30.11.07

Um tri-lema para a polícia e para a política

Entre as questões e assertivas feitas pelo Capitão Nascimento, personagem-narrador, interpretado pelo baiano Wagner Moura, no filme Tropa de Elite, quero direcionar uma para o segmento da política. Trata-se do tri-lema: “policial ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra”.
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Se, de acordo com o que o filme deixa transparecer, não há como fugir deste tri-lema para ser um policial, me parece que para exercer a política, também não existe outra escolha. Os que se corrompem, os que se omitem e os que vão à guerra, são os tipos mais freqüentes no meio político. Tal ambiente, aqui descrito, não se resume apenas à política partidária ou profissional, mas também se refere à participação política, por assim dizer.
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Os que se corrompem são os tipos que mais aparecem. E, por vezes, aparecem até, com relativa freqüência, nos grandes veículos de comunicação. Pessoas que usam influência ou participação em cargos públicos para benefício próprio e/ou de amigos.
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Neste grupo também estão os popularmente conhecidos “políticos corruptos”. Pessoas sem escrúpulos e sem nenhum receio de ser descoberto um dia ou de se beneficiar à custa do suor alheio. Alguém acreditando no “todo mundo rouba mesmo”, que se achou no direito de meter a mão também. Afinal, como diz o ditado, ele não iria “dá uma de freira no puteiro”.
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Os omissos figuram, basicamente, em duas linhas de atuação (se é que alguém omisso atua em alguma coisa). Há aqueles que enxergam no meio político muita roubalheira, falsidade, presunção, entre outros males, e pensam que é melhor ficar neutro, do que tomar qualquer posição possível. Outros desenvolvem uma visão fatalista, cheios de criticidade, pessimismo e uma boa dose de realismo, achando que o “mundo sempre foi assim”, e não será ele quem vai mudar.
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De tal modo, é preferível não se estressar, não colocar em risco a própria vida, ou consumi-la, dando “murro em ponta de faca”. É o pensamento de que é melhor ficar de fora das situações políticas, ser apenas mais um cidadão a cumprir seus deveres, pagar impostos e nada mais. O tipo: “vejo, sei, mas não ligo”. Neste pensamento, a posição é mesmo ser asa de caneco. Ficar de fora.
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Na ponta final do tri-lema, estão os que vão para guerra. Na visão de muitos, são os “loucos”, os “utópicos”, os “certinhos”, os “radicais”, etc. Pessoas que não abrem mão de suas convicções e, por incrível que possa parecer, acreditam na política como o meio de transformação da sociedade. Para melhor, é claro. “Acreditam nas flores vencendo o canhão”. Em resumo, são seres dotados de paciência, com fé no futuro, mesmo que seja para usufruto das próximas gerações. Estes têm sido o tipo mais raro.
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Em um belo texto intitulado “
Sobre Política e Jardinagem”, o educador Rubem Alves, escreve para “seduzir jovens à vocação política”. Na sua diferenciação entre os políticos por vocação, que fazem política por amor, e os políticos por profissão, quem a exerce por dinheiro, Alves, com seus argumentos convincentes, pode até seduzir jovens a se alistarem para a guerra da política, mas não deixa de fazer um reconhecimento:
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“O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de ser confundido com gigolôs e de ter de conviver com gigolôs”.
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Os corajosos que vão à luta precisam estar munidos de bons armamentos e munição precisa. Entre tantos “artifícios bélicos” necessários é imprescindível ter “estomago de avestruz”, “sangue de barata” e uma boa dosagem de paciência.
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Pois é. Como algum pensador (se não me engano Aristóteles) já disse, todo homem e toda mulher é um ser político. O tri-lema então está posto diante de todos. No script político que ai estar, cada um vai ter de definir o seu papel. Escolher entre um dos pontos do tri-lema é a missão. Oh! Missão.


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