O amigo Jairo deixou em minhas mãos o livro “Quarto de Despejo – Diário de uma favelada”. Ele pediu que quando terminasse a leitura, levasse o escrito para a biblioteca do Colégio Social, antiga Escolinha Saci.
Já estou indo levar. Antes, quero fazer alguns comentários sobre a obra de Carolina Maria de Jesus.
Como o subtítulo já indica, o escrito é a adaptação para livro de anotações em cadernos feitas por uma moradora da favela. Os fatos se dão entre 1958 e 59.
Carolina, a autora, residia na “favela que se expandia na beira do rio Tietê”. Ela tinha mania de escrever e usava papel e caneta como uma espécie de desabafo e reflexão do seu cotidiano.
Um dia, ela conheceu o jornalista Audálio Dantas. Ele tinha ido à favela para produzir uma reportagem sobre a vida no lugar, mas, diante dos escritos de Carolina, teve a seguinte percepção:
“a história da favela que eu buscava estava escrita em uns vinte cadernos encardidos que Carolina Guardava em seu barraco”.
O diário virou livro. Carolina ganhou certa notoriedade do público, saiu da favela e chegou à conclusão que fora dela os instintos humanos não são muito diferentes.
Numa entrevista, anexa à edição lida do livro, o repórter pergunta: “Mas foi bom mudar de vida, escapar da miséria e conhecer um mundo diferente daquele da favela?”
Ao que Carolina responde:
“Decepção. Pensei que houvesse idealismo, menos inveja. Mas aqui há não só muita ambição, mas também, o desejo de vencer a qualquer preço. Mesmo que os meios empregados sejam podres. Quando matei um porco, lá na favela do Canindé, alguns vizinhos exigiram um pedaço da carne. Rondavam meu barraco feito bicho que fareja presa. Lá na favela era o porco, aqui é o dinheiro. No fundo é a mesma coisa. Lembrei de meu provérbio: “Não há coisa pior na vida do que a própria vida”.
Os escritos do diário ainda retratam cenas de um triste cotidiano. Brigas, intrigas, problemas com alcoolismo. “A assembléia da favela é de paus e pedras”, relata Carolina.
A obra chegou a ser acusada de ser falsa. Diziam que “uma favelada semi-analfabeta” não teria condições de escrever aquilo.
Alguém também pode considerar o livro como um relato carregado de pessimismo. Nele, estaria em evidência o lado perverso da favela.
Quem sabe, naquela longínqua década de 1950, a vida dos favelados não registrasse mais traços comunitários que, por ventura, não tenham sidos relatados no livro?
Temporalmente e espacialmente distantes, não temos lá muitas condições de fazer julgamentos do tipo. E, como diz o ditado, “quem tem sua dor é que geme”.
Alguns fragmentos do diário de Carolina, transcritos no livro
“A pior coisa do mundo é a fome” – Pag. 167
“A cidade é um morcego que chupa agente” – Pag. 159 (Sobre gastos e custo de vida)
“Se o custo de vida continuar subindo até 1960 vamos ter revolução” – Pag. 117 – (Talvez prevendo o então futuro de instabilidade política da nação)
“Ontem comemos mal e hoje pior” - Pag 107 (anotação do dia 03/09/1959)
“O Brasil precisa ser governado por uma pessoa que já passou fome” – Pag 26 (Queixando-se dos governantes do país).
Já estou indo levar. Antes, quero fazer alguns comentários sobre a obra de Carolina Maria de Jesus.
Como o subtítulo já indica, o escrito é a adaptação para livro de anotações em cadernos feitas por uma moradora da favela. Os fatos se dão entre 1958 e 59.
Carolina, a autora, residia na “favela que se expandia na beira do rio Tietê”. Ela tinha mania de escrever e usava papel e caneta como uma espécie de desabafo e reflexão do seu cotidiano.
Um dia, ela conheceu o jornalista Audálio Dantas. Ele tinha ido à favela para produzir uma reportagem sobre a vida no lugar, mas, diante dos escritos de Carolina, teve a seguinte percepção:
“a história da favela que eu buscava estava escrita em uns vinte cadernos encardidos que Carolina Guardava em seu barraco”.
O diário virou livro. Carolina ganhou certa notoriedade do público, saiu da favela e chegou à conclusão que fora dela os instintos humanos não são muito diferentes.
Numa entrevista, anexa à edição lida do livro, o repórter pergunta: “Mas foi bom mudar de vida, escapar da miséria e conhecer um mundo diferente daquele da favela?”
Ao que Carolina responde:
“Decepção. Pensei que houvesse idealismo, menos inveja. Mas aqui há não só muita ambição, mas também, o desejo de vencer a qualquer preço. Mesmo que os meios empregados sejam podres. Quando matei um porco, lá na favela do Canindé, alguns vizinhos exigiram um pedaço da carne. Rondavam meu barraco feito bicho que fareja presa. Lá na favela era o porco, aqui é o dinheiro. No fundo é a mesma coisa. Lembrei de meu provérbio: “Não há coisa pior na vida do que a própria vida”.
Os escritos do diário ainda retratam cenas de um triste cotidiano. Brigas, intrigas, problemas com alcoolismo. “A assembléia da favela é de paus e pedras”, relata Carolina.
A obra chegou a ser acusada de ser falsa. Diziam que “uma favelada semi-analfabeta” não teria condições de escrever aquilo.
Alguém também pode considerar o livro como um relato carregado de pessimismo. Nele, estaria em evidência o lado perverso da favela.
Quem sabe, naquela longínqua década de 1950, a vida dos favelados não registrasse mais traços comunitários que, por ventura, não tenham sidos relatados no livro?
Temporalmente e espacialmente distantes, não temos lá muitas condições de fazer julgamentos do tipo. E, como diz o ditado, “quem tem sua dor é que geme”.
Alguns fragmentos do diário de Carolina, transcritos no livro
“A pior coisa do mundo é a fome” – Pag. 167
“A cidade é um morcego que chupa agente” – Pag. 159 (Sobre gastos e custo de vida)
“Se o custo de vida continuar subindo até 1960 vamos ter revolução” – Pag. 117 – (Talvez prevendo o então futuro de instabilidade política da nação)
“Ontem comemos mal e hoje pior” - Pag 107 (anotação do dia 03/09/1959)
“O Brasil precisa ser governado por uma pessoa que já passou fome” – Pag 26 (Queixando-se dos governantes do país).
3 comentários:
Temporalmente e espacialmente distantes, não temos lá muitas condições de fazer julgamentos do tipo. E, como diz o ditado, “quem tem sua dor é que geme”.
Concordo. Escrever é maravilhoso, expressar o que passamos também. Como diria Anne Frank, o papel tem mais paciência do que as pessoas. In dico para você (se já não tiver lido) O Diário de Anne Frank ou o de Zlata, são muito bons!
Oi Daniela,
Ainda não li os livros indicados.
Mutíssimo obrigado pela dica. Espero ter disponibilidades de lê-los sim!
Obrigado!
Roberto.
Você vai gostar deles. Estou lendo "Feia", é a história de uma menina que sofre bastante nas mãos da mãe que a priva de alimento, boa educação e carinho... É emocionante, vale a pena conferir.
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