tanto show, tanto dinheiro, que eu não sabia o que fazia.

[segundo Jong o personagem “Ricardo Miranda” era interpretado pelo ator José Mayer]

Indagação porque a própria música não deslanchava

Quer dizer; tudo que eu fazia dava certo, menos minha música. Aí Tom Zé disse assim pra mim: “Você é um felizardo, porque você sabe fazer essas coisas [música de apelo popular], tem saída, eu não sei fazer nada só sei fazer isso [referindo-se a música de mais qualidade]”.

Um português como mecenas

Quando eu tava pra desistir, “vou-me embora dessa merda, essa música não vale é nada, esse povo ta querendo me enganar”, mostrei meu projeto para um português. Aí o português disse: “vou bancar você”.

Ele pagou sessenta mil dólares para fazer um disco até com (?), esse disco [A Dança da Floresta] que fez o clipe na Califórnia, fez MTV e tive de lançar aqui [refere-se ao clipe da música “Sonho de um Guerreiro”.

Aqui quis lançar uma gravadora. Faliu, porque o pessoal tava despreparado para aquilo. (...)Armandinho disse: “Essa música tá a vinte anos na frente bicho. Como é que tu quer botar uma música dessa agora?”.

Mudando o nome pra Jong

O nome era Jonga. Ai tinha um cara chamado Jonga que era pagodeiro lá em Salvador. Eu digo assim: “vai queimar”. Nego: “Jonga!”. Ai eu falei “não”. Fui pro numerólogo e aí falei “vou tirar o ‘a’” e botei “de Cerqueira” que é de família. Então ficou assim um nome bem estiloso: “Jong de Cerqueira”. É forte.

Roberto – Mas fala “Jong” [meio que pronunciando no inglês meio como JHONG] ou Jong [JONG como aparece a grafia em português] ?

Jong – Jong de Cerqueira [ mais para a pronuncia do inglês]
[ risos e mais risos de Zé Nogueira]

Roberto – Foi o numerólogo que mandou você tirar o “a” ou foi você mesmo que...

Jong – Não, o numerólogo... Eu fui lá no numerólogo. Ai ele me deu aquela coisa de numerologia e eu disse: “eu mesmo vou estudar isso, eu mesmo vou fazer”.

Roberto – Você mesmo foi o numerólogo.

Jong – É... eu e a mãe de Gabriel que fizemos juntos [ risos ]

“Não, não! Esse número não, que dá errado aí! Aqui dá fortuna, dá não sei o que...” Aí fizemos e eu falei: “Então tá bom esse aqui”. Aí eu medi Jong de Cerqueira, eu falei: “é esse aqui, agora vou parar aqui”.

Roberto – Você acha que melhorou com a mudança de nome?

Jong – Rapaz, eu não sei se melhorou não, mas eu tô feliz porque eu faço a música do jeito que eu sempre quis fazer. Eu levei quarenta anos estudando isso.

Sobrevivendo com a música que gosta

Uma vez melhor, outra não melhor... Eu não tô ligando pra isso não. O importante de tudo isso é você tá feliz consigo mesmo. Você olhar pra você e dizer: “Eu tô feliz?”. Você acordar de manhã e dizer assim: “Porra, tô feliz!”.

Antigamente eu tava vindo de Portugal, eu tava cheio de dólar, de uma maneira bicho. Eu olhava pra mim e dizia assim: “Mas o que é que eu vou fazer hoje meu Deus? Eu vou gastar fazendo o que?” [ risos de Zé Nogueira ]. Já não bebia mais, porque não agüentava mais. Eu bebia todos os wisk melhor do mundo, já não agüentava mais. Então eu digo: “Mas o que é que eu vou fazer com isso? eu tenho que detonar”. Mulheres do cassete, eu já não agüentava mais, não sabia o que fazer.

Aí sabe de uma, eu não tenho saudade daquele dinheiro, é um dinheiro maldito. Olhe, quem ouvir o meu conselho não vai por aí. Seja fiel a você mesmo, pronto. É o que eu tenho pra mandar. Seja fiel aos seus princípios que você vai ser feliz. Você quer ser um lixeiro? Vá!

