A Casa da Cultura de Irará realizou no sábado, dia 29 de janeiro, a segunda mostra fotográfica do mandato atual. Com imagens captadas por Zé Falcón, estudante de jornalismo na Universidade Federal da Bahia – UFBA, a mostra pretendia chamar a atenção da população iraraense para a beleza que existe “escondida” no dia a dia da comunidade.
Cartaz da Exposição mostra foto de transeunte da Feira Livre
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O titulo, “A Riqueza de Irará”, foi inspirado no pensamento de Edimário Duplat. Estudante do curso de Produção em Comunicação e Cultura da mesma Universidade. Edimário, quando conheceu Irará em julho de 2003, afirmou que “o maior patrimônio de Irará são as pessoas” e diante da própria afirmação se questionava: “O que faz essa gente ser assim? É a água?”. Seja pela água ou pelo fogo abrasador de quem é “nascido da luz do sol” (1), o certo é que a revelação reflete a riqueza de um de povo que parecia estar se descobrindo.
Açougueiro admirado com própria imagem
Fotos expostas nas paredes, olhos brilhando nas faces. Para alguns, era difícil se imaginar retratados em reproduções, digamos... artísticas. D. Andreza, vendedora da barraca de sandálias na feira de Irará, confessou: “Eu já tirei muitas fotos rindo, mas nunca com um sorriso assim”. Emoção mesmo sentiu o açougueiro, apontando em estado de contemplação para sua imagem. Saiu, voltou, trouxe amigos para ver. O mesmo se deu com a senhora que vende mangaba.
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A jovem grávida exclamou, “aqui!”. Na foto, o policial alisava o seu ventre aguardando um próximo rico iraranese. A menina do caldo de cana e sua mãe concederam entrevista para a TV Subaé. Depois de se reconhecerem em fotografias, identificar-se-iam no vídeo, via jornalismo televisivo de Feira de Santana. A TV reportou, cartazes, “mosquitinhos”, “boca a boca”, ainda assim, nem todos ficaram sabendo do evento. Talvez por isso, não foram se ver retratados. Outros, como o moço que teve sua imagem publicada no cartaz, ouviram dizer por terceiros. “Ele é meu sobrinho, vou contar pra ele”, disse a tia do “modelo”. Teve quem saísse sem nada comentar. E para alguns, aquilo tudo era estranho.
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“Eles tiraram fotos até dos feirantes”. Pobre senhora, nem percebeu na sua afirmação a discriminação arraigada na sociedade brasileira há séculos. Aquela de que gente só são os nobres, políticos, celebridades, os VIPs (do inglês, very important person). Pessoas importantes mesmo, são eles. Os construtores do município, aqueles que fazem o dia a dia e movem a economia e a vida local. Quem sabe já com esta percepção, a funcionária da limpeza pública municipal questionou: “Por que não faz uma com os garis também?”. “Boa idéia”, respondeu Roberto Martins, presidente da Casa da Cultura, certificando seu pensamento de que uma verdadeira política cultural deve mexer ai, na auto-estima das pessoas. Assim eles se sentirão gente, povo, nação, edificando a sua identidade.
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Noção de política pública não pura e simplesmente apaixonada, mas já com a sua dose de racionalismo. Admitindo a não rejeição do pensamento vigente, mas pensando em maneiras de como usufruí-lo para depois nega-lo. Sendo assim, nada de mais estando em pleno circuito festivo, colocar um bar na exposição. Isso permitiu o seu parcial funcionamento durante a noite, visto que as fotos maiores permaneceram nas paredes e possibilitou sua visão até para aqueles que não se importavam em ver a Mostra Fotográfica. “Isso aqui não é exposição não. Isso aqui é um bar. Só que botaram esse negocio ai”. Explicou um popular em plena festa, não percebendo a riqueza de Irará e ficando um pouco mais pobre.
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Com uma exposição que mostrava as pessoas de Irará em meio à maior festa popular do município, a festa da padroeira, a Casa da Cultura realizou mais uma etapa de sua atividade. Gratos a todos que contribuíram. Sr. Raimundo Ribeiro pelo espaço, Viva Irará pelas esteiras, Casa do Artesão pelos potes e especialmente ao camarada Zé Falcón. Ele é desses que, como diria o conterrâneo Tom Zé, nasceu com defeito de fabricação e acredita que se apresentarmos a este povo a sua própria fortuna, pode começar a “nascer Jesus Cristo e Fidel Castro pra todo lado”.
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(1) Existe um quase consenso popular de que “Irará” em linguagem indígena quer dizer: nascido ou criado da luz do sol ou do dia. No entanto há dicionários de línguas indígenas a classificar “Irará” como animal mamífero que gosta de se alimentar de mel. Existem outras versões populares para o significado do nome da cidade.
"É preciso que a lente mágica enriqueça a visão humana"*
As pessoas. O povo. Na feira, nas ruas, no seu trabalho diário. Os indivíduos que constroem o Irará de cada dia. Alguns deles, sempre vemos, mas não sabemos nome, ou mesmo onde moram. Estas personalidades, e todas as outras não captadas pela lente de Zé Falcón, cada uma a seu modo, fazem este município ser o que é. Elas são o nosso maior patrimônio. A riqueza de Irará.
* Aspas de Carlos Drummond de Andrade.
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