“Mas um batedor não come na mão de ninguém/
Nosso combustível é som/
Não aquele que as donas de casa
disputam nas prateleiras dos magazines incorporados/
Só porque já ouviram um milhão de vezes/
Nos templos sagrados de San Nike”
Trecho da Letra de “Batedores”, música do Álbum “Por Pouco” do Mundo Livre S/A.
Nosso combustível é som/
Não aquele que as donas de casa
disputam nas prateleiras dos magazines incorporados/
Só porque já ouviram um milhão de vezes/
Nos templos sagrados de San Nike”
Trecho da Letra de “Batedores”, música do Álbum “Por Pouco” do Mundo Livre S/A.
Sexta-feira, 09 de junho, um bate papo na Facom (Faculdade de Comunicação) – UFBA. Da mesa Fred Zeroquatro, vocal do Mundo Livre S/A e Alexandre Matias, jornalista da Gravadora Trama, atiravam as suas idéias. Na platéia um público disposto a ouvir as considerações de ambos sobre os “ataques do fronte”, uma discussão acerca de música independente, industria musical, proliferação de bandas na internet e outras coisas do gênero.
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Voz calma, pausada, óculos pretos e de armação grossas, junto ao tradicional chapéu. Zeroquatro começa lembrando do passado e a dificuldade que as bandas tinham para difundir o som. Lembra os grupos do movimento punk, as fitas cassetes, os zines de mimeografos e relata a vontade de se expressar que todos tinham. “Era mais um grito do que música”, confessa o pernambucano. Logo depois fala do cenário atual, diz que sente a coisa mais democrática, apesar da dificuldade com alguns critérios.
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Matias entra na fala. Também comenta a revolução punk, retomando o “faça você mesmo” daqueles tempos. Assim como já fazem alguns estudiosos, trás o conceito pra a chamada revolução digital. Lembra dos blogs, fotologs, bandas disponibilizando músicas a doidado na rede. Só no site do Trama Universitário são 53 mil donwloads disponíveis. “O grande barato é poder colocar as suas opiniões no ar”, diz o jornalista, complementando que “as pessoas estão gostando de produzir informações, mesmo sem saber se tem gente lendo ou não” (me senti contemplado, rs, rs, rs).
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O debate na verdade, não era uma coisa seqüencial. Os dois falavam, comentavam a fala do outro e tentavam não dá espaço para a formalidade. Tratavam como se não tivesse minutos, tempo para o orador ou qualquer coisa do tipo. Era tudo meio sampleado, assim mesmo.
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Ai a platéia entra no samba. Antes da pergunta, o jovem dá uma de tiete e confessa: “adoro as músicas do mundo livre, gosto muito das letras e tal...” Fred Zeroquatro interrompe com um gracejo: “tem gosto pra tudo”. Risos no auditório.
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Outro colega quer saber como fica a Gravadora Trama diante das novas configurações. Do creative commons, da facilidade de copiar discos, do universo de musicas disponíveis na internet, etc, etc.
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Alexandre Matias responde. Ele explica que mais que uma gravadora, a Trama é uma empresa de música. Diz que somente disco e DVD não paga as contas. Por isso a empresa busca interagir com as novas formas de produção musical. “Um pé no mercado anterior e outro no que vai acontecer” atesta. Recorre a alguns números para dizer que “não há uma crise na indústria da música, mas sim na indústria do disco”.
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Resolvo entrar na festa. Começo falando em abrir espaços para bandas locais em eventos como o promovida pela Trama, com o Mundo Livre e Cordel do Fogo Encantado, no dia seguinte. Antes que termine a questão. Alexandre responde que vai ter um grupo soteropolitano sim. Tento continuar. Falo das bandas no mundo presencial, os sem internet, os que não conseguem chegar aos produtores. Vou até a mesa e entrego um CD demo do Solo Pedregoso a cada um deles. Na verdade, esta era a minha intenção, por isso me atrapalhei na pergunta.
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O ato de entregar aquela demo, ali presencialmente, num mundo onde as coisas são baixadas ou enviadas por e-mail, parece que não desagradou o público. Houve quem aprovasse aquele ato de “auto-publicação”. Fred levantou o CD e falou “Solo Pedregoso”. Em seguida fez o comentário sobre a importância do perfil empreendedor das bandas.
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Graduado em Comunicação Social, Zeroquatro afirmou que o músico hoje também precisa ser um pouco administrador. Saber gerir seu próprio negócio. Falou que o ideal é estimular que cada um tenha o seu próprio selo musical. Lembrou que numa única festa que tocou em Salvador vendeu 120 discos, coisa que, na época, não havia vendido seis meses nas lojas da cidade. Alexandre fez alguns comentários. O celular de Fred tocou. O ringtone não é o cavaquinho do Mundo Livre, mas sim a musiquinha da moça do Balcão BPN da Insinuante. Tem gosto pra tudo.
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Quando Alexandre Matias conclui e após atender a ligação, Zeroquatro retoma o microfone. Diz que tem várias bandas de conhecidos que ele queria dar uma força, salientando não ser tão simples assim. Lembra das rádios da política de massificação praticada por elas. “Sabe aquela música que você acha ruim, mas ouviu e ficou martelando na sua cabeça? É isso, o público menos criterioso acaba achando que a música é boa porque não consegue esquecer”. Exemplifica ao tempo que questiona: “Será que aquilo não é um jingle da gravadora disfarçado de música?”
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Muitos outros assuntos foram debatidos. A preferência por baixar as músicas e não o álbum das bandas na net. Questões de política internacional, tema recorrente em algumas letras do Mundo Livres S/A. Temas da mídia e da manipulação de informações.
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Zeroquatro lembrou o ocorrido com MLST em Brasília. Disse conhecer o Bruno Maranhão, um sujeito sangue bom e não aquela figura que a mídia tava tentando personificar. Salientou que a coisa é tão bem feita que até sua esposa, parente de Maranhão, quase se deixar levar pelo conteúdo da reportagem, na qual o Movimento não teve direito a voz.
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Questões políticas, sócias, culturais, todas elas estiveram presentes naquele debate. Do front e no confronto de idéias e percepções saímos todos ainda mais reforçados. No matulão de nossas cucas, a noção de que podemos ser batedores pela construção de um mundo livre.
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