Grupos em Irará

Aquilo ali [o Concerto Baiano] foi uma experiência muito boa. Eu e Damasceno ali, a gente botou pra quebrar, foi ótimo, foi ótimo aquilo ali. Uma época interessante, a gente arrepiou, pintou o sete.

(...)

Tinha banda aqui. A gente tinha conjunto aqui, não me lembro que conjunto. Era eu, Val de Guga, Aniceto, Alfredinho, tinha Quincas do bar, Aloísio trompete...

Era os Playboys da Bossa. Eu tocava acordeom, depois tocava guitarra, era cantor... Tocava em bailes por aí a fora tudo.

Roberto – Foi nessa época que surgiu o “Eu quero ir às Galáxias” ?

Jong – Depois disso. Me expulsaram do conjunto. Ai eu me juntei com Damasceno, Diógenes, Bebeto... A gente se juntava todo mundo, e aí a gente montou esse disco.

(...)

Aí criou a história, espalhou que eu ia fazer um novo conjunto. Um auê na cidade. As mulheres tudo em volta da gente, que a gente era boa pinta. [risos]

Roberto – Mas não chegou a fazer um novo conjunto?

Jong – Não. É que foi só... daí saiu pro Concerto Baiano.

Roberto – Que era um conjunto?

Jong – Era. Era uma dupla, eu e Zé Damasceno.

Roberto – Ah... Você e Zé Damasceno.

Jong
– Era.

Roberto – E aí vocês gravaram o “Eu quero ir às galáxias” ?

Jong – Gravaram. Tocou muito aqui, chegou ainda a primeiro lugar ainda...

Roberto – Gravou um disco mesmo ou só essa música?

Jong – Não. Gravei as duas, era um compacto o disco.

Roberto – E esse compacto tocou nas rádios...?

Jong – Tocou. Feira de Santana não parava de tocar, em Salvador, Rio de Janeiro, tocava lá também, bastante.

Cassino do Chacrinha e viagem com Toiíto

uma vez eu fui pro Chacrinha mais um primo meu Toiíto. Tu lembra de Toiíto? [pergunta pra Zé]. Rapaz foi incrível aquilo ali. Fomos tocar em Chacrinha e ganhamos. “Xô xua, cada macaco no seu galho...” [ cantando ]

Ai nós vimos de lá pra cá. Eu fui pra São Paulo com Toiíto, eu era moleque, Toiíto já era formado em Sociologia. Toiíto passando uma fome do cassete, eu também, no meio da história, não podia dizer a papai que tava mal também... “Você volta Jonga?” Eu falei: “Eu não vou voltar nada”. E aí no meio do caminho a gente vinha embora e tal. No meio do caminho, faltou comida bicho e Toiíto começou a ficar amarelo. E a gente: “Cara!” Eu falei: “Bicho, Toiíto não vai agüentar” Eu era jovem, muito forte, lutava box. Toito seco, habituado a tomar pau da época dos comunistas.

Tropicalistas e consciência musical

É tanto que Caetano, Gil e Betânia estavam no Teatro Vila Velha, fazendo esse movimento que mais tarde se tornou o Tropicália. Que Tom Zé cantava: “Bate macumba êêh êêh/ bat macumba êah/ ..”. [ canta ]. Eu falei: “Tom Zé, essa música é boa”. “Retocai o céu de anil...” [ canta ]. “Boa!”.

Depois ele me cantava uma outra, que eu falei: “Tom Zé, eu não gosto dessa música não”. Ele cantava uma de Caetano também que eu não gostava, e mais tarde (?). Mas é porque eu tava habituado... Era cantor de banda de baile. Imitando Roberto Carlos, Jerry Adriane, não sei o quê.

Roberto – Foi o quê, conseqüência da vida, você não se incorporou ao grupo do Vila Velha na época?

Jong – Não. Eu era menino, não tinha consciência nenhuma. Eu era um borra botas bicho. Eu era um moleque, tomador de cachaça, que cantava numa banda de baile nem sabia que porra era nada. Comecei a ler livros comunistas, que a filha de João Santana me deu...

Aí comecei a tomar consciência daí. Mas eu era um moleque. Tom Zé já era... Eu tocava aquelas besteiras de banda de baile, só. Anos mais tarde, depois do Concerto Baiano, depois que eu comecei a fazer... Aos vinte e três anos. Larguei o Concerto Baiano por aí.

