20.9.10

D. Maria Luiza, o reisado e o helicóptero


Igreja de um lado, palco de outro. Praça da Prefeitura, Santanópolis –Ba, tarde de domingo, 10 de setembro de 2010. Segundo dia da Festa da Cultura Popular. No sábado, dia anterior, teve uma mesa redonda sobre cordel, com as presenças de Antônio Barreto e Franklin Maxado e algumas apresentações artísticas.
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O sol deu as caras e até chegou incomodar um pouco. Há quem lhe culpe pelo pequeno número de presentes. No palco, a apresentação era de Cescé de Feira de Santana. A Igreja estava fechada.
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Na chegada re-encontro velhos companheiros da labuta pela cultura popular. Barreto, Franklin Maxado, Ricardo Reira. Este último, organizador do evento, não pôde dar muita atenção. A conversa segue. Considerações sobre atividades do tipo, a peleja da cultura popular contra a indústria massiva e tantas coisas mais.
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Ao lado, o estande da Paróquia parecia vender comidas típicas, e exibia telas de Gabriel Ferreira. O artista plástico havia passado por lá no sábado. Cescé termina sua apresentação. A praça agora já tem mais gente.
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E, tão logo, percebo a presença de Miguel Almir lá no centro. Mais um amigo, mais um re-encontro, mais lembranças e trocas de informações, mais um guerreiro da cultura popular.
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Ele esta acompanhado de parceiros do NIT –UEFS (Núcleo de Investigações Transdicisplinares da Universidade). Miguel conta empolgado o seu contato e participação do “Boi de Lustosa”. “O legal é que tem muitas crianças participando do grupo”, diz. O pessoal documenta tudo. Colhe imagens para uma pesquisa acadêmica.
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Determinado momento a conversa é brevemente suspensa. Sobrevoa a cidade um helicopetro vermelho, muito bonito. É como Nando Reis, já nos lembra, “avião no ar” convoca os olhos à olhar. Entretanto, nossa visão não segue a aeronave. ASA Filho está no palco passando o som.
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De repente, percebemos um grande volume de pessoas saindo da praça. ASA prepara para tocar. “O helicóptero pousou atrás da Igreja”, a conversa se espalha. ASA começa a tocar e logo interrompe. “O enterro”. E tinha mesmo um enterro na Igreja Católica lá de frente. Agora aberta.
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O som interrompido. O enterro sai. Pouco depois, temos a confirmação da veracidade do boato. Percebemos o helicóptero alçar vôo, detrás da Igreja. “Disse que é um deputado”, comenta alguém.

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ASA Filho anuncia. “Maira Luíza, o nome dela, 110 anos”. O féretro já havia saído da Igreja. O enterro seguia. O Som do reisado de São Vicente começa: “São os cantador de reis/ são os cantador de reis/ Maria vai ver quem é”. O samba segue.

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D. Maria Luíza, seja qual tenha sido a sua história de vida, foi mesmo uma pessoa que, para os padrões vigentes, teimou em viver. E, além de tudo, chegando ao outro lado, pode dizer que, pelo seu exemplo de resistência, na sua despedida teve até helicóptero e apresentação de Grupo de Reis em Santanópolis. E quem há de dizer que não.

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