Durante muito tempo desejei e imaginei que as situações e acontecimentos fossem vistos e descritos como são. Ledo engano. As pessoas gostam mais do que “parece ser”. Fogem do que “é”.
Agora eu sei um dos motivos do meu fascínio pelo teatro. O teatro, para usar um termo dito por Cazuza em uma canção, é uma “mentira sincera”. E as “mentiras sinceras” também me interessam.
O teatro não falseia, falseando. Ele se apresenta, logo de cara, como uma “encenação”. Fica implícito, como em um acordo tácito com o espectador, que ali não está o que é real.
No entanto, através da verossimilhança, o teatro nos mostra uma realidade óbvia. E que, por tão, mais tão, visível, estava oculta.
A arte teatral denuncia a hipocrisia humana. Desmascara os jogos de cena.
Muitos costumam ir ao teatro para rir ou chorar da própria miséria. Outros tantos o freqüentam porque desejam apurar o olhar crítico para com a realidade.
O teatro do qual falei até aqui é o artístico. Ele é bem diferente do teatro do dia-a-dia.
O teatro do cotidiano é o faz-de-conta. Pessoas simulam situações, se fazem de personagens, vestem fantasias hipotéticas, entre tantos outros artifícios, na intenção de “parecer ser”.
Vale de tudo. O desejo é não ficar de fora do grupo social. Não parecer em desvantagem, com relação ao outro. Se apresentar como superior. Torna-se uma pessoa a ser invejada, copiada, admirada.
E neste contexto, as redes sociais, principalmente o Facebook (a mais usada entre os brasileiros) são o paraíso na terra.
Com isto, potencializa-se uma sociedade doente pelo consumismo e as aparências. Vive-se um ciclo vicioso. Tal e qual é apresentado no filme “Beleza Americana”, cujo desfecho mostra justamente a condenação de quem quis se rebelar contra esse mal.
Precisamos de mais reflexão e menos fantasia. Mais teatro e menos faz-de-conta.
Triste do local, onde não se faz e nem se assisti teatro.
Um comentário:
Caro Ró de Zé do Rádio,
Como sempre, você dá provas do seu bom censo. O teatro é a melhor forma de o ser humano,quando humano de fato, integrar-se socialmente.
Um abraço,
Juracy de Irará.
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