Aí quando deu vinte e cinco anos à vinte e sete, é que eu comecei a tomar nova consciência de uma nova música. Eu comecei a fazer shows. Fiz um trabalho aqui na fazenda em Água Fria, na Fazenda das Árvores... Foi aí que eu vim tomar consciência de uma nova música. Ai é que eu vim fazer...

Galvão dos Novos Baianos residindo em Irará

Galvão chegou aqui por que foi ser Engenheiro da Ancarba.

Roberto – Ancarba era o quê...?

Zé Nogueira – Ancarba era o que é hoje a EBDA.
Jong – E Galvão doido. Se juntou comigo e Diógenes...

Roberto – Engenheiro Agrônomo ele?

Jong – É. Ai começou a falar de música, não sei o quê, não sei o quê...
Mais tarde trouxe Morais Moreira aqui, e foi que juntou os dois aí.

Zé Nogueira – E criou um time de futebol de salão.

Jong – Criou o time de futebol de salão... Ai depois ele foi pra Salvador. Quando foi em Salvador disse: “Quem vai me visitar? Macaco 24” Que era no Largo 02 de Julho. Eu fui pra lá, pronto, era uma vez... Nunca mais eu vi Moreira. [risos]

(...)

Nossa!! Muito inteligente. Simples! Todo mundo gostava dele aqui. A juventude toda...

A juventude gostava dele sabe por quê? Por que geralmente quando os doutores chegavam aqui, ficava o Juiz, Promotor... O doutor da Ancarba... E ele não era nada disso. Ele botou pra quebrar! Botava dez pessoas naquele jipe dele. O jipe todo descabelado [ risos de Zé Nogueira]. Ai a mulher da Ancarba que era chefe, ficou puta da vida, foi denunciar ele, botaram ele pra rua. Foi aí que ele disse: “Eu não vou ser empregado mais de ninguém!”. Pegou Morais, que ele tinha uma fábrica de granito, e botou o primo dele pra tomar conta, e sustentava ele de lá da Bahia.

No programa de Raul Gil

Um dia eu to lá num restaurante, com um amigo meu que tava fazendo um show, encontro a secretária de Raul Gil. Ai comecei a falar que eu fui na Califórnia... ela disse: “Você tem o que?”. Rapaz!

No outro dia a mulher enlouqueceu! Ligou pra mim: “Tome meu celular, meu diretor disse que você tá na pauta, não sei o quê”. Bicho, não me largou mais.

Ai eu fui lá fazer. Falei: “Cara... Se esse pessoal... Se os gaiatos aqui disser que não gostou...”. Foram cem mil dólares bicho gasto ali...

Roberto – Mas lhe colocaram no quadro dos calouros né?

Jong – Não! Não é calouro aquilo não. Boca do povo. Você tinha um disco. Você era novo e tinha um disco. Ai chegava lá e dizia assim: “Vai pra boca do povo ou boca do forno?”. Você tinha que ter um disco. Se todo mundo dissesse: “Boca do povo”. Você voltava semana que vem, cantando como convidado especial. Se não, você ia embora dali e acabou a história. Não tinha nada de calouro ali. E eu cantando a minha música: “A dança do índio”.

Acontece que eu dei uma rasteira em todo mundo ali, que nego ficou com medo até de falar alguma coisa. Falava e ficava com medo. De falar alguma coisa e tá falando bobagem. E eu falei logo que aquilo era um trabalho sobre (?)... Que era um trabalho sério. Que vinte pessoas tinham se suicidado e que ninguém tomou providencia. Que tinham roubado a identidade do índio... E não sei o quê.

Roberto – Esse acidente foi de onde?

Jong – Goiás. Vinte jovens de dezenove anos que começaram a se matar e de repente dezenove de vez se matou. E ninguém procurou saber.

Ai eles ficaram tudo cabrero: “Pô, esse cara chegou aqui”. Pronto. Os caras me botaram na outra semana seguinte e pronto. Eu falei assim: “Então...”.

