7.12.07

Mandioca e agricultura em debate

Em maio de 2001, o Diretório Municipal do PT (Partido dos Trabalhadores) de Irará publicou a edição de número cinco do seu informe-ativo, denominado “O TREZE”. Contribui com a edição, co-produção, escrita de alguns textos e até com a diagramação. Nosso amigo Marcilio Cerqueira, além de co-produzir, também fez ilustrações para o jornal.
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A edição trazia uma entrevista com o técnico agrícola Cássio Alvim. Mineiro de nascimento, Cássio veio para a Bahia trabalhar na EMATERBA (atual EBDA) e, depois de passar por outras cidades, atuou em Irará, até ser transferido para Conceição do Jacuípe. Nos anos que trabalhou em Irará, Alvim se tornou um conhecedor da agricultura local, das suas dificuldades e potencialidades.
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Por ocasião da Feira Regional da Mandioca, momento em que se evidenciam os debates acerca da cadeia produtiva mandioqueira, aproveito para publicar aqui algumas das considerações feitas por Cássio Alvim na referida entrevista, com relação a mandioca e a agricultura local.
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Como serão observadas pelo leitor, algumas das afirmações feitas por Cássio, naquela noite de abril de 2001, ainda são atuais, para o bem ou para o mal, seis anos depois.
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Trechos da entrevista com Cássio Alvim

O TREZE: intenção de discutir temas do município

Cenário iraraense

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“Em Irará se tem uma reforma agrária natural, só temos basicamente pequenos produtores, a média de área de propriedade rural é cinco hectares, conta-se nos dedos os que têm mais, e não são o que podem se chamar de grandes produtores”

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“Outra questão observada em Irará, que talvez não aconteça em outro lugar, é a concentração da população no meio rural. Uma média de 65% da população vive no meio rural, se observarmos outros municípios brasileiros a média não chega a 20%.”
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“A economia do município [Irará] é agrícola, não temos indústrias e, se o comércio existe, ele existe em função do meio rural e depende das pessoas que vendem a farinha e o fumo, sendo este último, outra questão problemática”

Relação Irará e outros mercados

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“Muitos atribuem a [má] situação à lei da oferta e da procura, mas não é bem assim. Se houvesse oferta em outros municípios da região, poderíamos falar que tal lei seria uma realidade, mas farinha se produz em Irará e a diferença do preço de um saco de farinha em Irará com relação a outros lugares distantes, trinta ou quarenta quilômetros, é muito grande”
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“Apesar de Nazaré das Farinhas ter essa fama toda, a farinha de Irará é considerada uma das melhores farinhas que existem e, mesmo com uma séria de misturas feitas com a farinha vinda do sul, a farinha de Irará é reconhecida e tem respeito na região.”
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“O Paraná não planta mandioca com o objetivo de produzir farinha. Na realidade eles produzem fécula, o povilho, o que conhecemos como tapioca. A parte que sobra é a parte fibrosa, vem pra cá e juntamente com a farinha iraraense, possuidora de um alto teor de amido, consegui-se um produto intermediário com um custo mais barato. Tanto que se a farinha do sul prestasse, não precisaria vir pra cá misturar com a nossa, eles venderiam direto para o consumidor. E para dá qualidade, ou seja, um melhor teor de amido, eles fazem essa mistura.”
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Produção e comercialização


“Irará é um dos maiores produtores [de mandioca] do estado. Temos de observar que a mandioca não produz somente a farinha, existem uma série de outras alternativas, porém só vemos os produtores de Irará explorando única e exclusivamente a farinha”
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“Sabemos que existem subprodutos da mandioca que poderiam ser aproveitados, por exemplo, na pecuária ração ou como adubo na agricultura”
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“Eu passei quatro anos trabalhando aqui na EBDA [Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário – Irará] e trouxemos uma boa variedade de mandioca, não só se falando em produtividade, mas também em coloração, afinal sabemos que a farinha produzida aqui é colorida artificialmente, então entendemos que existem variedades com a mesma condição de coloração da artificial”
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“Talvez [a coloração] não seria tão forte quanto a artificial, mas em termos de saúde seria bem melhor”
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“No que diz respeito ao preço, a mandioca teria condições de melhorar e muito com relação ao preço que está. Um Saco de farinha hoje [maio 2001], à media de oito reais, não cobre de forma nenhuma o que se chama de custo de produção, ou seja, aquilo que se gasta para a mesma. Aí você poderia perguntar: 'mas como é que ele planta se não cobre o que gasta?'Na realidade, ele só consegue produzir, porque usa a própria família, se fosse fazer comercialmente para pagar mão de obra externa, ele não poderia de forma alguma porque não haveria condições de se trabalhar no vermelho”
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“Se você for a um supermercado e vê farinha de Irará empacotada sendo vendida, verá que o preço dela é bem diferente do preço pago ao agricultor”
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“Organizando uma cooperativa teríamos condições de exportar para outros municípios, o nosso beiju empacotado e padronizado, porque pode-se ver lá fora, onde chega o produto de Irará todos elogiam, porém, individualmente não iremos conseguir nada. ”
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“Se tivéssemos uma instituição formal com CNPJ, nota fiscal e tudo, teríamos plena condição de vender a farinha às grandes redes de supermercado, sem a necessidade de intermediários”

Obs: Após a Primeira Feira da Mandioca (2004) foi criada a COOPRIL – Cooperativa dos Produtores de Rurais de Irará. Desde sua fundação, a entidade vem se esforçando na luta, para sanar dificuldades no setor agrícola.
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A íntegra foi publicada em O TREZE – Informe ativo do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores – Irará – Maio de 2001 – pag. 3 a pag. 6.
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Entrevista foi realizada por Roberto Martins e Agnaldo Francelino em uma dada noite de abril de 2001, na casa do entrevistado, situada à Rua de Ouriçangas em Irará – Ba.

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