Texto escrito em Março/2005
Vinhos & Versos é sempre aquela emoção. O de número VI, realizado no último dia 24 de março, não foi diferente. Iniciei o recital com um pequeno texto de autoria própria, no qual tento descrever o ser iraraense. As mesmas palavras apresentaram a exposição da noite: “Dez Iraraenses”*. Uma coletiva de dez artistas que, assim como diz o texto, devem sentir “orgulho de dizer quem é e a que veio”.
Aquela noite prometia e os costumeiros freqüentadores do Vinhos & Versos fizeram as honras da casa. Juci Freitas, com seu jeito síntese de raça e sensibilidade, conduziu aos nossos ouvidos idéias de grandes autores e poemas de sua autoria. Num deles, descreveu a emoção de participar dos recitais. Sentimento compartilhado por Kitute de Licinho, quando declamei um cordel escrito por ele.
Na seqüência, Kitute leu versos de Patativa do Assaré, demonstrando beber em boa fonte. Tone Coelho saciou sua sede da mesma forma, lendo versos popularizados pelo grupo Cordel do Fogo Encantado. Já Fábio Calixto, só pra não perder o costume, recitou poesias de Nadia Cerqueira e “José” de Drummond.
Novidade mesmo, foi a participação de pessoas não tão freqüentes e dos marinheiros de primeira viagem. Mauricio Pereira, Bartira Barreto e Eva Santos, deram as suas contribuições. Valdir Sacramento chegou a tempo de mostrar sua rapidez versificada receitando, ou melhor, recitando folhas e chás, para todos os males. Afonso Coelho, depois de ter a sua timidez vencida pelo vinho, virou repentista e lançou desafios.
Porém, o novo estaria mesmo representado pelas crianças. Jessiele Caroline, de 11 anos, recitou poesias de autoria própria. E João Victor, de 07 anos, versejou em parceria com a sua mãe, Saionara Pinho.
Ali, na participação daquelas crianças estaria o futuro do Vinhos & Versos, como pontuou Kakal Pinto, certo? Errado. Ali já era o presente, que sinalizava para o futuro, observando e respeitando o passado. Tempo de grandes poetas, de quando a poesia era usada para protestar, para noticiar, para amar... “só sei poesias antigas meu filho” foi o que disse D. Terezinha. Respondo-lhe que são estas mesmo que queremos conhecer.
Ai então, a primeira mãe, que já havia recitado versos de sua autoria, nos presenteia com o poeta da abolição, Castro Alves. Valendo-se da ternura digna das avós, ela mostrou que pode estar ali, na matriarca, a veia artística da família.
Por entre vozes declamadoras do idoso, do adulto e da criança, entramos pela madrugada e chegamos até a Sexta-feira Santa refazendo o milagre.
Se Cristo transformou a água em vinho, com a licença Dele, transformávamos vinhos em versos. Conversão feita num recital empolgante e, como bem mencionou Juci Freitas, protagonizado por pessoas de diversas gerações.
* - Os Dez Iraraenses foram: Rita Lima, Claudemiro Cerqueira, Juveraldo, Cristina Guimarães, Rimaundo, Jussara Batista, Sérgio Luz, Sé Freitas, Naía Cerqueira e Sidney Steves.
Obs _ Vinhos e Versos VI – Acontecido em 24.03.2005 -
2 comentários:
Ótimo texto!
O talento de Jucy Freitas eu conheço há alguns anos. Os outros ainda espero conhecer.
Abraços!
Saudades de onde não estive...
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