E o cara me botava, eu ia cantar uma música, os caras tudo: “Não pêra ê, canta mais uma”. Nego paga trinta mil reais, quarenta, pra fazer ali, eu não paguei um centavo, e o cara puxando o meu saco daquele jeito! Eu digo: “Porra! Tô com a bola aqui viu!”. Eu falei com Raul: “Raul... Porra, o que isso aí?”. “Ah não! você é maravilhoso, você é um sucesso!”. “Porra! É mesmo Raul?”. “É”. Eu disse: “Porra!”

Zé Nogueira – Botou o cara lá em cima o Raul né?

Jong – “O que ta acontecendo aqui?!”. Ai ele: “Â!” [susto]. Eu digo: “Aqui, talvez seja o princípio do movimento cultural que o Brasil está precisando! É muito sério isso aqui”. Ai ele... [muitos risos de Zé Nogueira]... Eu tenho o DVD.

Roberto – Ai voltou na outra semana.

Jong – Voltei. Tocou em cento e vinte sete países. Depois falei: “Vou quetá”.

Roberto – Cento e vinte e sete países é o que? A transmissão do programa?

Jong - Cento e vinte países viram a transmissão do programa simultânea. Ai eu falei: “Vou parar um pouco com isso daqui, que eu já sei que dá certo”. Porque eu tenho que fazer um trabalho conjugado. Eu não posso fazer um trabalho se não há realmente sustentação ainda econômica pra isso.

Desconhecimento do trabalho em Irará

Rapaz, eu achava que ninguém nem sabia quem era eu mais! Eu fiz um clipe aqui em Irará. O clipe que eu fiz, que eu fiz uma metade na casa de vó, eu fiz aqui em Irará. O prefeito chegou botou aquelas coisas, veio a Burrinha...

Roberto – O prefeito na época era Antônio Campos...

Jong – Não me lembro quem era não. Mas foi gente boa, me tratou muito bem. Mas ninguém fez nada não...

Roberto – Inclusive, ele fez uma ponta no clipe né?

Jong – Fez. Mas eu não me lembro de mais nada, de ninguém ter feito proposta nenhuma e achava que ninguém ia se interessar por minha música.

[O Prefeito da época era mesmo Antônio Campos que aparece no clipe como um dos cavaleiros, usando o seu costumeiro chapéu]

Ainda vai às galáxias?

Que... Aquilo ali é coisa do passado. Eu era moleque ali. Moleque que era fumador de maconha e tudo. Era só isso naquela época. Hoje mais não. Hoje eu sou um senhor... Pai de Gabriel, um cara sério...

Tem noticias ou acompanha o Irará de hoje?

Não. Nada, nada. Eu gostaria até. Gostaria mesmo. De abrir uma “bandão” pesada. Se eu visse uma banda moderna, jovial. Eu até, de repente, podia fazer até alguma coisa, sei lá.

Roberto – No mais, é uma visita aqui à família uma vez por ano...

Jong – Só, só. Não. Que nada. Tem não sei quanto tempo que eu não venho cá em Irará. Às vezes eu passava dois anos, três, sem vim aqui. É só isso.


Também trabalhou na transcrição de entrevista Katiene Suzart
Foto: Proviniente do site da
Atividade Produtora -
Vídeo disponivel no Youtube

Agradecimentos:
Ao amigo Eloy e também a Jaciara e Iracema, irmãos de Jong e a Sr. Nôca, pai, que possibilitaram o encontro para essa entrevista.
À Zé Nogueira pelo local da entrevista.

4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns Roberto pela bela entrevista!!
Jong é uma figura irreverente,ímpar, fantástico.

Anônimo disse...

Parabéns Roberto pela maravilhosa entrevista!!
Jong é sem dúvida uma figura irreverente, única, fantástico.

Unknown disse...

oi,amigão vc foi de um poder de captação incrível.dei tanta risada.parece que vc roubou minha alma.vamos tentar encaminhar pro jô Soares........parabens.....abraços........jong de cerqueira .

Anônimo disse...

Achei fantástica a entrevista, me diverti mto, esse cara é mto engraçado e mto inteligente tmb. Não sabia q ele carregava consigo toda essa história. Mta cultura!!! Percebe-se mesmo q atualmente a cultura da nossa Bahia está msmo adormecida e precisamos de mtos JONG'S para gritar e fazer renascer a nossa cultura.
Parabéns Roberto Martins!!