As aspas já sinalizam. Não se trata do ídolo do Flamengo. O
Zico do qual falo é um “mendigo” (“doido”) de Irará.
Posso dizer que ele era da minha geração. Não sei se um pouco
mais novo, não sei se um pouco mais velho. Conheci o Zico quando eu era criança
e ele também era.
Nunca soube ao certo do histórico dele, mas sempre ouvi
muitas histórias (ou estórias) se contar.
Zico vivia nas ruas da cidade. Certa feita um bancário o
adotou. Andou limpinho por alguns dias, depois, não se adaptou e voltou a viver
nas ruas. É o que contam. Zico continuou sujo, maltrapilho, pedinte.
Na década de 1980, dizem, ele foi uma das crianças sequestradas
em Irará para o tráfico internacional de pessoas. Teria conseguido a fuga e o
retorno para sua terra.
Andarilho, Zico conhecia a tudo e a todos do Irará. Chamava
as pessoas pelo nome ou apelido, como quem demonstrando intimidade. Aos mais
velhos chamava com respeito ou proximidade: “Seu”, “dona”, “tia”...
Certa vez, quando foi pedir dinheiro, ouviu o interlocutor: “Não
tenho trocado, Zico”. Daí, ele de pronto mostrou a solução: “Tem problema não,
me dá o dinheiro que eu te dou o troco”.
Em outra oportunidade fez uma intimação a um noivo. “Olhe,
você enrolou a outra um tempão e não casou, não vá fazer isto com essa aí não”,
avisou ao rapaz, diante de sua noiva de alguns anos.
Zico gostava de dar conselhos. Certa feita encontrou alguém
saindo de casa apressadamente, tarde à noite, porta a fora, rua a dentro. “Não
sai de vez assim não. Olha primeiro”. Alertou.
E também indagou um conhecido se ele confiava na
namorada. “Nunca sumiu dinheiro teu não?”.
Gostava de jogo, com quem estivesse disposto a rolar dados com
ele, e de rádio. Às vezes, era um cantarolar danado pelas ruas.
Quando meu pai faleceu, Zico veio me dizer para não ficar
triste...
Quem procurar saber vai encontrar “causos” e mais “causos”.
Entre eles os passados sob distúrbios mentais. Momentos nos quais apareciam os
alertas: “Zico tá atacado!”.
Para alguns, um doido. Para outros um simples mendigo que,
apesar de ter uma “aposentadoria”, gostava de sujeira e mendicância.
Na vida, alguém que passou. E agora entrou para o folclore da
cidade. Assim como outros personagens. Sejam eles os “certos” ou os “doidos de
Irará”.
* Em meio as notícias sobre São João e Cristiano Araújo essa
pode ter passado despercebida.
Escrito originalmente
em 25 de junho de 2015 e postado no Perfil de Roberto Martins no Facebook - https://www.facebook.com/roberttomarttins
Publicado aqui no Blog com pequenas adaptações
e acréscimos em 14/03/2016
Um comentário:
Belo texto. Essa é a história de Zico, tenho certeza que era conhecido por todos e temido pelas crianças. Eu mesma quando morava aí pq atualmente moro em São Paulo, tenho muitas histórias. Pois quando estudava levei muitas carreiras do Zico com um sapo na mão querendo nos apavorar pq sabia que tínhamos medo, mas na verdade era só uma brincadeira pq ele não fazia mau a ninguém. Grande e temido Zico
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