enviado para iraraense@yahoogrupos.com.br em 08 de fevereiro de 2006.
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Para muitos, talvez fosse apenas mais um bar da cidade. Para outros, um local memorável, onde devem ter acontecido muitos causos do Irará. A sua arquitetura não era exuberante, nem demonstrava grandes artifícios de beleza, mas conservava em si status de tempos de outrora, de saudades e recordações.
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Na minha infância, costuma passar em frente aquele bar, nas idas e vindas no trajeto casa/escola. Sim, dobrar a esquina do Carecanto esteve, e ainda esta, no meu roteiro pelas ruas de Irará. Só que agora, não há mais o Carecanto, tão somente a esquina, de teimosa, insiste em permanecer.
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Lembro-me de quão surpreso fiquei ao saber, por uma placa de sinalização, que ali no encontro entre Praça da Purificação dos Campos e beco de Sr. Elisio começa a rua Pompilio Santana. O beco é, portanto, um prolongamento da rua onde sempre morei, cujo itinerário passa pela a AABB e vai até o Loteamento José Barbosa Caribé. Tal Caetano em Sampa revela-me alguma emoção no encontro entre Pompilio Santana e Praça da Purificação.
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Noutro dia cheguei por ali e nada entendi. A dura poesia concreta do progresso havia levado ao chão um marco daquela esquina, o Carecanto. A quadra dedicada à padroeira da cidade, noutros tempos denominada Praça do Comércio, já é pequena para as atividades comerciais. O comércio então avança Rua Cel. Coronel Elpidio Nogueira (antiga rua direita) acima, transformando, aos poucos, o patrimônio arquitetônico do centro da cidade em portas de chapas metálicas.
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Na mesma semana foi derruba a antiga casa de Sr. Lúcio, próximo ao Banco do Brasil. Vale lembrar que onde hoje é a agência bancária, um dia funcionou, segundo relatos dos mais antigos, um belo prédio que abrigava a antiga prefeitura, namorada do jardim da Praça da Bandeira com seu coreto. Nesta mesma praça, na esquina de frente para o banco, onde um dia esteve a casa de Sr. Zé Freitas, com suas muitas janelas, surge uma nova Farmácia. A edificação já aponta o seu letreiro luminoso, disposto num enorme painel.
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Loja farmacêutica é também o empreendimento a ser erguido no terreno onde um dia funcionou o Carecanto. Farmácia, junto a supermercado e funerária, parecem mesmo ser os segmentos comerciais que mais prosperam em Irará. Diante da evidência, um leve toque de sociologia parece avaliar o nível de vida na comunidade. Comer, adoecer, morrer. Não prosperam novas alternativas para os jovens. Não prospera o nível social iraraense. Não há políticas de valoração e construção do patrimônio arquitetônico e nem mesmo cultural. Nada!
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Alguém tentou convencer o dono da Farmácia a não demolir a estrutura do antigo Carecanto. Mas foi em vão. O empresário foi reticente diante dos argumentos de que os traços da edificação dariam um charme a mais para o seu comércio, bastando apenas reforma-la. Argumentos rebatidos, o Carecanto foi ao chão. E assim foi desmanchado o cenário, escolhido pela TV para servir de fundo para a entrevista de Sr. Antônio Luiz, quando da produção do programa dedicado a Tom Zé, organizada pela afiliada soteropolitana da Rede Globo.
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O Vídeo Tape da TV contem as imagens e a lembrança retém o balcão, os banquinhos giratórios e as prateleiras com as diversas garrafas de bebidas. É certo que o Carecanto já não era mais o Carecanto. A nostalgia estava presente somente no prédio, o qual deveria ser preservado, pois ao longo dos tempos o bar foi trocando de dono e até mesmo de nome.
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A nomenclatura tradicional e já há algum tempo esquecida, foi resultado de um concurso. Uma disputa que na época empolgou a cidade e se revelou um evento sócio-cultural. Em meio a tantos nomes inusitados e até estrangeirismos, venceu o que homenageava o dono do bar ao traduzir a paragem como “o canto do careca”, daí “Carecanto”.
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E pela “força da grana que ergue e destrói coisas belas”, o Irará a cada dia ver minimizadas suas características de cidade centenária. Já abordei esse tema num outro texto*. No entanto, acredito que sempre vale a pena lembrar. Ao menos enquanto ainda podemos e nossas mentes não forem alcançadas pela lógica do consumo, na qual, os valores éticos e estéticos estão sempre submissos aos financeiros.
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* A questão do traço arquitetônico da cidade foi abordada em “Centenária tradição memória efêmera”, publicado na Gazeta de Irará em maio de 2004.
