5.6.06

Enfim, o calçamento da Oito de Agosto

A data era 27 de maio, feriado municipal, dia em que se comemora a emancipação política de Irará. O local era a Rua Oito de Agosto, aquela que começa na Praça da Bandeira (Coreto), ao lado da agência do Banco do Brasil, e segue até a ladeira do Alambique. Não me recordo o ano, mas foi na década de noventa que, cansados de esperar pelo pavimento da rua, os moradores da Oito de Agosto resolveram reclamar.
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O protesto foi feito de modo bastante criativo, em forma de uma faixa. Na data de aniversário da cidade o escrito apenas afirmava: “Rua Oito de Agosto, 154* anos sem calçamento”. Nada de falar do prefeito, de vereador ou de quem quer fosse. Simples e direto, o texto do tecido afixado bem no local onde o calçamento terminava (nas proximidades do Bar de D. Luiza), mostrava o desrespeito histórico para com aquela parte da cidade. De tantos personagens e movimentos do Irará.
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Por aquele trecho passaram todos que iam até a fonte da nação lavar roupas ou buscar água. Ali, por onde se sai de Irará para ir até o povoado da Caroba, um dos mais antigos do município, passaram muitas pessoas em busca da cachaça do alambique. Outras tantas percorreram aquele espaço para jogar ou assistir futebol no “Estádio” Elpidio Nogueira, popular campo de Telê. Lá também já esteve localizado o cemitério da cidade. E atualmente a delegacia. Naquela rua viveu Alfredo da Luz e lá ele montou o estúdio do seu Serviço de Alto de Falante “A Voz da cidade”.
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Ainda que não fossem todas estas referências, a Rua Oito de Agosto sempre mereceu o respeito do poder público. Pois, além de estar localizada no que poderia se chamar de “centro-histórico” de Irará, ali residem várias famílias, as quais sentem o desgosto de viver na poeira, estando em área central da cidade. E deve mesmo ter sido isto que motivou os moradores, na época, a escrever aquela faixa. Um protesto criativo assim como foi nos anos 1950, se não me engano, a canção que Tom Zé compôs cobrando o prometido calçamento ao prefeito José Valverde.
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Faixa estendida, protesto feito, mas nada de obra. Em sendo a data, meados dos anos noventa, passaram três governantes municipais, que não providenciaram o pavimento para rua. Mas agora, o problema pode ser solucionado. O governo atual, do Prefeito Juscelino Souza (PP), a Rua Oito de Agosto começa a assistir as obras para a sua tão sonhada pavimentação. Bem verdade que não é nenhuma obra suntuosa, sim um pequeno trecho de rua a ser calçada, mas que os outros governos não tiveram a sensibilidade de fazê-lo. Pode ser que a pavimentação esteja pronta no dia 08 de agosto, data que empresta o nome à rua e que se comemora o decreto de 1895 que elevou Irará a categoria de cidade.
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Deu roupa nova a quem tava vestido, esqueceu quem tava nu

No governo anterior, do Prefeito Amaro Bispo (PHS), a Rua Oito de agosto sentiu-se próxima do calçamento. No último ano do seu mandato, Bispo promoveu reformas de pavimentação nas ruas 27 de Maio e Alberto Nogueira. Esta última, conhecida popularmente como “Quixabera” ou “Coréia”, faz esquina com a Oito. Todas elas, ruas históricas da cidade.
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Das três, somente a Oito de Agosto não era pavimentada. As outras duas, com cobertura antiga, estavam com o ladrilho precisando de recomposição em alguns trechos. O piso das ruas era feito à base de pedras e não dos chamados paralelepipados que cobrem as demais áreas da cidade. De tal forma, as ruas eram algumas das pouquíssimas a ainda resguardar o caráter centenário da cidade. No entanto, o perfil histórico foi desconsiderado pelo Prefeito Amaro, que retirou todo o pavimento de pedras antigas colocando paralelos em seu lugar. E enquanto isso, a Oito de Agosto continuou sem pavimento algum, apesar da esperança dos moradores, devido ao monte de paralelos que estavam armazenados nos fundos do Sobrado dos Nogueiras.
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Agora que a prefeitura municipal de Irará trabalha na pavimentação da 08 de Agosto, fica uma dúvida. Será que o governo também vai “resgatar” o antigo calçamento das outras? É uma idéia difícil de se imaginar, devido ao alto investimento e dificuldade de recomposição do assoalho, mas como “resgate” é uma palavra que tão na moda ultimamente... Não é de estranhar se de repente surgir a idéia de “resgatar” as pedras da Quixabeira.
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* Usei 154 como número aproximado, realmente não lembro quantos anos de emancipação estavam comemorando.

2 comentários:

Anônimo disse...

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