8.2.10

Do jardim para o canteiro*


Aceitei o desafio de dirigir a parte do jardim público a mim confiada. Foi uma escolha difícil. A roda viva do destino, havia pouco, tinha jogado em meu colo a responsabilidade de assumir o controle do canteiro lá de casa.

Era hora de estar à frente daquele pequeno jardim particular. Benfeitoria construída à base de muito suor e sacrifício. Pensei que seria possível conciliar a atuação no pequeno e no grande jardim. Não deu. Algumas tempestades fizeram-me perceber ser o momento de estar mais dedicado ao canteiro.

A labuta, na parte do jardim público na qual estive à frente, foi difícil. O clima encontrado não favorecia o alvorecer. A atenção anteriormente dada e, na maioria das vezes, ainda relegada e requerida, era apenas para as plantas de papel ornamental. O foco no imediatismo priorizava o interesse nas flores e adereços decorativos. Pouco importava se eles não tivessem vida, não tivessem garantia de continuidade, fossem fadados ao continuísmo e que amanhã já estivessem desbotados; na lata de lixo mais próxima.

Parecia não ressoar o nosso alerta da necessidade de re-vitalizar as velhas árvores frondosas e preparar o solo para o germinar de novas e exuberantes plantas naturais. Além das intempéries, ainda vimos o afastamento, ou a não possibilidade de participação, de companheiros de outros tempos e projetos de jardinagens.

As ervas daninhas e espinhos encontrados vão deixar marcas, mas não serão as únicas lembranças que guardarei desta experiência. As feridas abertas se tornarão cicatrizes. Estarão fincadas como a raiz de uma grande árvore decepada pelo seu tronco. E, por incrível que pareça, com o passar das estações, apenas as boas lembranças estarão marcadas neste caule amputado.

Recordaremos as sementes que começamos a plantar. Dos rostos felizes já com os preparativos para uma possível florada futura. Das mensagens de incentivo, torcendo e pedindo pela continuidade sacrificante do trabalho recém iniciado. Os colaboradores entusiasmados, com regador em punho, ansiando pelo momento no qual as mudas apontassem as primeiras folhinhas. Peço desculpas a todos estes amantes das flores e digo-lhes para não perder as esperanças. O amanhecer sempre virá.

Agora, neste momento específico, volto-me para o canteiro lá de casa. Honrar pai e mãe é um dos mandamentos. Buscarei respeitá-lo. Quem sabe, neste tempo que virá, terei oportunidade de apresentar o nosso projeto ecológico a outros ou ao mesmo jardim. Quem sabe outra tentativa, outro momento ou ambiente mais favorável, talvez desfrutando de mais operários e de ferramentas necessárias. Por hora, é tempo de se afastar do jardim público.

“Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar e a renascer inteira” Cecília Meireles

* Texto inspirado em “A Travessia” de Freio Betto e “Sobre Política e Jardinagem” de Rubem Alves.


imagem de banco de imagens de internet:
http://www.sxc.hu/


9 comentários:

Alex Oliveira. disse...

Parabéns pelo texto.
Eu, que passei a te conhecer através de uma reportagem para uma disciplina da FACOM senti o quanto você guerreava entre os dois jardins.
Desejo-te jardins sempre floridos. Com flores de um equilíbrio e de uma paz interior capaz de floresce qualquer terra seca do ser-tão.

Cordialmente,

Alex Oliveira.

Claudio Leal disse...

Avanti, Robertinho, que a Bahia não perderá seu talento.

abração!

Anônimo disse...

Uma grande perda. Irará viveu um dos seus melhores momentos de atenção à cultura na sua gestão. Boa sorte nos jardins futuros.

Abraço!

Bruno Adelmo Mendes

Juracy Paixão disse...

Caro Ró de Zé do Rádio,

O grande derrotado é a Cidade de Irará, que perde apoiador de honra e louvor.

Um abraço,

Juracy

Rafael Fontes disse...