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Para muitos, talvez fosse apenas mais um bar da cidade. Para outros, um local memorável, onde devem ter acontecido muitos causos do Irará. A sua arquitetura não era exuberante, nem demonstrava grandes artifícios de beleza, mas conservava em si status de tempos de outrora, de saudades e recordações.
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Na minha infância, costuma passar em frente aquele bar, nas idas e vindas no trajeto casa/escola. Sim, dobrar a esquina do Carecanto esteve, e ainda esta, no meu roteiro pelas ruas de Irará. Só que agora, não há mais o Carecanto, tão somente a esquina, de teimosa, insiste em permanecer.
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Lembro-me de quão surpreso fiquei ao saber, por uma placa de sinalização, que ali no encontro entre Praça da Purificação dos Campos e beco de Sr. Elisio começa a rua Pompilio Santana. O beco é, portanto, um prolongamento da rua onde sempre morei, cujo itinerário passa pela a AABB e vai até o Loteamento José Barbosa Caribé. Tal Caetano em Sampa revela-me alguma emoção no encontro entre Pompilio Santana e Praça da Purificação.
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Noutro dia cheguei por ali e nada entendi. A dura poesia concreta do progresso havia levado ao chão um marco daquela esquina, o Carecanto. A quadra dedicada à padroeira da cidade, noutros tempos denominada Praça do Comércio, já é pequena para as atividades comerciais. O comércio então avança Rua Cel. Coronel Elpidio Nogueira (antiga rua direita) acima, transformando, aos poucos, o patrimônio arquitetônico do centro da cidade em portas de chapas metálicas.
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Na mesma semana foi derruba a antiga casa de Sr. Lúcio, próximo ao Banco do Brasil. Vale lembrar que onde hoje é a agência bancária, um dia funcionou, segundo relatos dos mais antigos, um belo prédio que abrigava a antiga prefeitura, namorada do jardim da Praça da Bandeira com seu coreto. Nesta mesma praça, na esquina de frente para o banco, onde um dia esteve a casa de Sr. Zé Freitas, com suas muitas janelas, surge uma nova Farmácia. A edificação já aponta o seu letreiro luminoso, disposto num enorme painel.
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Loja farmacêutica é também o empreendimento a ser erguido no terreno onde um dia funcionou o Carecanto. Farmácia, junto a supermercado e funerária, parecem mesmo ser os segmentos comerciais que mais prosperam em Irará. Diante da evidência, um leve toque de sociologia parece avaliar o nível de vida na comunidade. Comer, adoecer, morrer. Não prosperam novas alternativas para os jovens. Não prospera o nível social iraraense. Não há políticas de valoração e construção do patrimônio arquitetônico e nem mesmo cultural. Nada!
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Alguém tentou convencer o dono da Farmácia a não demolir a estrutura do antigo Carecanto. Mas foi em vão. O empresário foi reticente diante dos argumentos de que os traços da edificação dariam um charme a mais para o seu comércio, bastando apenas reforma-la. Argumentos rebatidos, o Carecanto foi ao chão. E assim foi desmanchado o cenário, escolhido pela TV para servir de fundo para a entrevista de Sr. Antônio Luiz, quando da produção do programa dedicado a Tom Zé, organizada pela afiliada soteropolitana da Rede Globo.
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O Vídeo Tape da TV contem as imagens e a lembrança retém o balcão, os banquinhos giratórios e as prateleiras com as diversas garrafas de bebidas. É certo que o Carecanto já não era mais o Carecanto. A nostalgia estava presente somente no prédio, o qual deveria ser preservado, pois ao longo dos tempos o bar foi trocando de dono e até mesmo de nome.
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A nomenclatura tradicional e já há algum tempo esquecida, foi resultado de um concurso. Uma disputa que na época empolgou a cidade e se revelou um evento sócio-cultural. Em meio a tantos nomes inusitados e até estrangeirismos, venceu o que homenageava o dono do bar ao traduzir a paragem como “o canto do careca”, daí “Carecanto”.
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E pela “força da grana que ergue e destrói coisas belas”, o Irará a cada dia ver minimizadas suas características de cidade centenária. Já abordei esse tema num outro texto*. No entanto, acredito que sempre vale a pena lembrar. Ao menos enquanto ainda podemos e nossas mentes não forem alcançadas pela lógica do consumo, na qual, os valores éticos e estéticos estão sempre submissos aos financeiros.
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* A questão do traço arquitetônico da cidade foi abordada em “Centenária tradição memória efêmera”, publicado na Gazeta de Irará em maio de 2004.
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