Chico Buarque tem obras de referência sobre o cotidiano brasileiro.
Reprodução Roma Pra Você
Na canção “Cotidiano”, Chico Buarque, como os versos e o próprio título sugere, fatalmente representa a vida cotidiana dos personagens da obra.
Por outro lado, podemos também
pensar o inverso. Alguém, de repente, ao se inspirar na canção de Chico, passou
a adotar o costume de todo dia sacudir @ companheir@ às seis horas da manhã e
beijá-l@ com a boca de hortelã.
Daí é um passo curto para caímos
em um dilema de casualidade, ao estilo do “quem nasceu primeiro, o ovo ou a
galinha?”.
No caso da canção de Chico, e seu
inverso sugerido acima, o dilema é: “a vida imita a arte ou o contrário?”.
O amor, o amor romântico tal como
o conhecemos, teria sido uma invenção da literatura, depois aperfeiçoada pelo
cinema. Já ouvi alguém dizer isso...
Afinal, nem sempre os casais e as
famílias foram formadas com base naquele amor. Conforme nos mostra a história
da humanidade, relações outras costumavam prevalecer na constituição dos grupos
familiares.
Glória Pires viveu "Maria de Fátima" principal vilã da novela Vale Tudo (1988/89) - Rede Globo. No final da trama a megera saiu do Brasil e casou-se com um príncipe italiano.
Reprodução estrelando.com.br
A inversão de rota talvez sirva
também para o “e foram felizes para sempre”. Afinal, a busca incessante pela
“felicidade”, e pelo nosso imaginado tipo de “felicidade”, certamente não era a
grande meta dos nossos antepassados.
É fácil imaginar a mãozinha dada
pela literatura, o cinema, a publicidade, etc, para a reconfiguração dos sonhos
de felicidade. A ponto de muitos pagarem pela "felicidade" "contida" numa garrafa com design “irresistível”...
Para os mais céticos, finais
felizes só mesmo na ficção. A incidência do “foram felizes pra sempre” deve ter
motivado esta crença. De tanto “co-incidir” a indústria cultural resolveu mudar
um pouco a rota. Então a tragédia deixou de ser “privilégio dos intelectuais”
para ocupar os folhetins.
Nas novelas da TV incidiram vilões de destaque terminando a trama “de boa” (como se diz aqui na Bahia), e protagonistas com personalidade
dúbia (heróis/vilões), tendo em si qualidades e defeitos antagônicos.
“Isso é apenas pura reprodução da
realidade”, defendem os realistas.
“Mas a vida já tem tanta miséria,
porque ver miséria na novela também?”, questiona os amantes da ficção ficcional
(perdão pela redundância).
Mas, o que é conto de fadas e o
que é realidade?
Depoimento de James Hetfield em cena do Documentário Some Kind Of Monster -
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Por volta do minuto 63 do documentário Some Kind of Monster, após sair de
uma rehab, James Hetfield, frontman do Metallica, faz uma fala
reflexiva.
Após exibir cenas de James
buscando a filha no balé, o documentário mostra um depoimento dele sobre sua
“previsível” vida anterior.
Diz o vocalista: “Acordava no dia
seguinte em alguma cama e não sabia quem estava ao meu lado, estava bêbado, de
ressaca e tinha um show a fazer. O resultado é igual. Sabe como é? A vida agora
é empolgante. Não se sabe o que vai acontecer quando você está de cara limpa,
vivendo o aqui e agora”.
Em geral, costumamos buscar a empolgação
em algum entorpecente. E, pelo seu depoimento, James Hetfield parece ter
encontrado o “grande barato” numa vida familiar cotidiana.
Quantos, mundo a fora, não sonham
em viver o “conto de fadas” atribuído ao mundo artístico? Shows, aplausos,
curtição, bebedeira e muito sexo...
Diante da chamada crise política
do Brasil atual, o perfil do twitter
do House Of Cards, série do Netflix,
certamente inspirada no modus operandi da política estadunidense, desabafou:
“tá difícil competir”. E o perfil da Netflix interagiu: “Eu até tentaria, mas
se eu reunisse 20 roteiristas premiados não conseguiria chegar numa história a
essa altura”.
Ao longo da nossa história,
envolta a fábulas, estória oral, teatro, literatura, cinema, entre outras
manifestações artísticas, vida e arte tem vivido em mímesis. É uma imitando a
outra. Elas se misturam, se provocam, se amam e se enroscam.
Para uns, vale a expectativa da
felicidade e do casamento perfeito no final entre o mocinho e a mocinha. Para
outros, “não tem beijo final
e não vai ter happy end”.
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2 comentários:
Caro Ŕó,
Concordo com a "bravura" do texto, embora a "busca da felicidade" tenha sido a razão do meu viver. Não apenas a Felicidade oferecida pelo Amor, mas aquela desejada pelo sub-consciente: a que nos proporciona vida plena, realizações no ápice, amizades a nós proteger e alegria por estar vivo e consciente.
Parabéns mais uma vez.
Juracy Paixão j
Massa, Robertinho. Bela reflexão.
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