A saída de Ró do Departamento de Cultura (futura Secretaria) representa muito mais que a saída natural de um prestador de serviço público. Representa a derrota, ou pelo menos uma baixa, em uma batalha por um outro Irará. É a derrota de um projeto. Projeto esse que vem sendo construído há décadas – contando com as iniciativas de Aristeu Nogueira, Pitaco, Dr. Deraldo, Sr. Gilvan, Sr. Nequinha e tantos outros promotores/atores da cultura em nossa cidade. Ró é, sem duvida, o melhor representante desse projeto. Ele se preparou para a realização desse. Assim a sua saída do Departamento de Cultura, associada à saída de Marize da Secretaria de Educação, me obriga a pensar: esse projeto, novamente, perderá? Novamente ficará no fundo de gavetas aprisionadoras de sonhos?
Espero que as flores semeadas por Ró, – para continuar com a alegoria proposta por ele –, oriunda de árvores de tamanha qualidade, sejam como lírios, os quais, por um tempo, têm suas folhas aparentemente mortas, mas suas batatas ainda estão vivas – apenas adormecidas –, esperando tempo favorável para brotarem.

Sentido pela derrota/baixa,

Rafael

Edson Machado disse...

Roberto,

Estava selecionando sementes para serem plantadas em solo iraraense e contava com sua ajuda para regá-las.
Mas entendo de aridez e solos desérticos em jardins públicos. Mas estou de plantão e sempre estarei disponível para futuras plantações.

Unknown disse...

Rapaz, foi com grande e sincero pesar Q recebi essa noticia, pois era no
Departamento de Cultura Q eu depositava minhas maiores e melhores
fichas nesse governo. Ñ Q eu duvide da capacidade de quem vá ficar a
frente do departamento agora ou questione as pessoas nas outras secretarias
mas, é Q conheço Ró e sei da sua competência, dedicação e seriedade naquilo
Q faz e ñ atoa, dedicou boa parte da sua vida estudando e se especialzando nisso.
Além do mais, me interesso por cultura e em especial a nossa e é por isso Q
ñ posso deixar de lamentar a saida de Ró da frente da cultura no município. Por
entender Q ele queria realizar um trabalho mais profundo e abrangente de fortalecimento
e crescimento das várias culturas praticadas em nossa cidade, diferente do Q vinha
sendo o foco em Irará nas últimas décadas. Mas como o próprio Ró bem diz: "Em Irará quem ñ é artista, é produtor",rsrsrsrs, Espero e rezo Q a cultura de Irará ñ volte
a ser só preocupação com palcos, festas, bandas e ornamentação. Os projetos e eventos
apresentados e ralizados por Ró no pouco tempo Q esteve a frente do Departamento Q já devia ser Secrtaria, foram excelentes e davam mostras do q se queria implantar na cidade.
Tomara Q essa linha seja mantida e parabenizo a Ró pelo trabalho realizado e Q agora
correndo entre os canteiros, ele saiba Q esse trampo terá frutos e lhe parabenizo tb brother
pela hombridade de deixar uma posição relativamente cômoda por acreditar em si e ver Q existem mtos tipos e formas de batalhas e de se manter desarmado mas lutando.Outros em seu lugar agiriam de outra forma e empurrariam com a barriga, mas esse ñ seria o Ró Q eu manjo. Sorte e longa vida brow nas novas jornadas, pois sei Q o sucesso já tá garantido em qualquer Q seja sua opção. Só vou sentir falta de vc atendendo o ramal e dizendo com mta propriedade: "Cultura, bom dia!" . Abração man!

Sérgio Cabelera disse...

OS ANARQUISTAS ESTÃO CERTOS

CABELO

EBERTcabelo disse...

Para opinar uma situação,é preciso conhece-la profundamente.
O texto deixa os frutos,mias não deixa a raiz para podermos dar um diagnóstico do então motivo,que a planta veio a óbito.
Lamento dizer, que também, perdir!
My brodher,dias melhores virão...

Abraços!