8.12.06

A. A.

Uma apresentação. “Eu gosto de ficar só, mas gosto mais de você”. Ao fundo uma enorme tela de projeção. Imagens em preto e branco, lindas e simples. Cisnes, pombos, gaivotas, texturas, água. Ondas, correntezas, cascatas, pingos de chuvas caindo. Círculos, muitos deles, são formados.
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Mais círculos. Agora no chão. É feito de luz. Efeito de iluminação. Uns lembram flores, outros, buracos. E o do “espelho está fechado, agora temos de ficar aqui, com um olho aberto, outro acordado, do lado de cá onde eu saí”.
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Música suave. Perna pra frente, pra trás. Gestos simples e evasivos, assim como as palavras. Parece composição de criança. “Sujar o pé na areia pra lavar com água. Molhar o pé na água pra sujar na areia”.
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Criança não tem o “senso do ridículo”. E por temer o ridículo, ou sei lá qual outra convenção, o adulto não ama. Ainda que tenha possibilidade bem pertinho. Ridícula é a humanidade. Pena que as crianças crescem.
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Sombra na parede. Movimento. É preciso que o fio acompanhe. Atenção total do rodeie para evitar que se formem os nos. Pedestal vai e vem. Como num passo de dança por cima da cabeça, repousa nos ombros. Figurino quase lembra uma camisa de força. Gestos robotizados e às vezes explosivos.
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Corre, vai até a enorme projeção e se joga. Parece querer transpor um portal. Procurar outra dimensão. “Socorro! Alguma alma mesmo que penada, me preste suas penas, já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada”. Então busca “qualquer coisa que se sinta, tem tanto sentimento deve ter algum que sirva”.
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Apresenta o novo trabalho. “Qualquer”. Canta as coisas, “qualquer coisa”. O bezerro grita “mam-mãe”. Mensagens em refrão e olhares não codificados. Volta pro centro das luzes. A voz é grave e cativante. Ao fundo violões, guitarra e teclados, sob o comando de três competentes companheiros. Faz a já esperada e corriqueira encenação. Sai e volta. Vem “exagerado” só pra lembrar que o “pulso ainda pulsa”.
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“Acabou choraré”. Boa parte das abelinhas sai a procura de zum-zum e mel. Lá fora alguém havia gritado: “eu gosto é de arrocha”! Teatro Castro Alves, Salvador, Bahia. “No palco, um amigo da gente, Arnaldo Antunes”.

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