O menino Toinho de Mariinha cresceu brincante entre animais e plantas no ambiente bucólico de comunidade rural do sertão onde, apesar da paisagem árida, havia presença de rios. O pano de fundo da cena era uma esplendorosa serra de morros. Marco divisório entre os municípios de Tanquinho e Santa Barbara, sua terra natal.
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Já desde criança Antônio Barreto gostava de assistir e participar, quando possível, das brincadeiras do lugar. Corrida de Saco, Bumba-boi, Tiração de Argola, Cantoria de Viola, Trezena de Santo Antônio, entre outras tradições locais. Aos 13 anos, mudou-se para a sede do município, onde pôde se aproximar de mais uma de suas paixões.
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Para ele, os ambulantes e os vendedores de livretos de cordel eram verdadeiros artistas das feiras-livres de Santa Bárbara. O fascínio era tal que ele só parava de apreciar a atuação dos mascates quando “convocado” pela a avó, com um puxão de orelha, a ir de volta para casa.
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“Me encantava a maneira como o camelô vendia o seu produto na feira. Como ele seduzia o comprador. E isso o cordelista também fazia para vender o seu folheto de cordel. Ele tinha de ser muito lúdico, muito brincalhão. Aquilo me encantava”. Assim lembra o cordelista, com certa dose de saudosismo.
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Comunista e Calouro
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Antônio Barreto só não deve sentir saudades da maneira hostil que era tratado por alguns conterrâneos à época. Filho do comunista Pedro Barreto, o garoto sofria os preconceitos dos tempos de exceção. Nem sequer sabia o que era comunismo, mas não lhe agradava os chamados de “filho de comunista!”.
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“Eu não tô entendendo, meu pai é uma pessoa boa, é de partilhar tudo que ele tem, por que ele é chamado assim?”. Hoje a auto-indagação é lembrança de uma questão sem resposta para a mente do menino Barreto à época.
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A Igreja de Santa Barbara também censurou e, para não ficar pagão, o menino Toínho Barreto precisou ser batizado em Feira de Santana. O Padre local não deixou o dono da padaria (Jaime Azevedo), que seria o padrinho do menino, entrar na Igreja. Antônio Barreto recorda que o pecado do padrinho era ser negro, comunista, espírita e intelectual auto-didata. Tom Zé diria que é contraversão demais para um homem só.
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Então, só cantando para espantar os males. Aos 14 anos, Antônio Barreto atuou nos programas de calouros do auditório público da cidade. No roteiro, a apresentação de sucessos interpretados por Jerry Adriane e Vanderlei Cardoso. Só mais tarde, descobriu Raul Seixas e, embalado pelas músicas do “maluco beleza”, aprendeu a tocar vilão.
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Salvador
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Nos anos 1980, já morando em Salvador, para onde foi, devido a necessidade de estudar o ensino médio, filiou-se ao Raul Rock Clube. O fã clube oficial do artista baiano era sediado em São Paulo e dirigido por Sylvio Passos.
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Através de Cartas, Barreto se mantinha atualizado sobre a carreira do artista. A imagem da carteira dele (sócio 10093/83) foi reproduzida na contracapa do cordel “O Encontro de Raul Seixas com Zé Limeira no avarandado da lua”.
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Na capital baiana, Barreto trabalhou no Pólo Petroquímico por 23 anos. Hoje está aposentado do emprego de alta periculosidade, onde exercia a função de Operador de Processo, trabalhando com benzeno e volume sonoro acima de 90 decibéis. Emprego de alta responsabilidade. Corria-se risco de explosão e vazamento letal. Um contemporâneo de Barreto acidentou-se e faleceu no hospital.
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O trabalho de Antônio Barreto, no Pólo, não foi resumido à responsabilidade e tragédia. Naquela época, em que já dava aula no turno noturno, lançou o “Cordel da qualidade de vida” e se apresentou na empresa. Só que ainda “não levava o cordel a sério”.
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Só depois da aposentadoria, em 1999, começou a praticar mais. Os amigos foram incentivando, incentivando... A esta época já havia escrito dois livro de poesias, Rimas e Loucuras (1985) e Uns Versos Outros (1995). Só dez anos depois, ao concluir oficina com Maria da Conceição Paranhos, publicou Flores de Umburana (2006), pelo selo Letras da Bahia - Fundação Cultural do Estado.
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No ano de 2004, Barreto fez uma oficina de cordel com Jotacê Freitas, a quem considera uma alma de luz, um irmão, um mestre. Daí não parou mais de fazer cordéis. E segue levando sua vida extrovertida, no seu papel de cinqüentão-solteirão, pai de três filhos. Após conviver com a mãe de sua primeira filha, hoje com 23 anos, partiu para “carreira solo” e teve o segundo filho (22 anos) e o terceiro (13 anos). E que Antônio Barreto siga fazendo seu cordelismo.
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