10.4.06

Na pauta, a Semana Santa.

Chega Semana Santa e já dá pra prever os noticiários. Como em todo “bom jornalismo”, o repórter pode até repetir a matéria do ano passado, pois a pauta é a mesma. Na TV, vai ter reportagem de procissões, de auto flagelação, peregrinos subindo morro ou carregando cruz, católicos rezando diante do Papa na TV (ainda que Bento XVI não seja pop star), etc, etc, etc... O noticiário e os acontecimentos de Irará, também não devem variar muito.

Lá vai ter missa, vai ter festa no sábado de aleluia e as noticias no impresso local, também devem se repetir. Entre elas, destaco uma, que para mim é quase certa. Se não sair na edição de abril, com certeza deverá estar o fato registrado no mês de maio. Aposto um real que vamos ver a divulgação de que na Semana Santa, lideranças políticas distribuíram peixe à população carente. Mesmo sabendo que isto, certamente vai virar noticia, não vejo nada de novo. Novidade mesmo seria, se eles estivessem ensinando a pescar.

Devaneio meu, eu sei. Porque ensinar a pescar é um processo lento, gradual, que exige tempo e não rende elogios ou matérias nos informativos. Quem dirá uma abertura de parêntesis para um rasgado elogio. Lembro-me que num destes anos passados, o mensário local tinha tanta noticia de doadores de peixe, que cheguei a pensar tratar-se de um campeonato. Uma espécie de leilão, no qual quem desse mais seria o vencedor.

Enquanto a disputa for por quem dá mais peixe, tá tudo tranqüilo. Assim os supermercados irão vender mais, os recursos vão incrementar a economia da cidade e “as famílias carentes terão uma semana santa mais feliz”, conforme argumentam os doadores. Complicado será, se com o avançar da disputa, alguém resolver se antecipar aos adversários e além de peixe também dá vara de pescar aos carentes. Já pensou? O cidadão sofrendo, cheio de problemas nas costas, e os políticos tome-lhe vara! A doação traria outro agravante. É que perdendo o “conforto do supermercado” o individuo talvez percebesse que os rios do município estão secando.

Pois, ainda que a moda da vara não pegue você pode perceber que nem tudo é repetição na Semana Santa do Irará. Destaco aqui então duas mudanças. A primeira é com referencia aquele meu amigo que guardava a Quaresma e fazia todo tipo abstinência, mas neste ano eu já o vi tomando uma cervejinha, naquele intervalo de quarenta dias que separa o carnaval e sexta-feira da paixão. A outra é com reação aos Judas que aconteciam com maior freqüência na zona rural e hoje estão diminuindo.

O Judas era um negocio trabalhoso de se fazer e organizar, além do mais, as vezes trazia problemas aos organizadores. O diabo estava... – “opa! não ver que isso pecado menino... falar do tinhoso na semana santa” - Então desculpe-me. Melhor dizendo. O problema estava era no testamento do Judas. Oh! negoço desaforado! Eles diziam de tudo através do tal escrito. Hoje já não pode. E a comunidade que fizer isso corre o risco do político não dá peixe nem vara no ano que vem. Melhor então pedir aos “home” que fale a seu deputado pra mandar uma banda e fica tudo certo.

E se o povo quer banda, não se admire se tiver cabo eleitoral dando banda de peixe. Pode ser uma medida de contenção de despesa, ainda mais em ano de eleição como este, no qual os correligionários precisam mostrar maior número de atendidos para os seus deputados. Quanto mais gente beneficiada, maior chance de votos e maior reputação para o doador.

Assim vai formando a relação de amor e ódio assistencial. O político pensando que estar enganando o povo. E a população imaginando enrolar os políticos (eu pego, mas não voto) e parecendo esquecer, onde tá faltando o dinheiro daquela suntuosa doação. Situação que remonta ao estigma social do povo brasileiro que talvez seja quebrado no dia em que a paixão vir a habitar os corações e não somente o calendário.

P.S. – Estou apostando só um real não é por medo de perder, mas por estar sem condições de arriscar mais no momento. Vai que o pessoal me surpreende. Eu hein. Pé de pato mangalô três vezes! Fé em Deus! E que Jesus nos abençoe.

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