10.10.13

Deixai vir a criancinha de dentro de ti

Já ouvi dizer que toda criança é egocêntrica.  Por isso, ela pensa ser o centro do universo, imaginando-se a razão do existir de tudo à sua volta. 

Não sei se de fato toda criança pensa assim. Só lembro que no meu tempo de infância, pensava que ao menos uma coisa nós tínhamos para chamar de nossa. Um feriado. 

Depois, antes mesmo de ficar adulto, ainda pré-adolescente, descobri que o descanso do  “12 de Outubro” não era por razão das crianças, mas sim por uma santa. Era mais um feriado católico. 

A proximidade da data me trouxe esta lembrança e uma reflexão: Que importância tem crianças em um mundo governado por adultos? 

Elas são cada vez mais tratadas como “adultos em miniaturas”. “Bota a maquiagem”; “diz quem é a tua namoradinha”; “pinta e bota roupinha sexy”. Em geral, acham-se tudo muito lindo. Tendemos a gostar de miniaturas; tem gente que coleciona. 

Até mesmo como público reduziu-se os espaços para as crianças. Minguaram os programas de TV direcionados para os infantis. Já não ouvimos mais grupos musicais de meninos e/ou meninas como no passado. 

Restam-lhes os programas e as músicas “adultas”. E como o HD dos pequeninos tem bastante espaço livre, “aprendem rapidinho”. Há quem ache graça.

Estamos “adulterando” as crianças, quando deveríamos “infantilizar” um pouco mais os adultos.
E “infantilizar” não quer dizer “abobá-los”. Longe disso. É torná-los mais infantis, para serem mais sinceros, puros, alegres, irreverentes, generosos...

Gonzaguinha nos disse que “fica com a pureza das respostas das crianças”, porque é bonita, e é bonita, é bonita. Cazuza nos perguntou se já tínhamos reparado “na inocência cruel das criancinhas”, porque elas “advinham tudo” e “sabem que a vida é bela”. E lá nos fins dos anos 1970, Roberto Ribeiro cantava que “todo menino é um Rei”. 

E menino é Rei que desafia Rei. Lembrem-se da fábula. O menino não teve pudores de anunciar que o rei estava nú. Antes, todos já tinham percebido, mas ninguém tivera coragem de denunciar o despimento da majestade. 

Neste ano de 2013, o livro O Pequeno Príncipe, do francês Saint-Exupéry, completa 70 anos de lançamento. Este Best Seller da literatura mundial traz uma reflexão, através dos sonhos e questionamentos de uma criança, nos mostrando a valorosa importância de coisas simples, as quais deixamos de lado quando nos tornamos adultos. 

Jesus Cristo pediu que deixasse ir até ele as criancinhas. E é isto que todos devem fazer. Ao invés de sufocar, deixai vir à tona a criança que há dentro de si. 

Um comentário:

Daniela Lima disse...

Levando para uma perspectiva histórico-cultural, Vygotsky dizia que, realmente, há uma fase em que a criança é egocêntrica. Mas no sentido de que ela ainda não se deu conta de que as pessoas que vivem ao seu redor têm opiniões e pensamentos próprios, por isso elas falam aleatoriamente e fazem tanto barulho quando estão em grupo. rs
O triste é que esse egocentrismo típico de uma fase está tomando proporções mais enraizadas, levando o sentido desta palavra do senso comum a impregnar na vida das crianças e até dos adultos... :/