“Olha a chuva! Passou...”
A volta de um dia ensolarado,
depois de uma semana chuvosa na capital baiana, lembrou-me o São João. A festa,
tão esperada, agora está longe novamente. “Nem se despediu de mim”, chegou e
saiu rapidinho.
Demorada foi a viagem pra viver o
São João. No período, quando centenas de milhares saem da capital para o
interior da Bahia, o engarrafamento na BR 324 já está mais tradicional do que a
fogueira.
Em meio ao “cardume”, formado
pelas milhares de “sardinhas de lata”, estando eu (dentro de uma delas) a “navegar”
lentamente naquele “rio negro” da Vasco Filho, a mente pescava pensamentos
diversos e me fazia refletir a situação e suas causas.
Reflexões conduzindo a constatações obvias: “A Bahia só tem uma
metrópole!”, comentei.
A soterópolis é a única cidade
com mais de 1 milhão de habitantes do Estado. Ela já tem quase três vezes esta
marca, enquanto o segundo maior município baiano (Feira de Santana) ainda não
chegou a 700 mil.
E, vale destacar, 80% dos
municípios da Bahia, assim como o meu torrão iraraense, não chegam aos 30 mil
habitantes.
Tão desigual quanto a
distribuição do povoamento é a repartição da produtividade econômica pelo
território baiano. Para perceber o disparate desta, basta uma rápida olhada em
um mapa disponível no sítio eletrônico da Secretária Estadual de Planejamento.
Mapa Territórios de Identidade - Reprodução
O Território Metropolitano de
Salvador concentra 77,9% da arrecadação de ICMS (Imposto de Circulação de
Mercadorias) prevista para o quadriênio 2016-2019.
O Portal do Sertão, onde quem
reina é a princesa Feira de Santana, tem a segunda concentração, com distantes
4,68%. Na sequência vem o Território Litoral Norte e Agreste Baiano, onde
Alagoinhas está localizada, com 4,36% da previsão de arrecadação do imposto.
Agora observem que todos os
outros 24 Territórios de Identidade do Estado alternam-se em valores entre zero
virgula alguma coisa (0,x) e um virgula qualquer tanto (1,y) de porcentagem da
arrecadação estadual de ICMS.
Salvador e cidades próximas são
mais desenvolvidas. E as pessoas, como cantavam os Lampirônicos, são atraídas a
capital para buscar o capital (e outras “cositas” mais). À procura de emprego,
na caça por estudos, garimpando oportunidades, na luta pela sobrevivência...
Há muito se fala em desenvolvimento dos pequenos municípios.
Fixação do homem no campo, melhorias na infraestrutura das cidades menores,
surgimento de outras metrópoles no Estado, etc.
Muitos defendem a atração de
indústrias para o desenvolvimento das cidades menores. Pregam a liberação de
recursos e concessões diversas para seduzir empreendimentos fabris, médios ou
pequenos, a instalarem unidades no interior.
A medida já tentada em alguns lugares
foi como ouro de tolo. As unidades chegaram, levaram alguns subempregos e
tiraram seus lucros. Depois, por qualquer tendência econômica, fecharam as
portas e deixaram um cenário de abandono e desemprego. Aí Tiriricou: “pior do
que tava, ficou”.
Urge o encontro de um caminho para o desenvolvimento do interior.
Um rumo guiado por estratégias lastreadas pelo potencial dos próprios
municípios. Um horizonte destinado a prosperidade equitativa da Bahia. Um norte
para termos geração de renda espacialmente distribuída em nosso estado.
Naquele 23 de junho, véspera do
São João, a minha constante vontade de ver estes caminhos percorridos gritavam
em meus pensamentos enquanto eu tomava o meu “caminho da roça”.
4 comentários:
Reflexão verdadeira. Pena que não depende só de nos para melhorar isso😞
Pois é mano. Mas respeitar as potencialidades de cada Rincão vai de encontro à lógica capitalista: impor tendências para lucrar cada vez mais e mais rápido.
Caro Ró,
Abordastes, com a argúcia e a clareza que possues, a realidade de nosso Nordeste Querido.
A concentração de renda é útil para poucos e maléfica para a maioria.
Parabéns mais uma vez por tua habilidade literária.
Juracy Paixão
Caro Ró,
Mais uma vez usas tuas habilidades literarias para abordar o imprescindível. E o fazes com maestria.
Esse tema precisa ir às escolas, às redes sociais, à imprensa. É uma "doença" nordestina, já quase chegando à fase terminal.
Parabéns! !
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